terça-feira, 6 de abril de 2010



06 de abril de 2010 | N° 16297
MOACYR SCLIAR


O crack é mais que uma droga

O 7 de abril, Dia Mundial da Saúde, terá este ano como tema a cidade e a saúde. A Organização Mundial da Saúde, que promove o evento, salienta o fato de que a maior parte da população mundial hoje vive em cidades – grandes cidades – e que a acelerada urbanização está associada a graves riscos para a saúde.

É o caso da mortalidade resultante da violência, que, no Brasil, está agora se deslocando para os centros urbanos menores. Um dos fatores que contribuem poderosamente para a violência é o uso de drogas, sobretudo do crack, cujo consumo cresce exponencialmente.

Justificam-se, portanto, todas as iniciativas públicas e privadas para conter o que já se configura como prioritário problema social e de saúde pública; disso é um belíssimo exemplo a campanha comunitária lançada pelo grupo RBS, com apoio de numerosas instituições, inclusive da área de saúde.

O crack não é apenas uma droga. É o resultado de uma ilusão perigosa, associada ao uso de substâncias como o ópio, o haxixe, o tabaco.

Nos anos 60, época da contracultura, dos protestos contra a guerra do Vietnã, da nova esquerda, dos hippies vivendo em comunas, os anos dos cabelos compridos, de Woodstock, da liberação sexual, as drogas foram vistas como forma de libertação pessoal e social, e endossadas inclusive por intelectuais.

Mais tarde, o uso se generalizou; executivos começaram a fazer uso da cocaína, como forma de estímulo psicológico. E o tráfico passou a ser administrado por gangues organizadas, capazes de fazer qualquer coisa para tirar o dinheiro dos dependentes. O crack, prático, relativamente barato, é um produto ideal para esse tipo de comércio.

Evitar o consumo é um passo importante para resolver o problema. Mas isso não pode ser feito apenas pela repressão. É preciso saber o que as pessoas buscam no crack, o que as motiva nessa busca. No caso dos jovens, trata-se em geral do desamparo, da falta de perspectivas.

O dependente (procurem não usar o estigmatizante termo “drogado”, que equivale a um veredicto) é o elo fraco na cadeia familiar e social, o elo que se rompe em função das tensões geradas na vida em comum.

Daí a busca da droga, que, como toda substância que é ingerida ou aspirada, pode representar uma gratificação fácil, de caráter basicamente infantil. Se os pais tiverem isso em mente, procurarão, no contato com os filhos, na conversa franca e afetiva, proporcionar-lhes o apoio que desesperadamente buscam.

O primeiro passo para a mudança é a informação, base da campanha da RBS. Em função da informação, as pessoas tomarão uma atitude e, em função dessa atitude, rejeitarão comportamentos de risco.

Crack? Nem pensar. Temos de guardar a nossa capacidade de pensar – aquilo que faz de nós humanos – para encontrar as coisas que podem melhorar a nossa vida e a vida de outros.

Recebi, do professor Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, uma atenciosa carta comentando a ainda recente visita de Lula a Israel, em especial as controvérsias que a cercaram – mas que não obscurecem o fato fundamental: esta primeira visita de um mandatário brasileiro ao Estado judeu é um importante passo na direção da paz.

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