sábado, 19 de janeiro de 2008



19 de janeiro de 2008 | N° 15484
Paulo Sant'ana


Tempo do Andaraí

Tenho um amigo que mora numa espetacular mansão do bairro Três Figueiras.

O garçom serve de moto no living da sua casa. A casa do cachorro dele é maior que o meu apartamento.

A despensa da casa deste amigo não é despensa, é um misto de almoxarifado, adega e armazém de secos e molhados.

A sala de ginástica da mansão é uma academia. No fundo da mansão nas Três Figueiras, ele construiu uma capela. E na área de lazer da mansão há duas canchas de bolão, duas de bocha, um campo de futebol, uma cancha de vôlei e três de tênis.

Que mansão, a deste meu amigo! É do tamanho e da utilidade social do Grêmio Náutico União.

O gramado da frente da casa no bairro Três Figueiras mede dois hectares. A esposa deste amigo, advogada, que cursou Direito comigo na PUC, há seis meses que vem pedindo pro marido comprar quatro máquinas cortadoras de grama para aparar a relva do gigantesco gramado.

Como trabalha 18 horas por dia, ele nunca teve tempo para comprar os quatro aparadores de grama.

Esses dias, para se vingar do descaso do marido, que não há jeito de comprar as máquinas de aparar grama, ela ficou esperando que ele chegasse do trabalho. Quando ele entrou no pátio, a mulher estava cortando a grama com uma tesourinha de cortar unhas.

Ele viu aquela pressão desdenhosa da mulher e não teve dúvida: correu até o banheiro. Lá apanhou uma escova de dentes.

Trouxe a escova de dentes e a entregou para a mulher. Ela ficou atônita. Então ele explicou: "Tu podias aproveitar teu tempo para também varrer a calçada com esta escova".

Agora vou publicar a letra de um grande e imortal samba, cantado por João Nogueira e até gravado por Zeca Pagodinho esses dias.

Dondon foi um grande jogador do futebol de várzea carioca, era um Pelé, inimitável. E quando foi jogar pela popular equipe do Andaraí, um dos mais queridos clubes cariocas no início do século passado. Dondon celebrizou-se como incomparável jogador.

Pois veja o que fez dessa memória Nei Lopes, um dos maiores poetas cariocas do samba. Título Tempo de Dondon

No tempo que Dondon jogava no Andaraí

Nossa vida era mais simples de viver

Não tinha tanto miserê, nem tinha tanto tititi [REFRÃO]

No tempo que Dondon jogava no Andaraí, (no tempo...)

No tempo que Dondon jogava no Andaraí

Propaganda era reclame.

Ambulância era dona assistência,

Mancada era um baita vexame

E pornografia era só saliência,

Sutiã chamava-se porta-seios,

revista pequena gibi, iiii...

No tempo que Dondon jogava no Andaraí,

No tempo que Dondon jogava no Andaraí,

Rock se chamava fox,

Tiete era moça fanática,

O que hoje se diz que é xerox,

Chamava-se então de cópia fotostática,

Motorista era sempre chofer,

Cachaça era parati, iiii...

No tempo que Dondon jogava no Andaraí,

22 era demente,

Minha casa era meu bangalô,

Patamo era socorro urgente

Cana duro era investigador,

Malandro esticava o cabelo,

Mulher fazia misampli, xiii...

No tempo que Dondon jogava no Andaraí,

No tempo que Dondon jogava no Andaraí

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