quinta-feira, 1 de maio de 2025


01 de Maio de 2025

INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

A alfaiataria que há cem anos veste os papas

Alguma coisa está fora da ordem neste período pré-conclave em Roma. E olha que, a se confirmar, será uma ruptura de séculos. Eu explico: desde que foi fundada, em 1798, a alfaiataria Gammarelli, no centro histórico da capital italiana, atrás do Panteão, confecciona a primeira roupa que um papa eleito veste, tão logo a fumaça branca sai do alto da Capela Sistina, quando ele assoma ao balcão da Basílica de São Pedro para se apresentar, pela primeira vez, ao mundo.

São seis gerações da família Gammarelli, que recortaram o tecido e costuraram as vestes de Pio XI, Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco.

Eu disse: uma tradição secular. Tão logo um papa morre, o Vaticano telefona para a Gammarelli e encomenda três peças, tamanhos P, M e G. Em 2005, quando cobri o conclave que elegeu o cardeal Joseph Ratzinger como papa Bento XVI, as roupas que o futuro Pontífice vestiria ficaram, inclusive, na vitrine, naqueles dias pré-conclave.

A Gammarelli não atende só aos papas. É uma alfaiataria religiosa: tem obviamente as batinas, as casulas, estolas, túnicas, entre outros paramentos sacerdotais. Há também anéis muito bonitos, e os cálices para a transubstanciação do vinho em sangue de Cristo, segundo a tradição na Eucaristia.

Ontem, a uma semana do início do conclave, entretanto, alguma coisa estava diferente. Na vitrine, não estavam as roupas papais. Ok, até poderiam não estar prontas ainda - segundo os funcionários, são necessários dois dias e meio para cortar os tecidos e costurá-los a mão. No local, estava apenas um solidéu branco, encomendado pelo papa Francisco, e que não foi buscado. 

Mais: o gerente, Lorenzo Gammarelli, que administra a loja junto com três primos, estava precisando dar explicações a quem chegava perguntando sobre as roupas do sucessor do papa argentino. Ele não quis gravar entrevistas, mas tem informado que, dessa vez, não recebeu nenhum pedido do Vaticano. A única informação por parte da Santa Sé é que "estão cuidando disso".

Quebra de tradição

Discreto, Lorenzo acredita que essa pode ser mais uma quebra de tradição de Francisco, que não gostava de desperdício de dinheiro ou exibição de excessos. Como apenas um dos tamanhos é usado para o famoso "habemus papam" ("havemos papa"), é provável que ou o Vaticano reutilize a roupa de Francisco ou o novo pontífice vista aqueles números que foram dispensados em 2013. Oficialmente, entretanto, não se sabe o motivo de, pela primeira vez em 227 anos, a Gammarelli não ter recebido uma ligação do Vaticano para preparar as vestes papais. _

Lembrancinhas religiosas

Enquanto estava vivo ou mesmo agora, depois de morto, Francisco move o comércio de suvenires religiosos nos arredores do Vaticano. Sua imagem é, disparada, a mais procurada pelos peregrinos: em bótons, ímãs de geladeira e cruzes acompanhadas de uma foto. As lembrancinhas mais simples variam de 5 euros a unidade (cerca de R$ 32) pelos ímãs até 15 euros pela cruz com a foto (cerca de R$ 96). _

Entrevista - Júlio Lancellotti - Pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca (SP)

"A questão não é ser progressista ou não. É ser fiel a Jesus"

Uma das vozes mais atuantes da Igreja Católica nas redes sociais e em iniciativas filantrópicas, Júlio Lancellotti concedeu entrevista para falar sobre o papa Francisco e as expectativas para o próximo pontificado.

Que legado Francisco deixa?

O legado ainda vai durar muito tempo, porque é uma verdadeira floresta. Ninguém consegue derrubar de repente. E é uma floresta de misericórdia, de compaixão, solidariedade e empatia. Os depoimentos que estamos ouvindo, até dos moradores de rua das imediações do Vaticano, são de que ele era um pai. E que ele os visitava: as pessoas transgênero, as pessoas detentas. O papa Francisco traz uma novidade tão grande, que, para entendê-la, vai levar tempo.

Quais as diferenças entre o papa Francisco e anteriores?

Eles continuaram fiéis à tradição milenar da igreja. O papa Francisco não rompe, ele inova. Aquilo que diz São Maximiliano Kolbe: "O amor é criativo". Então, Francisco não só manteve a tradição, como voltou à mais genuína tradição da Igreja, que é o amor fraterno, proposto pelo próprio Senhor.

O que esperar do próximo papa?

Vamos esperar que surja do discernimento dos eminentes senhores cardeais, que vão discernir, à luz do Espírito Santo, que Francisco não era um papa da Igreja Católica, era um papa para o mundo. Não podemos retroceder. Precisamos continuar a caminhar nessa senda.

O próximo papa seguirá progressista como o papado de Francisco?

A questão não é ser progressista ou não. É ser fiel a Jesus, ao Evangelho. Foi isso que o papa Francisco foi. Uma Igreja não autorreferencial, não voltada para si, não voltada para o luxo, mas falando e se abrindo para todos. _

INFORME ESPECIAL

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