segunda-feira, 19 de maio de 2025


19 de Maio de 2025
CARPINEJAR

Você tem quantos papas de idade?

Você se dá conta de que está ficando velho pelo número de papas que já testemunhou. A troca do sumo pontífice é uma espécie de ampulheta. Eu presenciei seis papas ao todo, tendo acompanhado cinco conclaves - cinco fumaceiras brancas na chaminé da Capela Sistina.

Paulo VI (1963-1978) foi o papa do meu nascimento e da minha primeira infância em Caxias do Sul e Porto Alegre. Permaneci abençoado por ele até os meus seis anos.

De João Paulo I (1978) não consegui gostar nem desgostar. Tornou-se o papa-borboleta: efêmero, durou pouco, apenas 33 dias. Sua morte repentina, por ataque cardíaco, aos 65 anos, gerou teorias de conspiração - teria sido envenenado, segundo alguns. Até porque havia derrotado com folga o "ultraconservador" Giuseppe Siri. Nunca foi feita autópsia.

João Paulo II (1978-2005), o papa polonês, peregrino, realizou um total de 104 viagens internacionais ao longo do seu pontificado, com destinos em 129 países, além de 146 roteiros dentro da Itália. Ninguém o superou na estrada. Essa quantidade de viagens foi maior do que a de todos os herdeiros de São Pedro anteriores somados, percorrendo mais de 1,167 milhão de quilômetros.

Acabou sendo o mais longevo da minha existência. Com ele, atravessei grande parte da minha vida - até os 33 anos. Poderia não ter sido assim: sobreviveu a um atentado em 13 de maio de 1981, na Praça de São Pedro, baleado e gravemente ferido por Mehmet Ali Agca, um terrorista turco.

Um ano antes, em 4 de julho, esteve em Porto Alegre - o único, por enquanto, a visitar oficialmente o Rio Grande do Sul. Eu mesmo gritei "Ucho, ucho, ucho, o papa é gaúcho" durante sua missa na rótula da José de Alencar com a Erico Verissimo, que reuniu 300 mil pessoas.

Eu o vi de longe, como uma gaivota no nosso céu anil. Apareceu também na frente da Catedral Metropolitana. A multidão se amontoava na Praça da Matriz. Muitos fiéis subiam no monumento a Júlio de Castilhos.

Tomou nosso escaldante chimarrão e brincou com o nosso clima: - Diziam que aqui era frio. Eu sinto o contrário: um grande calor.

Sua passagem hipnotizou a minha mãe, que não parava de cantar, pelo mês de julho inteiro, em qualquer lugar: "A benção, João de Deus, o povo te abraça, tu vens em missão de paz, seja bem-vindo, e abençoa esse povo que te ama".

Era um chiclete mental. Tanto que ainda sei a canção de cor. Bento XVI (2005-2013) mergulhou em oito anos de introversão e discrição. O papa que não queria ser papa - inclusive renunciou, algo raríssimo na história.

Depois vieram os mais recentes: Francisco (2013-2025), nosso primeiro papa latino-americano, que resgatou a confiança no Vaticano com sua simplicidade jesuítica; e agora Robert Francis Prevost (2025-), esse simpático agostiniano com dupla nacionalidade, americana e peruana.

Em meu comentário de manhãzinha na Rádio Gaúcha, compartilhei minha tese da velhice a partir dessa sagrada linha do tempo com o apresentador Antonio Carlos Macedo. Ele sorriu e rebateu:

- Sou do time que nota que está ficando velho ao perceber que o papa é mais novo. Eu presenciei seis papas ao todo, tendo acompanhado cinco conclaves

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