segunda-feira, 28 de janeiro de 2008



QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Porto Alegre não tem Carnaval de bairro. Havia o Carnaval da Santana. Mas acho que desapareceu. No Rio de Janeiro e em boa parte do Nordeste brasileiro, o melhor do Carnaval não tem a ver com os desfiles oficiais. A espontaneidade predomina.

É muito comum se ver em estados como Pernambuco, Bahia ou Alagoas, em qualquer cidade pequena, o povo se preparando para festejar. É uma alegria só. Vi isso, por exemplo, em Tamandaré, em Pernambuco. Uma loucura.

Homens se vestem de mulher, mulheres se fantasiam de monstros, crianças correm atrás de figuras bizarras, caminhões de som incendeiam avenidas ou, simplesmente, grupos andam serpenteando atrás de baterias improvisadas.

Gente de todas as idades 'se acaba' de tanto pular. Tem idoso que dança uma semana sem parar. Há algumas décadas, no interior do Rio Grande do Sul, o povo também se esbaldava nas ruas, a começar pela guerra de bisnagas de água. Todo mundo se soltava.

Pode ser que essa tradição esteja conservada por aí e eu não saiba. Mas, em Porto Alegre, afora o Carnaval oficial, o resto é silêncio. Um triste silêncio um tanto esnobe. A maioria se manda mesmo da cidade.

A parte que fica se esconde. Talvez essa seja a grande diferença entre o gaúcho e o resto do Brasil. Não somos um povo de rua. Só metemos a cara na rua para comemorar título de futebol. Algo que não é visto como muito elegante pelos mais sofisticados.

No Rio de Janeiro, deixando-se de lado o espetáculo da Sapucaí, tem Carnaval para todos os gostos e competências específicas, desde o bloco com mais de 1 milhão de foliões, como o Cordão do Bola Preta, até o bloquinho de 50 puladores desajeitados ou frenéticos num canto de rua qualquer. Basta sair na frente da casa, do hotel, do bar, enfim, e sacudir o esqueleto.

Quando eu era criança, em Santana do Livramento, eu pulava Carnaval nos bailes infantis. Na minha família, certa época, era obrigação fazer quatro noites de folia. Estudante, já em Porto Alegre, andei pelos clubes, mas não encontrei a mesma atmosfera.

Faltava aquele ambiente de cidade do interior que ainda predomina no Carnaval popular de rua no Rio de Janeiro e no Nordeste. Não conheço uma só pessoa em Porto Alegre, nos ambientes que freqüento, que esteja em fase de preparação para o Carnaval.

Tenho a impressão de que o Carnaval, ao contrário de outras festas muito badaladas, como Natal, Dia dos Pais, Dia das Mães e outras do gênero, frustra a nossa população por uma razão muito simples: não é festa de comprar. Não se trata de lotar os centros comerciais para comprar desesperadamente. Salvo uma fantasia pessoal, nada mais há para adquirir.

Aí não tem graça. Nunca consegui entender direito os porto-alegrenses. Acho que Porto Alegre condiciona mesmo quem vem de fora. O sonho de quase todo porto-alegrense é torrar no sol. Eu sou um camponês.

Só de ver o sol já quero procurar uma boa sombra para descansar em cima de um pelego. É por isso que gosto de praia nordestina. Tem árvore. O assunto, porém, é Carnaval. Devo estar condenando injustamente o povo gaúcho.

Vai ver que eu perdi contato com o Carnaval dos nossos bairros e estou culpando todo mundo. Na frente do meu edifício passa uma cavalhada em setembro, mas nunca passa bloco algum em fevereiro. Eu trocava uma coisa pela outra sem pestanejar. Numa boa.

juremir@correiodopovo.com.br

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