domingo, 20 de janeiro de 2008


CLÓVIS ROSSI

Papai, manda dinheiro

ZURIQUE - O grito que está no título partiu, essencialmente, dos mercados financeiros norte-americanos (e, antes, europeus). "Papai" George Walker Bush atendeu, prometendo devolver algo em torno de US$ 150 bilhões em impostos, para evitar uma recessão.

Se vai funcionar ou não, ninguém está seguro. Tomara que funcione, porque recessão nos Estados Unidos é sempre um problema para o mundo todo.

Mas fica evidente que todo o liberalismo, em especial dos agentes de mercado, toda a fobia ao Estado desaparecem na hora do aperto e a turma recorre a "papai" (ou à Viúva, como prefere Elio Gaspari).

Quando aconteceu na Ásia ou na América Latina, os liberais norte-americanos, inclusive autoridades da época, usavam uma expressão depreciativa: "crony capitalism" ou capitalismo de compadrio. Até havia, de fato, uma boa dose de compadrio nas ações do governo em favor do setor privado.

Mas por que, agora, os liberais (norte-americanos ou brasileiros) não dizem a mesma coisa? Veja-se o que escreveu Paul Krugman para o "New York Times", em texto ontem reproduzido por esta Folha:

"Os Estados Unidos não estavam perfeitamente capacitados a fazer uso dos fundos mundiais excedentes. Em lugar disso, representavam um mercado em que largas somas podiam ser, e foram, investidas muito mal".

Posto de outra forma: a mão invisível do mercado errou -e errou feio. Papai Estado, o patinho feio do mundo moderno, logo correu em auxílio, na Europa e nos Estados Unidos, numa espécie de colossal Proer (o programa de salvação dos bancos no governo Fernando Henrique Cardoso).

Ninguém reclamou. O excesso de Estado provou-se um tremendo fracasso, como o demonstra a falecida União Soviética. Mas o que é que a gente faz com o excesso de mercado?

crossi@uol.com.br

Nenhum comentário: