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quarta-feira, 1 de outubro de 2008
01 de outubro de 2008
N° 15745 - PAULO SANT’ANA
Sangue-frio?
Entendo muito pouco de economia e menos ainda de bolsas de valores.
Mas confesso que as tintas com que pintam esta crise financeira que subitamente se abateu sobre os Estados Unidos me assustaram.
Porque os governantes brasileiros, tão logo espocou a crise, vieram para a televisão para dizer que o Brasil está firme e sólido, que os efeitos dessa depressão nos bancos e nas bolsas norte-americanas, com reflexos em todo o mundo, de tal sorte que na Europa já existem países socorrendo bancos ou estatizando-os, iriam passar longe do Brasil.
Nos dias seguintes, viu-se que não era bem assim, que o Brasil sofrerá, sim, com esta crise.
Eu só não entendi bem até que profundidade o Brasil sofrerá com este desastre.
Vejo especialistas dizendo que o crédito vai mudar no Brasil, que vai custar mais caro, que os juros sobre financiamentos, principalmente os de longo prazo, vão subir e que, pior que isso, como o crédito se retrairá, pode decretar uma recessão aqui no Brasil, que por sinal já é dada como certa nos EUA.
As notícias não são boas, pelos indícios que se apresentam diante de nossos olhos e ouvidos no rádio e na televisão.
Quando os entendidos em bolsas de valores, diante do assustador despencamento das ações de todas as empresas, inclusive das âncoras do Ibovespa, a Petrobras e a Vale do Rio Doce, aconselham os investidores que possuem ações a não realizar o seu investimento, isto é, não vender os seus papéis, sinto um frio no abdômen:
como pode uma pessoa que está assistindo a seu patrimônio quase virar pó não se retirar do mercado de ações e tentar direcionar o capital que ainda lhe resta para outro tipo de investimento?
Os entendidos afirmam que, nesta hora, os investidores têm de se comportar com sangue-frio, coragem e paciência. Ou seja. Não podem vender suas ações, têm de apostar em que a crise será superada e voltarão os tempos de bonança nas bolsas. E acrescentam que a longo prazo os investidores não terão prejuízo.
Mas qual será este longo prazo, se existem opiniões que dizem que depois desta catástrofe seriam necessários cinco anos para recompor os prejuízos nas bolsas?
Quem pode esperar cinco anos para recompor uma desvantagem ocorrida em menos de 30 dias, além do que “recompor” implica ausência de lucro? Quem?
E cá para nós, quem investe seu dinheiro, além do risco que isso significa, ainda tem de ter coragem, sangue-frio, paciência e outras virtudes e atributos só exigidos dos heróis e dos mártires para manter-se no mercado?
Eu pensei que a única exigência era ter dinheiro, mas ainda tem de possuir sangue-frio? Parece que estão convocando os investidores para uma batalha ou uma guerra, quando não devia passar de um negócio.
Confesso que estou assustado. Ninguém me garante por exemplo se esta funesta crise não vai baixar o nível de emprego no Brasil.
E ninguém com segurança até agora, entre todos os autores de palpites que a imprensa entrevista, foi capaz de indicar caminho para uma coisa simples mas fundamental, por exemplo, neste momento: é hora ou não de investir em imóveis como fuga do mercado de capitais?
Pois, acreditem, ninguém disse sequer uma palavra sobre isso. Deve ser porque todos estão em pânico e confusão intelectiva.
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