
07 de Maio de 2025
MÁRIO CORSO
Apertem os cintos
Nas últimas semanas, analistas buscam uma lógica nos tiros que Trump dá nos pés do Tio Sam. E se não houver lógica?
O passado nos governa por crenças fósseis. Parte da humanidade ainda espera um herói que a liberte das agruras da história. E se o Trump for a encarnação do herói salvador?
Lembrem: o herói está além do humano. As leis foram feitas para nós; ele as transcende, pois é a própria encarnação da lei. Sua ambiguidade moral e violência não são falhas, mas traços de seu carisma.
O herói faz o que sonhamos, ser onipotentes para dobrar o mundo a nossa vontade redentora. O herói tem direito a seus caprichos, afinal, ele veio mudar tudo, criar uma nova ordem.
Do herói se espera um sentido. Uma magia que organize os saberes e diga qual é a verdade, qual é a única cosmogonia certa. Ainda, quais os prazeres permitidos e quais os execrados.
O herói vende simplicidade. Reduz dilemas complexos ao entendimento dos simplórios. Por isso, cientistas e universidades são odiados: negam essa fantasia.
O anseio pelo herói é forte. Ele faz esquecer que todas as suas aventuras terminam em desastre. Seu mito se desfaz em tropeços com a realidade, mas explica por que tantos sociopatas angariam devotos.
Voltando a Trump, é difícil admitir que uma nação poderosa possa estar à deriva. Neste e em outros casos, nos é insuportável a ideia de não haver ninguém razoável no comando. Algo deveria explicar o caos. Odiamos a ideia de estarmos expostos ao vento do acaso.
Uma teoria conspiratória é melhor do que nada. Deveria haver alguém no timão, nem que seja uma sociedade secreta como os Illuminati, ou QNnon, ou ainda os Reptilianos.
Seguiremos acompanhando teses sobre a lógica de Trump, que tentam dar uma razão, ainda secreta, aos desmandos de um ungido insensato.
O desatino de querer retornar ao passado grandioso dos EUA é a única razoabilidade que costura seus atos. Porém, o passado só se repete como tragédia ou farsa. A América industrial, dos pais e avôs dos eleitores do presidente, acabou.
Tenham sempre em mente o Princípio de Hanlon: nunca atribua à malícia, à esperteza, aquilo que pode ser adequadamente explicado pela estupidez. _
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