sexta-feira, 3 de junho de 2011



03 de junho de 2011 | N° 16719
PAULO SANT’ANA


Casamento à distância

O caso aconteceu com um amigo meu.

O homem e a mulher, namorados, apaixonaram-se perdidamente um pelo outro e decidiram casar-se.

Mas ambos eram muito inteligentes e chegavam a ser filósofos, tal a compreensão extremada que tinham da vida.

Principiou por um entendimento entre ambos: eles tinham de concentrar todos os esforços para que aquele amor imenso, deleitoso, extraordinário que se tinha instalado entre eles nunca viesse a ter fim.

Foi quando meu amigo propôs à namorada que eles celebrariam um casamento diferente: só se encontrariam, pelo resto da vida, às quartas-feiras e aos sábados.

Com isso evitariam de encontrar-se cinco dias por semana e enxotariam do quadro das possibilidades conjugais a hipótese concreta de que viriam a fartar-se depressa um do outro e trombariam assim com a fadiga dos metais.

A namorada de meu amigo disse que era brilhante aquela ideia, mas ela tinha uma melhor.

Para que nunca houvesse o fastio conjugal de perturbar aquele casamento, ela propunha que os dois não se encontrassem no exótico casamento duas vezes por semana: ela propunha que não se encontrassem nenhuma vez por semana.

Meu amigo, inteligentíssimo, topou desde logo a ideia e, daquele dia em diante, nunca mais se encontrou com sua amada.

Faz um ano que eles constituem um casal totalmente extravagante: nunca se encontraram depois do casamento.

Continuam apaixonados um pelo outro e tudo indica que morrerão eternamente apaixonados um pelo outro.

O lema do casal: a melhor maneira de separar duas pessoas é juntá-las.

Já esta ave encantadora que é o beija-flor resolveu a questão conjugal com maior desenvoltura e convicção.

No ninho do beija-flor, há sempre um número ímpar de habitantes.

Ou o ninho tem um beija-flor macho e duas beija-flores fêmeas ou o contrário: dois machos e uma fêmea.

Com isso, a genialidade do beija-flor leva-o a evitar o confronto direto entre um casal, há sempre uma fêmea ou um macho como juízo arbitral do que se passa no ninho.

Os ornitólogos dizem que a seleção entre o trio que integrará o ninho se dá por convivência, enquanto vão sugando os néctares das flores, os beija-flores solteiros ficam namorando entre si e vão se formando os trios que integrarão os ninhos.

Afirmam também os ornitólogos que o trio de beija-flores de um ninho, depois de dois meses, faz uma eleição e um dos integrantes é convidado a deixar para sempre o ninho, sendo substituído por outro beija-flor de outro ninho.

Sendo assim, é garantida a sucessividade contínua dos trios, ou seja, nunca ninguém está garantido em sua posição, poderá a qualquer momento ser expulso do ninho por dois sufrágios.

Os animais, em matéria de sexo e matrimônio, parecem ser mais evoluídos que os humanos.

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