quarta-feira, 1 de outubro de 2008



01 de outubro de 2008
N° 15745Al - DIANA CORSO


Estrangeira digital

Na minha infância, a tevê tinha hora para começar e outra, triste e trágica, para terminar. Agora ela está sempre lá, disponível a qualquer hora em que a solidão ou a falta de sentido da vida bater.

Graças a ela, os desesperados têm um balcão de bar sempre a mão para embriagar a alma exausta. Mais do que a televisão, agora existe a rede, a web, a internet, a teia, a trama que nos liga a todos e a tudo a qualquer hora.

Claro que eu queria fazer parte, não queria ser deixada aqui sozinha enquanto todos conversavam em outro lugar. Curiosa, estive até no Orkut por um tempinho, sou viciada em correspondência virtual, o Google tornou-se meu oráculo e salvo tudo o que importa na rede. Só que nesse lugar tão eloqüente, onde comunicar-se é preciso, descobri-me novamente estrangeira.

Nasci no Uruguai e aprendi português com seis anos, foi um inferno lidar com todos aqueles “ãos” e “és”, não me agrada a idéia de passar por isso tudo novamente. É diferente quando se estuda uma língua para viajar, por trabalho ou por lazer, não é tão ruim falar gozado nesses casos.

Mas quando a gente precisa morar em algum lugar, o sotaque envergonha. Dia desses, comentei que buscaria alguma coisa “na rede” e minha filha achou graça. Não falei nada errado, mais havia um sotaque estrangeiro na minha expressão que ela sentiu. Foi como se pisassem num velho calo.

No pasarán! Resolvi me instalar nesse novo planeta, mesmo falando gozado. Com meu marido, compramos um terreno e construímos casa, ou seja, fizemos um site (www.marioedianacorso.com), para dentro desse lugar levamos mais de uma década de trabalho.

Criamos um blog (www.clicrbs.com.br/terradonunca), onde experimentamos opinar sem tanto medo do leitor. Mas não há como esquecer que mais de 90% dos blogueiros têm entre 13 e 29 anos e nós temos quase meio século... Nunca seremos nativos digitais.

Nossos pais e avós tinham no rádio um lugar de informação e lazer, as ondas curtas davam-lhes a idéia do mundo em suas mãos. Minha geração nasceu com e para a televisão, apesar de sua ausência durante insuportáveis horas.

Nossos filhos já chegaram ao mundo linkados uns com os outros, identidade para eles é perfil, home para eles é página inicial, e não deixam de ser nosso backup...

Como meus avós que eram húngaros em terras americanas, como meus pais que falavam português de um jeito diferente, ao freqüentar “a rede” terei que suportar, outra vez, ser uma estranha.

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