domingo, 27 de janeiro de 2008


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Turbulências financeiras

EM MENOS DE um ano, tivemos três turbulências graves no mercado financeiro. Em março de 2007, a forte queda da Bolsa da China (9%) contaminou o mundo. No segundo semestre, foi o abalo do "subprime". Agora é o medo da recessão nos Estados Unidos.

Esse medo levou as autoridades do Federal Reserve a reduzirem a taxa de juros, instantaneamente, em 0,75 ponto percentual, podendo chegar a um ponto.

Alguns viram nisso um bálsamo para estimular os empréstimos e ativar o consumo. Outros interpretaram o gesto como a senha de uma crise grave e duradoura.

O fato é que ninguém sabe se os Estados Unidos passarão por uma recessão ou por uma desaceleração. É verdade que a economia mundial já não depende só dos americanos.

Os europeus, os chineses, os indianos e outros emergentes, como o Brasil, já possuem uma economia doméstica pujante.

Mas essa tese do descolamento tem seus limites. Afinal, os Estados Unidos respondem por mais de 30% das compras do mundo.
Os bancos centrais não podem forçar as pessoas a consumir assim como os consumidores podem forçar os bancos a emprestar. Isso é feito pela taxa de juros.

Acredito que a redução atual, combinada com os estímulos do governo americano ao colocar mais dinheiro no bolso dos consumidores, venha a elevar as compras. Mas isso não ocorre do dia para a noite. Temos de contar com um certo esfriamento do consumo naquele país por vários meses.

E o Brasil, como fica nisso? Não podemos dizer que estamos imunes à crise. Somos parte do mundo. Mas não vejo razão para pânico, pelo menos em 2008.

Mesmo que as nações mais desenvolvidas desacelerem, todas continuarão necessitando dos produtos brasileiros, pois são eles que alimentam seus povos e garantem os insumos para a produção industrial. Prevejo uma leve desaceleração, mas, ainda assim, cresceremos uns 4,5% ou até 5%.

O que mais me preocupa, porém, são os constrangimentos internos, como a falta de energia, as estradas despedaçadas, os portos congestionados, a burocracia alucinante e, sobretudo, a possibilidade de o Brasil manter -e até subir- a Selic.

Com taxas externas cadentes (hoje 3,5%) e internas ascendentes (hoje 11,25%), mais a isenção de impostos, podemos ter uma invasão dos especuladores externos, derrubando o dólar para o patamar de R$ 1,50 -o que dificultará nossas exportações.

Ou seja, nosso futuro depende em grande parte de realizarmos as lições de casa que estão muito atrasadas, porque o Brasil é grande e privilegiado.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br - ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna

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