sexta-feira, 25 de janeiro de 2008



Jaime Cimenti
25/1/2008


Sentimentos e relacionamentos num vilarejo português

A escritora paquistanesa Monica Ali nasceu em 1967, em Dhaka, atual Bangladesh. Durante a guerra civil em seu país, em 1971, mudou-se com a família para Bolton, na Inglaterra.

Estudou política, economia e filosofia em Oxford. Trabalhou como gerente de vendas e marketing e, somente aos 35 anos escreveu seu primeiro romance, Um lugar chamado Brick Lane, que conquistou a crítica inglesa.

Então Monica foi destacada pela influente revista Granta, que a considerou uma das revelações britânicas da década. O romance foi finalista do prestigiado Man Booker Prize em 2003, foi publicado pela Rocco em 2004 e adaptado para o cinema.

Azul Alentejo, novo romance da autora, publicado em 2006 na Inglaterra e há poucos dias entre nós, revela a linguagem delicada e sutil da autora, mostrando a vida de moradores de um vilarejo do interior de Portugal.

Monica criou um mosaico de histórias para dar vida a Mamarrosa, uma pequena e isolada vila interiorana, onde rumores da chegada do progresso levam esperança, medo e expectativa aos habitantes.

A cada capítulo da narrativa, o foco é alterado e, em primeira pessoa, cada personagem fornece seu relato honesto e minucioso sobre as vivências naquele fim de mundo.

Da jovem Teresa, que pretende fugir do local, à disfuncional família Pott, que escolheu o lugarejo para se esconder, a vila é vista como a representação do local onde todos os sonhos se esboroam.

O sentimento de solidão parece permear as histórias, inclusive a do escritor inglês Harry Stanton, que se mudou para Mamarrosa optando por solidão, à procura de paz para acabar seu novo livro.

China e Chrissie Pott parecem ter perdido o controle da própria vida. O que dirá dos filhos Jay e Ruby? Não muito longe, em seu bar, Vasco, um português de meia-idade que viveu nos Estados Unidos, espera atrair (im)possíveis turistas com os pratos que sua avó fazia.

Ele se acha superior por ter conseguido sair, ao menos por um tempo, do vilarejo. Muitos querem ir embora de Mamarrosa, mas falta audácia a quase todos. Teresa sofre esse dilema. Enquanto decide o que fazer com o namorado e a família, prepara sua mudança para Londres.

Monica Ali, mesmo sem colocar os personagens cara a cara, provoca a interação deles de modo inteligente e mostra como os destinos vão se enredando uns aos outros.

A volta de um misterioso ex-morador bem-sucedido, Marco Afonso Rodrigues, símbolo das transformações vividas por Portugal nas últimas décadas, vai mostrar que ele não estava tão desconectado do local e vai unir os habitantes em torno de esperanças comuns. 268 páginas, tradução de Lea Viveiros de Castro, Editora Rocco, telefone 21-3525 2000.

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