sexta-feira, 18 de janeiro de 2008


CUBA É A PORTELINHA

O autor da novela global 'Duas Caras' sempre disse que o seu personagem Marconi Ferraço, um vilão que gosta de bancar o impassível, embora seja muito grosso e destemperado, foi inspirado em José Dirceu, o sósia brasileiro de Lênin, só que embalsamado em vida à espera da revolução salvadora.

Ferraço e Dirceu têm em comum a cirurgia plástica, em certo momento da vida, para mudar de identidade. Pode ser. Talvez Dirceu devesse repetir a dose para recomeçar a vida depois de tudo o que lhe aconteceu como todo-poderoso do governo Lulla.

Mais convincente é a similaridade entre Juvenal Antena, o líder carismático da favela Portelinha, vivido pelo ator Antonio Fagundes, e Fidel Castro. A Portelinha é Cuba. Talvez um pouco mais desenvolvida e sem prisões políticas. Também sem punições a homossexuais.

A exemplo de Fidel Castro, Juvenal Antena, quando adoece, nomeia alguém da sua confiança para exercer o poder. Fidel entregou o mando ao seu irmão Raúl, fundando a dinastia Castro, com Fidel I e Fidel II.

Cuba pretende praticar o antigo despotismo esclarecido. Juvenal Antena, na falta de um filho homem para substituí-lo, indicou o afilhado.

Mas se manteve no controle. Falta a Antena um abrigo esportivo como o de Fidel para se mostrar em público no papel de convalescente simpático.

Tanto em Cuba quanto na Portelinha, podem acontecer execuções sumárias de adversários incômodos. Antena sabe quem merece viver e quem deve ser eliminado pelo bem da humanidade. Outra prática em comum é a das eleições de mentirinha.

Antena e Fidel sabem o que é bom para o povo e não querem ser atrapalhados por votações, salvo se elas forem sob medida para legitimar suas posições de comando.
Juvenal Antena é o pai bondoso do povo. Distribui punições e recompensas. Fidel Castro, o pai da revolução. Eles vivem em luta contra os porcos capitalistas e os neoliberais selvagens.

Nesse ponto, Antena encontra-se em situação muito pior. Enquanto os inimigos de Fidel concentram-se em Miami, os de Antena vivem na Barra da Tijuca, um plágio de Miami. Como em todo plágio, os defeitos se tornam exacerbados.

Os neoliberais brasileiros ainda estão na fase da acumulação primitiva do capital, quando vale tudo, especialmente mamar nas tetas do Estado máximo em nome do Estado mínimo e aplicar qualquer tipo de golpe, desde que rentável. Uma novela de televisão é sempre uma caricatura de quinta categoria.

Nada mais adequado para retratar Cuba. Antena vive gritando que sonha em ver a sua favela se tornar cada vez maior. Fidel tem sido bem atendido nesse quesito.

Juvenal Antena reserva-se o direito de acesso às mulheres mais interessantes da sua ilha. Não as força. Prefere seduzi-las com o seu poder.

Não se furta, no entanto, em mandar afastar algum marido sem espírito de colaboração. Na juventude, Fidel soube usar todos os métodos possíveis para saciar o seu apetite de comandante.

O capitalismo infame quer implantar uma fábrica de cimento ao lado da Portelinha e um paraíso turístico, com cassinos e bordéis de luxo, em Cuba. Para fazer isso, terá de passar por cima dos cadáveres de Fidel Castro e de Juvenal Antena.

É exatamente isso que os torna tão sedutores: os seus inimigos não têm a menor legitimidade moral, ética ou social.

As favelas do Rio, onde o terrorismo fashion mantém populações inteiras em estado de barbárie, são como a selva colombiana.

juremir@correiodopovo.com.br

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