terça-feira, 6 de maio de 2025


06 de Maio de 2025
NILSON SOUZA

Canetas mágicas

Somos criaturas fabuladoras, já disse Vargas Llosa, o escritor peruano que nos deixou recentemente, ele próprio um imenso fabulador. Gostamos de sonhar, de imaginar coisas, de fazer de conta que os seres inanimados têm vida própria e que os seres vivos são imortais. Não somos. No fundo de nosso cérebro sabemos disso, mas é melhor não pensar muito sobre essa condenação à finitude porque ela sempre nos parecerá injusta. Viva a ilusão.

Li outro dia um conto infantil em que o menino personagem completa 10 anos e ganha de presente de sua fada madrinha, que aparece no meio do seu sonho, uma canetinha insignificante. O garoto fica decepcionado. Se a fada só existe porque ele acredita nela, como tem coragem de aparecer com um presente daqueles? Ele esperava, no mínimo, uma bicicleta. Gentilmente, a fada pede que ele desenhe uma bicicleta com a caneta presenteada. E o desenho se transforma numa bicicleta de verdade.

É divertido, mas ninguém ignora que canetas mágicas com tamanho poder só existem na ficção. Como apelo de marketing até funciona. Magia vende. Porém, as que ostentam comercialmente esse nome servem, no máximo, para executar truques rudimentares como escrever com tinta invisível, limpar manchas ou fazer marcações temporárias em tecidos. Pelo menos era assim, até o aparecimento dessas tais canetas emagrecedoras que estão provocando verdadeira revolução no combate à obesidade.

Agora vamos falar sério: elas vêm carregadas de medicamentos antidiabéticos que imitam a produção de um hormônio regulador dos níveis de açúcar no sangue e redutor da sensação de saciedade. Estão sendo disputadas a tapas por pessoas que têm dificuldade para perder peso. Não passa dia sem notícia de apreensão de contrabando de canetas desse tipo nas fronteiras do país. Realmente operam milagres, mas não para todos. E podem ter efeitos colaterais danosos, tanto que seu uso sem recomendação médica está vetado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Compreende-se a ansiedade de quem já tentou de tudo e continua de mal com a balança. Mas é preocupante que algumas pessoas, para não dizer muitas, acreditem que a caneta emagrecedora é mesmo mágica. Quem dera fosse! Quem dera a fada madrinha realmente existisse! Quem dera estivéssemos todos condenados à vida eterna - com juventude, saúde e essa nossa inesgotável capacidade de fabular! _

NILSON SOUZA

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