quinta-feira, 24 de janeiro de 2008



24 de janeiro de 2008
N° 15489 - Leticia Wierzchowski


Ah, janeiro

Estou de férias na praia. Todo mês de janeiro, fecho a casa na cidade e rumamos para a praia e pro silêncio da ruazinha onde temos nossa casa perto do mar.

A saída da cidade e a chegada a essa praia são uma função: malas, sacolas, brinquedos, cachorro e toda sorte de tralhas enchem o carro, e nada pode ficar pra trás sob pena das férias começarem com o pé esquerdo.

Nada comparado aos périplos de antigamente, quando as famílias chegavam ao Litoral pela praia mesmo, atolando na areia e seguindo em frente, nem nada comparado ao que me contou o Kledir Ramil, cuja família fechava a casa de Pelotas todo o dezembro e rumava para o Laranjal levando até as camas, mesas e cadeiras, numa verdadeira mudança de verão.

Falando assim, parece chato. Uma trabalheira danada. Mas quem me conhece sabe que eu adoro praia. E que cultivar esse "veraneiro"é um luxo que me permito com muita satisfação.

Viver em função do sol, cansar da areia, voltar pra casa salgado de mar, tô dentro. Pode mesmo não ser muito chique, e é verdade que numa piscina a gente sempre sabe onde está botando o pé, mas na beira da praia eu me deixo levar com o vento, com as ondas.

Nessas horas azuis as idéias me vêm, e delas eu me alimentarei nos meses seguintes, nos dias de horários rígidos e de agendas feitas com caneta vermelha. Agora não. Agora posso me perder nos dias da semana, nessas sucessivas manhãs à beira-mar.

Nesses dias cujo rei é o sol, eu sou como uma súdita devotada. Algumas das melhores lembranças da minha vida são à beira-mar, e talvez um dia, quando eu cansar da cidade e dos seu barulhos, alguém me encontre numa dessas casas de praia, entre as pedras e a água.

Uma casa com os vidros sujos de maresia como aquela que eu vejo nas minhas manhãs de caminhada, encravada na ponta da praia como alguma coisa muito antiga, um navio ou um grande peixe de pedra, cujos olhos vítreos cintilam sob o céu de verão.

Vocês devem estar pensando que tomei sol além do recomendável. Pode ser, pode ser também falta de assunto. Livre dos e-mails, longe dos noticiários, comprando o jornal em dias alternados, tenho pensado pouco no mundo lá fora.

Fica essa coisa antiga, esse jeito de estar na vida sem compromisso, esse tempo sobrando pra regar as plantas do quintal e fazer um bolo pro lanche.

Eu sei, eu sei, o aquecimento global continua, a crise nos EUA também, os muçulmanos devem estar agora mesmo rezando voltados para Meca, e quem não aproveitou o desconto no IPVA não aproveita mais.

Mas, por favor, não me acordem. Eu prometo ser mais objetiva nos outros 11 meses do ano.

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