sexta-feira, 31 de janeiro de 2025


31 de Janeiro de 2025
CARPINEJAR

A senha da mala cinza. Quando o casal se ama, gafes são histórias divertidas. O medo logo vira crise de riso. A apreensão logo vira cumplicidade. As falhas se tornam repertório de como o par se compreende e se ampara.

Talvez nem a alegria seja tão inesquecível quanto passar vergonha junto. É um elo inquebrantável de humanidade e simpatia, uma prova simbólica da ausência de competição. Pois nenhum dos dois pretende ser melhor do que o outro e contar vantagem, mas demonstrar um esforço para ser melhor para o outro, apesar dos defeitos, na complementação de personalidades.

Estávamos chegando ao hotel de Miami depois de longa noite de viagem. O primeiro impulso brazuca é cair no mar e não desperdiçar a estada em dólares. Ninguém cogitava dormir ou recuperar o jet lag. Só que não acertávamos a senha para abrir a mala cinza de Beatriz. A senha que sabíamos de cor não funcionava.

Desandamos a assistir a tutoriais no YouTube, mas as lições soavam enigmáticas e misteriosas. O código deixava marquinhas, e precisávamos encontrar diferenças entre as sombras dos números sob a luz do celular.

Desistimos dessa operação 007. Não atingimos tanta perspicácia. A facilidade dos instrutores dos vídeos nos irritava ainda mais.

Beatriz decidiu buscar o auxílio da recepção. De tanto apertar 9 ou 1, acabou por ligar para a polícia. Até entender que era a polícia, não a recepção do hotel, demorou bastante. Ela já tinha exposto toda a narrativa da mala travada. Desligou por constrangimento pelo engano. Bateu literalmente o telefone no gancho, sem se despedir.

Daí eu falei que a polícia poderia nos rastrear, que tudo o que ela havia dito talvez fosse interpretado como um pedido de socorro disfarçado, que o encerramento abrupto da ligação fez a conversa parecer muito suspeita.

Nossa preocupação multiplicou de tamanho. Beatriz apenas desejava trocar de roupa e ir para a praia. Eu já estava de sunga. A novela se arrastava contra os nossos propósitos.

Minha esposa foi procurar ajuda no corredor, explicou a situação para a camareira. Ela prometeu providenciar técnicos do hotel. Eu permaneci com a mala no meu colo, testando códigos. Comecei a fazer infinitas versões de fileira a fileira.

De repente, entraram no quarto três capangas, três armários, e ficamos em dúvida se era a polícia ou o hotel.

Graças a Deus eram representantes do hotel. Eles avançaram na minha direção. Deduzi que destruiriam a mala. De qualquer forma, no desespero, segui tentando números aleatórios, até que a mala abriu. Houve o clique redentor.

Eu gritei: - I did it! (Eu consegui!). Só que os funcionários pensavam que eu estava pelado segurando a mala na poltrona. Do ponto de visão deles, não me viam de sunga, as pernas e o peito se mostravam livres.

Foi quando um deles exclamou, fechando os olhos com as mãos:

- You can get dressed now, please. (Agora você pode se vestir, por favor.) _

CARPINEJAR


31 de Janeiro de 2025
MARCO MATOS

Memória

Até quando vamos lembrar das coisas que vivemos e jamais gostaríamos de esquecer? É preciso partir da ideia de que nenhuma lembrança é eterna. Ou a gente esquece, ou morre com a gente.

Tenho medo de esquecer.

O esquecimento é um dos piores castigos pra qualquer pessoa. A vida é tão rápida que as memórias são pedacinhos da gente distribuídos ao longo tempo.

Esquecer é apagar o que existiu, é jogar fora a conexão com o que forma a gente, a nossa personalidade é baseada nas memórias. As lembranças moldam nosso padrão de comportamento. É através delas que é possível compreender quem a gente é, o que nos trouxe até aqui. O que seria (ou será) de nós sem essas informações?

Eu não estou preocupado com a história, com os fatos marcantes do mundo. Eu não quero esquecer jamais o que aconteceu comigo. O ruim e o bom. Muitas lembranças da minha infância são péssimas, mas até disso eu quero seguir lembrando sempre que for preciso.

Perder a lucidez me assusta.

Eu não consigo imaginar o que é viver no esquecimento de uma doença. Sinto calafrios ao imaginar essa possibilidade, não tenho dúvida de que esse é meu maior temor.

Haverá de existir um sistema de inteligência artificial, um medicamento, uma terapia capaz de prevenir isso no futuro próximo. Fica meu apelo à ciência: debrucem em estudos, pesquisas, tentativas. Por favor, encontrem uma saída.

Lembrar também é viver. Que sentido a nossa existência teria se não existissem as memórias? Pense como seria viver hoje sem lembrar de nada que aconteceu ontem? De que adiantaria ser feliz agora? Eu tive uma avó que esqueceu de tudo. Lembro como se fosse ontem. Nunca senti tanta angústia.

Ver alguém não reconhecer os próprios filhos, netos. Não saber nada de si. Não saber onde está. Não ter ideia de nada que acontece naquele espaço. Tudo é desconhecido. As referências não existem. Não há um cheiro, um rosto, um toque que te conecte com o teu eu. Não há mais vida, mesmo vivo.

Perder a memória é desumano. É uma condição que vai contra a beleza de estar vivo. É duvidar de si. Esquecer o passado é jogar-se num abismo branco, sem fundo, sem som, sem nada. É a ausência de tudo.

Não me importa se os outros vão lembrar de mim depois que eu partir, eu só peço para que eu mesmo lembre de mim até o dia de morrer. 

O conteúdo desta coluna reflete a opinião do autor

MARCO MATOS


31 de Janeiro de 2025
OPINIÃO RBS

A capacidade de crescer mais

A economia interna aquecida ao longo do ano fez o país encerrar 2024 com a geração de 1,69 milhão de empregos com carteira assinada, conforme os dados do Novo Caged, divulgados ontem. Foi um número 16% acima de 2023 e o quarto exercício consecutivo com mais contratações do que demissões, após a onda de dispensas causadas pela pandemia em 2020. A despeito do abalo da enchente histórica, o Rio Grande do Sul, da mesma forma, teve saldo positivo de 63,5 mil vagas. Um feito, levando-se em consideração as preocupações com a extensão dos reflexos da tragédia climática.

A robustez do mercado do trabalho brasileiro deveria ser merecedora apenas de celebrações. Significa, afinal, mais gente empregada e com renda, gerando demanda adicional na indústria, no comércio e nos serviços. O paradoxo, no entanto, está nas percepções de que o ciclo não é tão virtuoso assim. A razão para a desconfiança está nos alertas de que o Brasil vem crescendo além de sua capacidade. Ou seja, de uma forma que gera inflação e cria efeitos colaterais. O IPCA, de fato, estourou a meta e encerrou o ano em 4,83%, e estima-se que o PIB avance 3,5%, ante projeções iniciais de apenas 1,5%.

A força surpreendente da economia doméstica, bem acima das estimativas de um ano atrás, é um dos fatores que levaram o Banco Central (BC) a iniciar uma nova sequência de alta de juro. Na quarta-feira, o BC voltou a elevar a Selic em mais um ponto percentual, para extorsivos 13,25% ao ano, com a sinalização de o choque monetário continuar em março, com uma alta da mesma magnitude. Capital mais caro tende a esfriar a economia e, por consequência, a inflação.

Cria-se assim a aparente contradição de que notícias boas como alta do emprego e da atividade são mal recebidas e frustrações causam alívio. A reação aos números do Caged de dezembro, isolados, é ilustrativa. O último mês do ano, por fatores sazonais, como a dispensa de trabalhadores temporários, costuma ter mais demissões do que admissões. O saldo negativo foi de 535 mil postos, mas a expectativa era de 400 mil. O resultado menor, por talvez ser um sinal de desaceleração da economia, com reflexos benignos na inflação e no aperto monetário, ajudou o Ibovespa a subir ontem quase 3% e influenciou na queda dos juros futuros.

Surpresas positivas que estressam e decepções na atividade e no mercado de trabalho que resultam em melhora de indicadores financeiros não são exclusividade do Brasil, mas aqui parece ser uma relação mais exacerbada. A saída para uma alta de 3,5% no PIB não gerar tantas inquietações é elevar o potencial de avanço da economia. Ou seja, criar condições para que um crescimento da atividade neste patamar, ou mesmo maior, não signifique pressão inflacionária. 

Para isso é necessário equilíbrio fiscal, fator que ajuda a manter juros em níveis mais civilizados e beneficia investimentos produtivos, que ampliam a capacidade de oferta da economia, como novas e mais modernas fábricas. Passa também por reformas que ataquem o custo Brasil e elevem a produtividade da economia e por um melhor ensino, para formar capital humano mais qualificado. Assim o país poderia crescer mais e de forma sustentável, sem os reiterados voos de galinha sucedidos por crises e desacelerações bruscas. _

OPINIÃO RBS

31 de Janeiro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Lula diz não ter plano de corte e dólar... recua

Era previsível que uma das primeiras perguntas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na entrevista de ontem fosse sobre o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que na véspera elevou o juro em 1 ponto percentual e antecipou outra paulada "da mesma magnitude" na próxima reunião, no dia 19 de março.

- Não esperava milagre - disse Lula, que criticou duramente o antecessor, Roberto Campos Neto, por elevar a Selic.

Durante a entrevista, o dólar, que retomara o patamar de R$ 5,90 antes do início, voltou ao de R$ 5,80. Com um detalhe: chegou a reduzir a alta de 0,7% para 0,3%, mas voltou à de 0,5% depois de Lula afirmar:

- Se depender de mim, não haverá outra medida fiscal.

O câmbio fechou com oscilação para baixo de 0,24%, a nona seguida, na maior sequência desde 2017, acumulando queda de 3,53%. Ajudou o fato de Lula ter ressalavado que, se houver necessidade de redução de gastos, "vamos sentar e discutir".

Tom tranquilo ajudou

Mesmo com a afirmação de Lula de que a polêmica proposta de isentar de Imposto de Renda para quem ganha mais de R$ 5 mil está em "reformulação" e vai para o Congresso, economistas atribuíram parte do alívio ao tom tranquilo usado pelo presidente.

E, embora tenha reiterado que Galípolo terá "toda a autonomia", Lula disse que "o povo e o Brasil esperam que a taxa de juro seja a menor, dentro do possível, para que possa haver mais investimento e crescimento sustentável, para gerar mais emprego".

Depois de ser acusado de minar seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e virtual sucessor para disputar a Presidência, Lula também fez um desagravo:

- As pessoas que passaram o ano inteiro falando do famoso déficit deveriam pedir desculpas a Haddad, dizer "a gente não acreditou em você, a gente duvidou de você". As pessoas que falam coisas erradas não têm hombridade para dizer "nós erramos".

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) abaixo do esperado também contribuíram para acalmar o câmbio. _

Não foi só o mercado de câmbio que teve alívio ontem. Ainda mais intensa foi a reação da bolsa de valores, que andava murchinha. O Ibopesva teve uma disparada de quase 3% (2,7%). Até os juros futuros tiveram redução forte.

Duas multinacionais brasileiras reconstroem escola na Capital

Maior instituição municipal de ensino de Porto Alegre, a Escola Doutor Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, teve de ser reconstruída depois da enchente. Para fazer a obra de R$ 8,8 milhões, uniram-se duas multinacionais brasileiras, Gerdau e Ambev, com participação de Movimento União BR, Dolphin e Brasil ao Cubo.

A Ambev foi responsável pela gestão da obra, incluindo a criação de quadras esportivas profissionais, revitalização estrutural e escadas de emergência.

A Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço que nasceu não muito longe dali, na Avenida Voluntários da Pátria, fez doações com o Movimento União BR, especializado na criação de hubs emergenciais, que atua no Estado desde setembro de 2023. A Dolphin foi responsável pela revisão elétrica.

A iniciativa tem apoio e tecnologia da Brasil ao Cubo, construtech que integra a Gerdau Next, braço de novos negócios da Gerdau. A obra levou 80 dias.

Segundo Paulo Boneff, líder global de responsabilidade social e desenvolvimento organizacional da Gerdau, a escola ficou dias inundada, o que corrompeu a parte elétrica.

O estrago foi tamanho que foi preciso refazer as estruturas de sustentação da escola, relata o executivo. Também foi preciso refazer os banheiros, quase destruídos, e trocar o piso de todas as salas de aula.

- O retorno à escola é uma ação de apoio à educação e, indiretamente, para as famílias e a economia - diz Boneff. _

Governo cumpre meta fiscal, mas resultado não é o suficiente

Para efeito de cumprimento do arcabouço fiscal, o rombo nas contas do governo federal foi de R$ 11 bilhões, ou 0,09% do PIB. Como havia margem de tolerância de até 0,25% do PIB, pode-se dizer que, sim, o governo cumpriu a meta.

Contabilizadas despesas como a ajuda ao RS, que ficaram fora desse cálculo, o rombo foi de R$ 43 bilhões, equivalente a 0,36% do PIB, acima da margem de tolerância. Analistas consideram o resultado positivo, porque "salva" o arcabouço fiscal. Mas não é suficiente. O resultado líquido é que o governo precisou se endividar em mais R$ 43 bilhões. E para estabilizar a dívida são necessários superávits estimados de 1% a 2,5% do PIB. _

Mercado discute postura de Galípolo na presidência do BC

No day after da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) comandada por Gabriel Galípolo, o mercado discutiu se o novo presidente do Banco Central (BC) atuou como "falcão" ou "pomba". A primeira característica (hawk/hawkish) é ser duro, pegar pesado na taxa de juro ante risco inflacionário; a segunda (dove/dovish) é ser suave, menos agressivo no controle da alta de preços. E qual foi o comportamento de Galípolo e sua diretoria, afinal? Cada um vê de uma forma.

- O tom da decisão foi hawkish, destacando a conjuntura da política econômica nos EUA e a desancoragem das expectativas de inflação dos agentes econômicos no Brasil - avalia Raphael Vieira, colíder de Investimentos da Arton Advisors.

- Dada a desancoragem das expectativas, acho perigoso o BC correr o risco de ser lido como dovish, e ele tomou esse risco - opina Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

É importante entender por que a classificação "falcão" ou "pomba" importa. Neste momento em que o Brasil vive risco inflacionário, ter uma imagem hawkish contribuiria para a percepção de que o BC "fará o necessário" para frear a alta de preços. Ser dovish agora seria contraproducente, porque o país paga caro, sob a forma de juro alto, para controlar a economia. A percepção de um BC suave contribuiria para reduzir a potência da política monetária, já sob certa desconfiança.

Talvez o melhor resumo tenha vindo de Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine:

- Mantém o tom hawk, pois sinaliza a continuidade do aperto monetário enquanto a inflação não convergir para a meta. Ao mesmo tempo, o comitê mostrou preferência por ganhar graus de liberdade diante das incertezas globais e domésticas. Nesse sentido, o documento é menos hawk do que o anterior (que comunicou o choque de juro), mas definitivamente não é dove. _

Que ave é esta? argumentos de "falcão"

A citação da desancoragem das expectativas de inflação, ainda muito acima da meta.

O alerta sobre o papel da política fiscal e "seu impacto sobre a política monetária e os ativos financeiros".

argumentos de "pomba"

Ter deixado em aberto a decisão da segunda reunião à frente, de 7 de maio.

A citação de possível baixa da inflação a desaceleração da atividade econômica doméstica, ainda não caracterizada.

GPS DA ECONOMIA


31 de Janeiro de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Como o projeto de Leite se encaixa na união PSDB-PSD

A citação de Eduardo Leite por Gilberto Kassab como um dos possíveis candidatos a presidente em uma aliança de centro e como um dos "líderes do futuro" não é só simpatia. Mais do que afinidade, é um indício do quão avançadas estão as negociações entre PSDB e PSD para juntarem as três letras que têm em comum. Desde 2021 Kassab tenta atrair Leite para o PSD.

Leite resistiu pelo apego ao PSDB, único partido de sua vida, mas, com o resultado de 2022, quando os tucanos elegeram apenas 13 deputados federais, o pragmatismo falou mais alto. Conscientes do risco de desidratação, os principais líderes da sigla concordaram em discutir a fusão ou incorporação a outro partido.

Nos últimos meses, os possíveis parceiros foram caindo por diferentes motivos e restaram duas opções: o PSD e o MDB. Ficaram pelo caminho o União Brasil, o Republicanos e o Podemos. Com os outros médios ou grandes, como PL, PT e PP, a união não chegou a ser cogitada.

Ainda que os dois estejam no governo do presidente Lula, o MDB ocupa posições estratégicas e teria mais dificuldades para se desapegar do poder, principalmente com as famílias Barbalho e Calheiros dando as cartas.

No PSD, Leite não seria candidato natural à Presidência. O nome citado em primeiro lugar por Kassab é o do governador do Paraná, Ratinho Júnior, que já é do PSD, está no segundo mandato, tem altos índices de aprovação e um pai comunicador que ajudaria a alavancar a possível candidatura. Só que Ratinho pode preferir o Senado, onde teria eleição garantida.

Prioridade ao Rio Grande do Sul

Sendo candidato ou não, Leite quer trabalhar pela construção de uma candidatura de centro e fazer o sucessor no Rio Grande do Sul. Como Tarcísio Gomes de Freitas tende a disputar a reeleição em São Paulo, Leite acredita que há um amplo espaço entre o PT e o bolsonarismo para construir uma candidatura de centro e frear o crescimento de outsiders como Pablo Marçal.

O governador deixa claro que não existe um compromisso formal de apoiar o vice Gabriel Souza, mas diz que o considera o mais preparado para defender o legado do seu governo. _

Governador e prefeito vão à Holanda aprender sobre prevenção às cheias

Na segunda quinzena de fevereiro, o governador Eduardo Leite e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, irão à Holanda ver de perto obras de prevenção contra cheias que podem ser replicadas no RS.

O governador viajará acompanhado do secretário Pedro Capeluppi (Reconstrução). Melo levará Germano Bremm (Meio Ambiente) e o presidente do Dmae, Bruno Vanuzzi.

O prefeito embarca no dia 19 de fevereiro e retorna em 1º de março. Leite viaja no dia 18 e volta dia 26, porque antes de Amsterdã fará parada em Estocolmo para participar da Techarena, maior feira de tecnologia e negócios da Escandinávia. Dessa feira, participarão o presidente da Invest RS, Rafael Prikladnicki, empreendedores gaúchos e representantes do Instituto Caldeira e da organização do South Summit. A Invest RS está articulando a agenda em Estocolmo com o Caldeira. _

Mais especialistas em hospitais de 18 municípios gaúchos

A secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, assinou ontem contratos com 19 hospitais de 18 municípios para a ampliação dos serviços de especialidades. A contratação foi viabilizada por meio do Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), do Ministério da Saúde.

Entre as instituições de saúde, estão hospitais de Alvorada, Camaquã, Cacequi, Bagé e Ijuí.

O programa tem como meta reduzir a fila de consultas e procedimentos especializados, como oncologia e cardiologia, por meio de contratos com médicos especialistas. A proposta prevê que pacientes com suspeita de câncer, por exemplo, obtenham o diagnóstico em até 30 dias. _

Tribunal de Justiça aprova quatro listas tríplices

Em uma tacada só, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça escolheu ontem as listas tríplices para quatro vagas de desembargador abertas em 2024. Duas são da cota da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS) e duas do Ministério Público.

As listas serão encaminhadas ao governador Eduardo Leite, a quem caberá escolher os desembargadores. _

Decisão libera projeto do Dmae

O projeto que transforma o conselho deliberativo do Dmae em órgão consultivo e altera a estrutura de cargos já pode voltar ao plenário da Câmara de Vereadores. O efeito suspensivo foi publicado no final da tarde de ontem. A proposta é da prefeitura.

O documento é assinado pelo desembargador Eduardo Delgado, da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, relator da ação.Na decisão, o magistrado diz que não houve máculas no processo legislativo do projeto.

A votação foi suspensa depois que o juiz Gustavo Borsa Antonello acolheu pedido da vereadora Natasha Ferreira (PT) e determinou que o texto fosse debatido por 90 dias antes de ser votado. O argumento era de que a lei orgânica de Porto Alegre prevê três meses para debate prévio de propostas. _

OAB-RS

Lista 1

Alexandre Gastal

Cristiane Nery

Arnaldo Guimarães

Lista 2

Cristiane Nery Isabel Borjes Arnaldo Guimarães

MP-RS

Lista 1

Márcio Gomes João Pedro Xavier Luiz Fernando Calil

Lista 2

João Pedro Xavier Vera Lúcia Sapko Márcio Gomes

POLÍTICA E PODER

Espaço aéreo de Washington é um dos mais complexos dos EUA

O espaço aéreo na região de Washington, onde ocorreu o choque entre o avião da American Airlines e o helicóptero Blackhawk das forças armadas, é um dos mais complexos dos Estados Unidos. São vários os motivos:

O tráfego é muito intenso na área. Além do Aeroporto Nacional Ronald Reagan, que recebe voos domésticos, há outros dois grandes terminais na região, entre eles o internacional Dulles.

Além de voos comerciais, há muito tráfego de aeronaves militares, com helicópteros das forças armadas e da Guarda Civil, que costumam utilizar como rota o Rio Potomac. Voam baixo, na linha de aproximação e decolagem dos voos comerciais.

Há ainda várias bases aéreas na região e o Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos EUA. Por fim, zonas de exclusão aérea devido aos prédios sensíveis como a Casa Branca, o Capitólio e o Pentágono.

Tudo isso exige bastante dos pilotos e do controle aéreo, que operam em diferentes frequências de rádio. 

Expedição ao redor da Antártica deve se encerrar hoje

A Expedição Internacional de Circum-navegação Costeira Antártica deve chegar hoje ao Porto de Rio Grande, no sul do Estado. Foram percorridos mais de 27 mil quilômetros ao redor do continente gelado. Os exploradores partiram do Brasil no dia 23 de novembro de 2024.

A missão foi coordenada pelo professor Jefferson Simões, da UFRGS. Ele liderou os quase 60 pesquisadores de sete nacionalidades diferentes, que por três meses navegaram a bordo do navio quebra-gelo Akademik Tryoshnikov.

- A circum-navegação marcou uma nova fase das atividades da comunidade científica brasileira nas regiões polares. Isso mostra o nosso protagonismo nos fóruns internacionais antárticos, o crescimento da presença brasileira e, em destaque, a presença gaúcha - explicou à coluna.

Na tripulação estão pesquisadores de Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia. São 27 brasileiros vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e a projetos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq).

- Nossa missão explorou novas áreas da Antártica, a partir do ponto de vista brasileiro. O Brasil nunca havia feito uma participação na Antártica Oriental, e isso mostra que a comunidade científica brasileira tem a capacidade de organizar, não só cientificamente, mas logisticamente, as suas missões - completou. _

O acordo possível

Apesar da fragilidade, o acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, com todos os seus problemas e limitações, tem funcionado.

Com a libertação dos oito reféns ontem, já são, no total, 15 cativos que estavam nas masmorras de Gaza que conseguiram voltar para suas casas. No primeiro grupo, libertado no domingo, dia 19, eram três mulheres. No segundo, no último sábado, outras quatro. Entre os oito de agora, estão o primeiro homem, Gadi Mozes, e a soldado Agam Berger, que Israel precisou exigir provas de vida ao Hamas ao longo da semana.

A cada libertação, há uma coreografia encenada pelos terroristas para demonstrar força - homens com máscaras e fuzil em punho. Em geral, os reféns são passados das mãos do Hamas para a Cruz Vermelha, em meio a uma multidão. A confusão claramente coloca em risco a segurança dos cativos.

Em Gaza, milhares de civis palestinos estão retornando para o Norte, para o que sobrou de suas residências. Muitos encontram apenas escombros.

Libertar prisioneiros palestinos condenados por ataques em Israel traz um gosto amargo para israelenses e o repúdio das alas mais conservadoras. Mas vale lembrar que esse é o acordo possível. Em uma região marcada pelo sangue, seu cumprimento já é algo a ser celebrado. _

Entrevista - Michele Prado - Coordenadora do Stop Hate Brasil

"Há escalada de radicalização online"

A organização não governamental Stop Hate Brasil identificou 125 bandas neonazistas no país, quatro delas no RS. À coluna, a coordenadora do trabalho, Michele Prado, comenta o aumento do extremismo.

Como vocês chegaram a quatro bandas no RS?

Identificamos quatro por enquanto. Digo por enquanto porque há 47 que ainda não conseguimos identificar o local de origem. No total, mapeamos 125 bandas neonazistas no Brasil. Ontem, localizei mais uma no Rio Grande do Norte. É um trabalho de longo prazo, pode ser que surjam novas e que apareçam novos Estados.

Já foram mais bandas no RS?

Temos uma lacuna de dados confiáveis e verificáveis em relação ao extremismo, especialmente violento, racial e etnicamente motivado, que é o neonazismo. Os dados que circulam, segundo os quais haveria mil células nazistas, muitas concentradas na Região Sul, não têm base verificável. São números fictícios. Há operações policiais no Sul, mas também no interior do Pará, em Rondônia, Minas Gerais e Bahia, por exemplo. Em relação às bandas, São Paulo se destaca, concentrando grande número (45) e uma rede bem estruturada. Há indivíduos neonazistas que operam essa subcultura desde os anos 1990, que têm selo fonográfico, casas de evento e sites. Não é algo marginal, é estruturado.

Elas se conectam?

Sim, fazem álbuns em conjunto, usam vários pseudônimos, criam múltiplas bandas e gravam muitos álbuns não só com outras bandas neonazistas brasileiras, mas também internacionais. Identificamos 140 álbuns com bandas neonazis de 35 países.

O objetivo é recrutar jovens?

Principalmente jovens, que estão mais vulneráveis. Mas há pessoas de todas as idades. Na liderança, há muita gente com mais de 40 anos. Quando escutam as músicas juntos, têm uma sensação de pertencimento. Usam muitos canais no ambiente digital.

Como vocês pressionam as plataformas para que removam os conteúdos?

Muitas músicas ainda estão ativas. Estamos tentando uma reunião com Spotify. Inclusive uma das bandas tem selo de artista verificado. Esse indivíduo tem cinco bandas neonazistas e vai tocar em dois festivais neonazistas na Argentina e na Itália nos próximos meses. No YouTube, há mais ainda. O Telegram é pouco colaborativo. Discord melhorou bastante as políticas de segurança. O X está bem difícil. A Meta era colaborativa, hoje, com as mudanças em suas políticas, não sei. Há escalada de radicalização online, principalmente entre crianças e adolescentes. É uma epidemia global.

Como está o monitoramento do antissemitismo?

O antissemitismo é a porta de entrada para a radicalização. Na semana passada, houve um atentado em uma escola nos EUA cometido por um adolescente negro. Ele deixou um manifesto antissemita. Antissemitismo, racismo, é crime imprescritível e inafiançável. Se a pessoa proferir esse discurso hoje, se gravar um disco neonazi, racista, antissemita, daqui 10 anos ela pode ser processada. Precisamos com urgência de regulamentação online específica sobre extremismo violento e terrorismo online. _

INFORME ESPECIAL 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025


Quando morre um pet

É comum e vai acontecer ou já rolou com você aí: seu bichinho de estimação vai morrer. A óbvia sensação é a dor da perda. O luto. Muitos pesquisadores focados nesse momento que todos vivenciamos comparam a morte de um animalzinho com a de alguém muito querido. E a explicação é: a relação com um cachorro é simples e amorosa.

Não importa quem você é, ele vai lhe amar. E você, a mesma coisa. Não teremos julgamentos complexos, grandes discussões sobre temas duros da humanidade. Seu cachorro não vai reclamar que você só fala de um assunto, que você é metido e não muda de opinião, e, como ele é muito educado, nem do time de futebol que você o forçou a torcer comprando roupinhas pra cachorro com o símbolo do clube ele reclamará.

Ouvi algo muito bonito de uma professora querida quando Lassie, a primeira cachorrinha que lembro ter na vida, se foi. Ela fez uma pergunta pra mim: "Quando foi que você viu a Lassie mais feliz? Foi quando você estava furioso, mal-humorado, ou feliz da vida, brincando e carinhoso?". A resposta é óbvia.

Mas, há algumas semanas, a perda apareceu aqui em casa de novo. Pabllo, nosso cachorrinho de sete anos, se foi. Múltiplos problemas, dificuldade imensa para respirar, e o fim dele veio num meio de tarde. Tínhamos uma missão: informar dois garotinhos, um de seis e outro de quatro anos, que o cachorrinho da vida inteirinha deles tinha "virado estrelinha". O menor ficou triste na hora. O maior duvidou da informação e saiu de perto.

Estranhamos... Tinha sido uma ação fria? Ele não deu bola para a morte de Pabllo? Bom, ele resolveu desenhar. A emoção dele virou um desenho.

Uma espécie de escada que é nosso prédio. Um retângulo com riscos dentro, a TV da sala. Mais abaixo, um outro retângulo menor, com dois carinhas em cima: ele, nosso filho maior, e Pabllo, ao lado. Sendo companheiro de um desenho animado.

Pabllo morreu. E, desde aquele dia, voltamos a realizar a tristeza de um fim de vida e toda a emoção que tem dentro de duas crianças que queremos que amem muitos animaizinhos na longa vida que terão. 

* O colunista está em férias. A crônica acima foi publicada na edição de 4 de julho de 2024.

O conteúdo desta coluna reflete a opinião do autor

LUCIANO POTTER 



30 de Janeiro de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Reforma ministerial deve ampliar poder do centrão

Mesmo com número recorde de ministérios, o presidente Lula terá dificuldade para saciar o apetite dos partidos aliados na reforma que se avizinha. Pelos nomes especulados até agora, não será uma mudança para melhorar o desempenho do governo, mas para acomodar figurões como Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que terão de retornar à planície ao término dos seus mandatos como presidentes da Câmara e do Senado, agora no início de fevereiro.

O presidente terá de fazer uma reforma que lhe dê alguma espécie de seguro anti-impeachment, já que aprendeu com a destituição de Dilma Rousseff que é fácil achar um pretexto para o afastamento quando a figura do presidente está fragilizada.

Lula está acorrentado ao centrão desde a formação do primeiro governo porque precisa de votos no Congresso. Votos que nem sempre tem, porque a base é gelatinosa e faz chantagem com emendas e cargos. Para os dois anos que restam do seu mandato, Lula precisa garantir boas relações com os futuros presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), acomodar Lira e Pacheco, e encontrar um substituto para o ministro da Defesa, José Múcio, que pediu para sair. Não pode ser qualquer um. O nome precisa ter aprovação das Forças Armadas, que não gostariam de um político no cargo.

Tarefas de gincana

A gincana ainda tem outras tarefas que Lula precisa cumprir: acalmar o PT, acomodando a quase ex-presidente Gleisi Hoffmann - figura altamente controversa e por isso rejeitada -, encontrar uma função para Geraldo Alckmin, se tiver de entregar o Ministério do Desenvolvimento na bandeja do centrão, e montar uma base partidária capaz de dar suporte à reeleição ou apoiar o candidato que ele escolher.

Alckmin é um dos melhores ministros em matéria de entregas. Tem o apoio do empresariado, defende o governo com mais convicção do que os petistas e não costuma criar problemas. Mas seu ministério é cobiçado e ele já mostrou que não tem perfil para ser um vice decorativo. _

Governo do Estado começa programa de desassoreamento

Projeto demandado desde que as águas da enchente de maio de 2024 começaram a baixar, o governo do Estado deu a largada ontem no Programa de Desassoreamento do Rio Grande do Sul (Desassorear RS). Uma retroescavadeira no distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves, inaugurou o serviço, removendo com a pá a primeira carga de lama, rochas e restos de madeira. Serão cerca de R$ 300 milhões investidos com recursos do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs).

Na Serra, o governador Eduardo Leite anunciou as 154 cidades gaúchas que tiveram projetos contemplados no Desassorear RS, mas sem detalhar os pontos onde serão removidos sedimentos.

- A reconstrução é um esforço coletivo. Criamos esse programa para atuar em parceria com os municípios nesse trabalho essencial de prevenção, para garantir melhor vazão dos cursos d?água - disse Leite. _

Juiz ofendido por vereador entra com ação no MP

Será investigado judicialmente o caso do vereador Ramiro Rosário (Novo), que ofendeu o juiz Gustavo Borsa Antonello na tribuna da Câmara Municipal, em 23 de janeiro, de "canalha" e "juiz de bosta". O próprio magistrado ingressou com representação no Ministério Público na tarde de ontem.

Acompanhado do presidente da Associação de Juízes do RS (Ajuris), Cristiano Vilhalba Flores, Antonello entregou a peça diretamente ao procurador-geral de Justiça e chefe do MP gaúcho, Alexandre Saltz.

A representação vai ser direcionada à Promotoria de Justiça Criminal, que vai acompanhar o caso. _

Collares era de 7 de setembro mesmo

A viúva do ex-governador Alceu Collares, Neuza Canabarro, obteve às vésperas da morte dele um documento que pode parecer irrelevante, mas que ela considera essencial para acabar com a fake news que perseguiu o marido ao longo da carreira política. Trata-se da comprovação de que Collares nasceu mesmo no dia 7 de setembro de 1927, embora tenha sido registrado como nascido em 12 de setembro.

A certidão foi encaminhada à família para que, já na UTI, Collares pudesse realizar o sonho de se casar no religioso.

Collares sempre comemorou o aniversário em 7 de setembro, mas os adversários diziam que ele tinha inventado a história só para dizer que nascera no Dia da Independência. _

Secretário por apenas 28 dias em São Leopoldo

Não durou um mês no cargo o novo secretário de Saúde de São Leopoldo. Empossado no início de janeiro junto com o prefeito Heliomar Franco (PL), Martin Kalkmann despediu-se ontem, alegando "motivos pessoais".

Quem assume interinamente é a médica comunitária Lisiane Bitencourt, que já comandou a Saúde de Portão e atuou na Atenção Básica de São Leopoldo. _

MIRANTE

A posse do novo presidente da Assembleia, Pepe Vargas (PT), na segunda-feira (3), terá apenas uma diferença em relação às anteriores. Logo depois da cerimônia e antes de receber os cumprimentos, Pepe quer tirar uma foto no meio das pessoas que estarão nas galerias da Assembleia.

Estreante na Câmara de Porto Alegre, o vereador Rafael Fleck (MDB) protocolou projeto que concede título de Cidadão de Porto Alegre ao presidente do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4), desembargador Fernando Quadros da Silva.

POLÍTICA E PODER

30 de Janeiro de 2025
OPINIÃO RBS

Impasse habitacional

A transferência de moradores de suas residências para a construção de obras importantes de infraestrutura costuma ser um entrave de resolução intrincada e demorada. São exemplos recentes os casos da ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho e da nova ponte sobre o Guaíba. O impasse da vez envolve a necessidade de remover 1,1 mil famílias do bairro Sarandi, na Capital, para o prosseguimento dos trabalhos de elevação e fortalecimento de 11 quilômetros de diques rompidos na cheia de maio.

Deve-se buscar com a maior celeridade possível uma solução para realocar essas famílias de forma digna e permitir o avanço do processo de reforma dos sistemas anticheias de Porto Alegre. A falta de um encaminhamento adequado na questão da habitação tem levado a uma série de protestos de moradores, com o trancamento de rodovias. Uma das razões é a lentidão do programa de Compra Assistida, que chegou a ser a principal aposta federal para beneficiar os atingidos de baixa renda pela enchente.

A iniciativa gerida pela Caixa e voltada para famílias que se encaixam nas faixas 1 e 2 do Minha Casa Minha Vida prevê a entrega de moradias avaliadas em até R$ 200 mil. O cadastro dos beneficiários é feito pelas prefeituras. A ideia de privilegiar a entrega de imóveis prontos é meritória, devido à demora natural na construção de casas novas. Mas deixa a desejar no ritmo de entrega dos novos lares.

O programa possibilita que os beneficiários escolham o imóvel, mas são reiteradas as queixas de demora na vistoria das unidades e na tramitação burocrática. Há possibilidade de maior agilidade para os condomínios novos oferecidos pela Caixa, mas essa opção encontra resistência das famílias pela distância e por serem apartamentos. Quem morou a vida toda em casas, algumas até com características de pequenas propriedades rurais, resiste em mudar o estilo de vida e se transferir para um lugar longe de onde mora hoje. No Sarandi, 57 famílias foram notificadas de que devem deixar suas casas até o final de fevereiro.

A questão habitacional esteve entre as principais pautas da passagem por Porto Alegre do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, nesta semana. Foi uma das reivindicações dos prefeitos. Segundo o ministro, o governo tenta flexibilizar as regras atuais para imprimir maior velocidade às entregas. Uma das medidas avaliadas é firmar convênios diretos com as prefeituras. Nessa hipótese, os municípios recebem os recursos e os municípios se responsabilizam pela construção de moradias. Pode ser uma saída nas cidades menores, onde não há imóveis prontos à venda, mas ainda assim resta dar celeridade a casos como os dos moradores do Sarandi. As prefeituras, por seu turno, ainda pecam no cadastramento dos beneficiários e na consistência dos dados que indicam a elegibilidade para o programa.

Das mais de 15 mil moradias urbanas que o governo federal pretende construir e entregar, só 3,5 mil estão contratadas. Na modalidade de compra assistida, que chegou a ter uma previsão inicial de mais de 10 mil unidades, as metas vêm caindo e, até agora, foram apenas 317 contratos efetivados. O próprio ministro-chefe da Casa Civil admitiu insatisfação com o andamento das promessas. Resta encontrar as formas de acelerá-las. _

OPINIÃO RBS


30 de Janeiro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Para evitar surpresa, Copom reitera nova pancada

Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) comandada pelo novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, surpresas estavam proibidas. Veio a esperada alta de 1 ponto percentual, o que levou o juro básico no Brasil para 13,25%. Entre os motivos do choque de juro em progresso, além dos riscos fiscal e inflacionário, está o prêmio da incerteza sobre a condução de um indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tudo o que Galípolo precisa fazer agora é alinhar expectativas, o que significa não causar espanto.

Essa circunstância já estava prevista em 11 de dezembro, quando o BC anunciou um choque de juro ao adotar a pouco usual iniciativa de antecipar duas decisões de doses ainda menos usuais de 1 ponto percentual a mais no juro básico.

Uma foi entregue agora, outra igual deve vir em 19 de março, como o comunicado da decisão reiterou: "em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião". Para além, o Copom avisou que vai definir o juro com "firme compromisso de convergência da inflação à meta". Com projeção de inflação em alta, a perspectiva é de novas altas mesmo depois dos 14,25% de março.

Inflação em alta é risco

E tudo foi entregue como esperado, inclusive o tom ainda mais duro em relação à inflação, mesmo com o dólar em R$ R$ 5,866, abaixo dos R$ 5,968 em que estava cotado naquele 11 de dezembro em que se decidiu por um tranco monetário. E um alerta: "a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida continua influenciando, de forma relevante, os preços dos ativos e as expectativas do mercado."

O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) manteve a taxa de juro. Nem mesmo da entrevista do presidente do Fed, Jerome Powell, veio alguma sinalização de mudança:

- Vamos ver quais serão as implicações para economia da aplicação de tarifas, de políticas de imigração e fiscal para agir. _

Hotel de Gramado não aceita mais crianças

A partir desta semana, Gramado terá uma opção de hospedagem voltada apenas ao público com 14 anos ou mais, categoria que inclui adolescentes e adultos.

O Wood, que existe desde 2018 e pertence ao grupo Casa Hotéis, vai deixar de receber crianças para ampliar o foco em atender casais, grupos de amigos e viajantes solitários.

O grupo Casa Hotéis vai continuar recebendo famílias com crianças em Gramado em dois outros estabelecimentos, o Casa da Montanha e o Petit Casa da Montanha.

Ainda como parte do novo capítulo, o Wood deve ganhar um cardápio assinado por um cozinheiro "mundialmente conhecido e premiado", conforme o diretor de marketing do grupo Casa Hotéis, Rafael Peccin. O empreendimento fica perto do centro de Gramado e tem 28 unidades. _

As prioridades de empresas para 2025

A digitalização e a inteligência artificial estão, claro, no foco de grandes empresas, mas o fator humano segue bem à frente, conforme a sondagem As prioridades da alta liderança para 2025, da ANK Reputation, resultado de consulta a 117 líderes de empresas.

Ainda segundo a pesquisa, os três maiores riscos corporativos deste ano são insegurança cibernética e de tratamento de dados (69%), má conduta e comportamento antiético de lideranças e colaboradores (47%) e questões regulatórias e de conformidade (38%). _

O que está em foco

Desenvolvimento de pessoas, retenção de talentos e/ou sucessão | 68%

Atualização tecnológica e de processos produtivos | 43%

Transformação digital | 40%

Reputação e marca | 35%

Processos de M&A e/ou busca de investidores | 28%

Reestruturação para "arrumar a casa" | 26%

Governança e compliance | 22%

Relações institucionais e governamentais | 16%

Estratégia e ações ESG | 15%

Política e treinamento para gestão de riscos e crises | 6%

Melnick estreia em São Paulo com projeto de R$ 700 milhões

A bordo de um projeto de R$ 700 milhões, a Melnick desembarca em São Paulo. A estreia no maior mercado imobiliário do país será em parceria com a Even, incorporadora que é referência em projetos de alto padrão da capital paulista.

- Entramos em São Paulo com esse projeto com a Even, mas há possibilidade de fazer parceria com outras empresas - disse Leandro Melnick, CEO da empresa gaúcha, que sai do conselho de administração da Even por ter esse plano.

O Projeto Harmonia, empreendimento de alto padrão no bairro Vila Madalena, tem valor geral de vendas de R$ 700 milhões. São 80 unidades, cada uma com cerca de 355 m2, em 40 andares.

A coluna quis saber se a nova parceria é fruto de estratégia ou oportunidade, o empresário respondeu que é um pouco de cada:

- É uma estratégia operar fora de Porto Alegre com um parceiro, em mercados que conhecemos bem, como em SC e PR. Agora, surgiu essa oportunidade. Entendo o mercado em SP, sei onde investir. O terreno na Vila Madalena foi comprado quando eu era o CEO da Even.

Um dos motivos da parceira, detalha Leandro, é o fato de a Melnick estar muito capitalizada, uma exceção no setor:

- Temos mais capital do que mercado em Porto Alegre, temos sobra de caixa.

Outro envolve uma coincidência: o anúncio oficial foi feito no dia de mais uma pancada no juro, o que dificulta negócios.

- O juro alto faz o mercado ficar menor. A classe média e média alta enfrentam seríssimos problemas. As vendas ocorrem na baixa ou na alta renda. Como a Melnick é uma empresa conservadora, que quer se manter saudável, não dá para lançar produto em Porto Alegre forçando o mercado - resume Leandro. 

GPS DA ECONOMIA


30 de Janeiro de 2025
INFORME ESPECIAL

IA e a grande disputa geopolítica

Com o esfacelamento da URSS e o fim do período unipolar, em que os Estados Unidos lideraram a ordem global, a China emergiu como a grande rival dos EUA: é a segunda maior economia do mundo, tem um projeto alternativo de globalização, por meio da Belt and Road Initiative ("Nova Rota da Seda), questiona a liderança americana nos organismos internacionais e exibe uma cada vez mais formidável máquina militar. Foi no governo Barack Obama que os EUA estabeleceram o "pivot para a Ásia" para contrabalançar, com investimentos e efetivo militar, a influência chinesa na Ásia, mas o flexionar de músculos continuou com Donald Trump, que declarou a China, junto com a Rússia, potência "revanchista".

Para o republicano, o dragão asiático virou a encarnação de todos os males: da mudança de empresas americanas para a Ásia, em busca de mão de obra barata, o que deixou desertos em cidades americanas outrora santuários da indústria, passando pela guerra comercial e chegando ao "vírus chinês" (como Trump classificou o H1N1).

Em seu primeiro mandato, o republicano elegeu a Huawei a inimiga número 1 do Ocidente, acusando-a de roubar informações para o Partido Comunista Chinês. A caçada às companhias continuou com Joe Biden tendo o TikTok como alvo e chegará, não duvidem, a High-Flyer, startup que desenvolveu o DeepSeek. Depois de reeditar a debandada dos EUA dos organismos multilaterais, como a OMS, de rasgar a agenda do clima, de implementar sua controversa política migratória, Trump 2.0, turbinado pelo apoio das big techs nacionais, já pode virar a página para o próximo capítulo do seu manual de governo: mirar a China. 

Bandas gaúchas e o discurso de ódio

O documento apontou o crescimento do número de bandas brasileiras neonazistas. Há 15 anos, havia 45 grupos, mas atualmente, existem 125 no país.

O relatório revela ainda que as bandas estão em plataformas musicais e costumam promover festas clandestinas. Elas participam ainda de um canal terrorista no Telegram, chamado de Terrorgram, que reúne principalmente supremacistas brancos, que buscam recrutar jovens para ações extremistas.

O deputado estadual Leonel Radde (PT) promete atuar para aprofundar a investigação. O gabinete conta com um canal de denúncias chamado internamente de "Bastardos Inglórios". Segundo o parlamentar, em parceria com a Polícia Civil, foram identificados 60 neonazistas, com cancelamentos de shows e festivais, prisões e apreensões. Denúncias podem ser enviadas pelo WhatsApp para (51) 99676-0718 (sigilo garantido). _

A Associação Brasileira de Imprensa, com o apoio do Instituto Vladimir Herzog, institui 2025 como o Ano Vladimir Herzog. A ação faz referência ao aniversário de 50 anos do assassinato do jornalista, no dia 25 de outubro de 1975.

"Em nenhum momento agimos com deboche"

- Nessa nossa última saída, teve um recorte descontextualizado de uma cena que realizamos no Bloco há mais de 10 anos e gerou uma polêmica com uma década de atraso. E essa performance executamos a música "Pregadão". Ela nos convida a tirar Jesus da cruz. Então, na cena temos o ator de terno e gravata, aparentemente um homem comum que se despe e revela a sua identidade de Jesus. E quando cantamos a música, Jesus é literalmente tirado da cruz e carregado nos braços do povo. A questão é: o quão ofensivo é tirar Jesus da cruz se vivemos nessa época em que essa postura de crucificação está tão presente? E nessa cena vemos que temos a oportunidade de descer da cruz do ódio, do preconceito, da culpa. E brincar, e fazer com que Jesus brinque com o povo. Em nenhum momento agimos com deboche. _

Rodrigo Lopes

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025


29 de Janeiro de 2025
CARPINEJAR

Eleições biônicas em pleno 2025

Gostaria que o prefeito Sebastião Melo repensasse a sua iniciativa de suspender as eleições diretas para diretores nas escolas municipais.

É um pacto democrático que vigora há 40 anos em Porto Alegre. A prefeitura se valeu de seus advogados. Na quarta-feira passada, obteve uma liminar contestando a constitucionalidade da Lei nº 12.659/20. Juridicamente, Melo está certo. Simbolicamente, está errado.

Segue a legislação. Existe um ordenamento jurídico que atinge todas as áreas. Servidores municipais, por exemplo, podem ter um pacto secular de cumprimento de 20 horas semanais, mas a lei determina 40 horas semanais. A lei está acima do pacto.

A questão é que Melo poderia compatibilizar a lei com a gestão democrática do ensino, de acordo com a interpretação do princípio constitucional da gestão democrática do ensino, previsto no Artigo 206, inciso VI, da Constituição Federal. Tendo a função de governo a ele atribuída, pode prescindir da indicação de agentes públicos da sua confiança em cargos sensíveis, como o de diretor de unidade de ensino, para a consecução de seus fins.

A prefeitura, então, teria como abdicar do direito da indicação dos diretores e vice-diretores das escolas.

Trata-se de uma das primeiras ações antipáticas do seu segundo mandato. Isso, de forma nenhuma, vai alavancar os indicadores educacionais da Capital, apenas abolirá o pluripartidarismo dentro das instituições de ensino.

Se a ideia é evitar o sectarismo de esquerda, acaba-se unicamente propiciando o sectarismo de direita.

As escolas voltarão a ser cabides de emprego dos cupinchas da administração. Quem concorda com a ideologia praticada por Melo ocupará os cargos de comando. A oposição não terá mais nenhuma chance de representatividade.

Toda eleição direta garante que seja entronizado quem melhor traduz os anseios da comunidade escolar, privilegiando liderança, competência e carisma. O contato próximo do diretor com o seu quadro de servidores e alunos facilita o feedback na solução de problemas, já que existe um voto de confiança implícito nas urnas.

Retomar a indicação biônica significa um retrocesso histórico. Não estaremos favorecendo a postura técnica, mas a ideológica, e somente da ideologia da situação.

Em vez de corrigir falhas graves da sua gestão anterior na educação, cuja secretária vem sendo investigada por prática de corrupção e malversação, o prefeito sugere agir novamente contra a transparência. Cabe lembrar que o superfaturamento do material escolar e o desperdício do dinheiro público só foram descobertos devido a denúncias de diretores eleitos.

Ou seja, a medida parece uma caça às bruxas aos delatores das irregularidades.

Há, inclusive, um possível componente passional no ato, visto que o vereador Pablo Melo (MDB), filho do prefeito Sebastião Melo, foi afastado de suas funções por 180 dias pela Operação Capa Dura. A investigação apontou o parlamentar como suspeito de envolvimento em fraudes em licitações da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre.

Por uma manobra astuta, Melo não encaminhou um projeto para a Câmara Municipal, da qual conta com a maioria dos vereadores e receberia certamente o aval para a mudança das regras do jogo. Ele optou pelo caminho judicial, indireto, para não ser responsabilizado de frente pela sua decisão. Para não precisar dar o canetaço.

Enquanto as escolas estaduais mantêm suas eleições diretas, ainda que os candidatos tenham que cumprir pré-requisitos, as escolas municipais são reféns de novos gestores, os antigos e jurássicos CCs. Paradoxalmente, aquele que foi eleito pelo povo não quer mais o povo nas escolas. 

CARPINEJAR


29 de Janeiro de 2025
MARIO CORSO

Cinzeiros

Carros vinham com cinzeiro. Ônibus e aviões traziam cinzeiros com tampa acoplados ao braço da poltrona. Nos hospitais era possível encontrar cinzeiros. Havia cinzeiro portátil dobrável, para levar consigo, para a emergência de fumar em um lugar descinzeirado.

A peça que mais me encantava era um cinzeiro mecanizado. Empurrando para baixo um pino acima do centro, ele abria a superfície do convés e engolia as cinzas e as bitucas para seu porão. Dava uma ideia de autolimpante, mas seu interior guardava um aroma de incêndio com toques de esgoto e notas de enxofre.

Os cinzeiros ganhavam seu destino ao acaso. O monogâmico recebia cinzas de um fumante, portanto uma só marca de cigarro. Eles tinham uma vida longa, mas demasiado pacata. Triste era o destino do cinzeiro de não fumantes, tinham os pulmões limpos, viviam da esperança de visitas ocasionais. O cinzeiro de sala de família era o meio termo, o equilíbrio de uma boa vida cinzeiral. Porém, o sonho de todo cinzeiro era trabalhar em um bar. Estes gabavam-se de conhecer dezenas de cigarros, entre nacionais e importados. Mas sabe como é viver entre quem bebe, espatifar-se no chão era o risco de sua vida louca.

Minhas memórias do universo tabagista são emprestadas, nunca fumei. Um dia, um amigo trouxe um cinzeiro roubado de um bar, para tê- lo disponível quando me visitasse. Ele privou um cinzeiro da vida de bar. Eu fui cúmplice por receptação e aposentadoria precoce do butim. Ainda tenho o cinzeiro preto, fosco, feito de baquelite. Ouço seu suspiro quando o vento traz pela janela aroma de tabaco, é tudo que lhe resta.

Não chore seu ostracismo, pense no cinzeiro que leva seu apagamento com elegância. Hoje ele nos lembra que todo reinado é provisório e vira cinza. _

Mário Corso

29 de Janeiro de 2025
OPINIÃO RBS

Feminicídios ainda são um desafio

Ainda que o número de feminicídios tenha caído nos últimos dois anos no Estado, o assassinato de mulheres por questão de gênero segue como um dos principais desafios na área de segurança no Rio Grande do Sul. A dificuldade para combater esse crime covarde reside na complexidade dos fatores que o cercam, como o fato de a maior parte dos homicidas ser companheiros ou ex-companheiros das vítimas, pelo ciclo de violência doméstica que o antecede, pela consumação em regra ocorrer dentro das residências, pelo fator emocional envolvido e devido à cultura do machismo.

A prevenção, em múltiplas frentes, é a melhor estratégia. É um processo que necessita, em primeiro lugar, da coragem das mulheres para denunciar seus opressores. Para isso, devem se sentir seguras para comunicar às autoridades os maus-tratos e as ameaças que sofrem. A parti daí, entra o trabalho da polícia e do Judiciário, com a concessão de medidas protetivas, como a que proíbe que o agressor se aproxime da vítima.

Feminicídios são mortes evitáveis e evidências demonstram que as restrições impostas aos homens violentos são eficazes. Em novembro do ano passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que as medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha têm validade indeterminada. Em seu voto, o ministro Rogério Schietti citou uma pesquisa do Ministério Público de São Paulo demonstrando que em 97% dos casos de violência contra a mulher com posterior concessão de medidas para salvaguardá-las evitou-se o desfecho fatal.

Exceções existem, é claro, como mostrou o chocante caso de segunda-feira em São Francisco de Assis, em que um homem perseguiu e matou a tiros a ex-companheira, apesar de ela ter uma medida protetiva desde a semana anterior. Foi o 10º feminicídio de janeiro no RS. Mas as estatísticas do Estado confirmam a importância do anteparo judicial para o homem denunciado manter distância da vítima. No ano passado, 87% das mulheres mortas não tinham medida protetiva, conforme a Polícia Civil.

Mas ainda é preciso aperfeiçoar as formas de resguardar as vítimas de violência doméstica. Desde 2023 o Rio Grande do Sul adota uma nova estratégia, por meio do uso de tornozeleiras eletrônicas em agressores. A colocação, no entanto, depende de decisão judicial, de acordo com as circunstâncias do caso. Com um celular, a vítima é notificada em caso da aproximação. A Brigada Militar também recebe a informação.

Mas a extensão do uso da tecnologia, até aqui, parece aquém do ideal. Em junho de 2023, quando o primeiro equipamento foi afixado em um agressor, o governo gaúcho previa o uso de 1,8 mil tornozeleiras. Em entrevista ontem ao Gaúcha Atualidade, na Rádio Gaúcha, o chefe da Polícia Civil, Fernando Sodré, informou que apenas 175 são hoje utilizadas e existem ainda cerca de 2 mil disponíveis. Cabe uma avaliação mais minuciosa, das autoridades policiais e judiciais, para ampliar o monitoramento eletrônico.

O aspecto cultural é outro a exigir atenção. Mesmo que resultados possam aparecer no longo prazo, com a instrução das gerações mais novas, é preciso insistir na educação para ensinar e conscientizar que os homens não têm poder sobre o destino das mulheres e não são donos de suas vidas ou corpos. _

OPINIÃO RBS