terça-feira, 29 de janeiro de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

Novo amor

PARIS - Os EUA têm 6 das 11 mais ricas empresas na área aeronáutica e espacial do mundo, inclusive a primeira, a Boeing. Mas o Brasil está fechando um ambicioso plano estratégico com... a França.

A explicação objetiva -e, cá pra nós, inquestionável- é que a França transfere tecnologia de seus aviões, de seus submarinos, de seus helicópteros, enquanto os EUA não. Comprar equipamentos de defesa norte-americanos, assim, é mais ou menos como assinar um tratado de dependência.

Numa situação delicada qualquer, basta os EUA bloquearem o fornecimento e, pronto, lá se vai pela janela toda a capacidade de reação e de defesa do Brasil. Sem contar as perdas financeiras de compras nesse modelo.

Um exemplo concreto, bastante recente, é de quando a Embraer foi proibida de vender aviões para a Venezuela, porque eles tinham componentes americanos. Chávez comprou da Rússia. Só quem perdeu foram o Brasil e a Embraer.

Depois de décadas de dependência americana, o Brasil fazer "aliança estratégica" com a França não deixa de ser deveras instigante, até porque a França sempre foi uma espécie de líder de resistência na Europa ao tal "mundo unipolar".

O fato é que o ministro Nelson Jobim (Defesa) desembarcou em Paris com mil e uma idéias e pronto para acertar compras e/ou instalação de fábricas binacionais de submarinos nucleares, de submarinos convencionais, de helicópteros de carga franceses para as três Forças, além de caças para a FAB.

Ontem ele admitiu "uma tendência a favor dos Rafale", que são franceses. Agora, Lula e Sarkozy vão se encontrar no dia 15, na fronteira Brasil-Guiana. Vem recado por aí.

A Venezuela se arma na Rússia, o Brasil transforma a França no seu principal parceiro na área de defesa.

A crise americana pode não ser "apenas" na economia, mas também na política, com, por exemplo, perda gradativa do seu "quintal".

elianec@uol.com.br

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