A fábrica de consensos e os meros consumidores
Como disse Goebbels, que literalmente deixou muitos seguidores, uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade ou, atualmente, facilmente se torna política pública. Multidões em várias partes do globo passaram a acreditar, simultaneamente, que questões identitárias são o maior problema do mundo, e passaram a exigir dos seus governos uma solução que não lhes beneficia, para uma adversidade que não existia.
Consenso Inc.: o monopólio da verdade e a indústria da obediência (Avis Rara - Faro Editorial, 256 páginas, R$ 64,90), da experiente e premiada jornalista e escritora Paula Schmitt, tem o propósito de oferecer ao leitor uma leitura clara sobre os temas mais urgentes de nossa civilização, traçando a sequência de eventos que vêm desmontando as estruturas de nossa democracia: a desinformação criada por uma verdadeira fábrica de consensos.
Paula, uma das jornalistas investigativas mais contundentes da atualidade, é Mestre em Ciências Políticas e Estudos do Oriente Médio pela Universidade Americana de Beirute e foi correspondente no Oriente Médio para o SBT e Radio France, além de colunista da Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo.
A autora expande nossas mentes, desnuda ideias, arranca os véus e nos permite enxergar a realidade como ela é. Com o prefácio de Márcio da Costa, doutor em Sociologia e ex-Professor da UFRJ, o livro revela a distopia do sociocapitalismo, o capitalismo de Estado em que o governo é o maior atravessador do Grande Capital, e o pagador de impostos é um mero consumidor sem direito de escolha, financiador obrigatório da concentração de renda oficial.
Passando por temas como redes sociais, política, justiça, informação, poder, manipulação, corrupção, saúde pública e imprensa, Paula questiona o senso comum que tem sido oferecido nos discursos identitários, sociais e ideológicos, e aponta os perigos para o tal "consenso" universal.
Os leitores vão conhecer e lidar melhor a terrível "indústria do consenso" que se estabeleceu no Brasil e no mundo e, quem sabe, poderão ser atores e não meros expectadores da História.
Lançamentos
• Ateliê Veit - A paixão pela arte (Oikos Editora, 256 páginas), de Elinor Arlete Veit Somensi, professora, pesquisadora e escritora, traz a brilhante trajetória de Albert Gottfried Veit, bisavô da autora, criador do ateliê Veit & Filho, com o filho Hans, que desenvolveu famosos vitrais para muitos locais do Estado. A obra, encadernada, em papel couchê, com lindas fotos em cores, nasce referencial e faz jus à importância do Ateliê.
• Presença Literária 2023 (ALF, 96 páginas), antologia de poemas e crônicas, marca os 80 Anos da Academia Literária Feminina do RS. Apresentado por Valesca de Assis, o livro foi organizado por Marilice Costi, Cristina Macedo e Teniza Spinelli, tem belas ilustrações de Ivanise Mantovani e datas históricas, além de lista de Presidentes nas páginas finais.
• Eu, Bernardo (Maralto Edições, 288 páginas, R$ 49,90), de Daniela Pintotti, psicóloga, escritora e Mestre em Artes Visuais,com ilustrações dse Denny Chang, traz o adolescente Bernardo, alto, magro e tímido, escrevendo um diário e relatando para a psicóloga dramas comuns de adolescência dos dias atuais e a tentativa de crescer e ser "normal".
O jornalismo de Patrícia Galvão - Pagu
Patrícia Galvão, a lendária Pagu, musa do movimento modernista brasileiro aos doze anos de idade, nasceu em 1910 e faleceu cedo, aos 52 anos, depois de uma vida absolutamente intensa. Começou a namorar aos doze anos, engravidou aos quatorze e fez um aborto. Aos quinze Pagu iniciou a carreira jornalística, que a sustentaria e a acompanharia até o fim. Colaborava com o Jornal do Brás quando ainda normalista. Aos dezenove anos começou a publicar desenhos na revista Antropofagia, fundada pelos amigos Raul Bopp, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.
Em 1930, num imenso escândalo, casa-se com Oswald de Andrade, que era marido de Tarsila. Consta que já eram amantes. O casamento foi no Cemitério da Consolação, em São Paulo, diante do jazigo da família do escritor. Em 1931 foi a primeira presa política no Brasil depois da Independência. Foi taxada de agitadora e anarquista e expulsa do Partido Comunista.
Depois Pagu foi para o exterior, enviando, como correspondente, reportagens para jornais do Rio de Janeiro e São Paulo, como Correio da Manhã, Diário de Notícias e A Noite.
Palavras em Rebeldia - Uma antologia do jornalismo de Patrícia Galvão (Edusp, 608 páginas) organizada por Kenneth David Jackson, professor da Yale University, nos Estados Unidos, reúne o grande e importantíssimo trabalho jornalístico de Pagu de 1931 a 1963.
Na contracapa, Augusto de Campos disse: "A presente antologia é uma amostra significativa desse notável trabalho. Profundo estudioso e conhecedor de nossa literatura, de Machado de Assis à poesia concreta, David conseguiu vencer inúmeras dificuldades para chegar a essa nova coletânea. Além de reunir todo o jornalismo de Patrícia de 1931 a 1963, chegou a compilar até mesmo documentação de processos policialescos contra ela. Inestimável contribuição para as nossas letras."
Geraldo Galvão Ferraz, no prefácio, disse: "O jornalismo de Patrícia tem uma orientação mais política; contudo, não deixa de mostrar sua decidida inclinação pelas artes. Até porque as décadas de 1930 a 1950, no Brasil, tiveram a política e a arte como estranhas companheiras de cama. Os debates ideológicos se misturavam com as discussões estéticas. Um pouco como em toda parte, nesse período, mas aquecidos pela luta contra a ditadura varguista e sua orientação de repressão brutal contra seus inimigos."
Na introdução, o organizador disse: "A presença de Patrícia em muitos dos grandes acontecimentos e seu envolvimento em questões decisivas de sua geração são assuntos ainda não muito bem entendidos ou tratados, como ela mesma pressentiu ao sair da prisão em 1940: 'Ninguém alcançou a imensidade de minha oferta'. Ao redescobrir os nomes, as frases e os temas de sua rica produção jornalística - Pagu, Mara Lobo, Ariel, Solange Sohl. Pt, símbolos de uma personalidade virtuosística e múltipla - Patrícia brilha em toda a sua originalidade. Sua voz projeta a consciência política e literária do Brasil modernista e impressiona pela pureza de seu caminho antropófago e impacto na cultura brasileira."
A propósito
A grande antologia cobre na primeira parte os ínicios, Pagu e a política, 1931-1954, o processo judicial contra ela, fatos da noite social paulista, textos feministas e a São Paulo da época. Na segunda parte, 1948-1963, os textos versam mais sobre arte e literatura. Teatro contemporâneo, autores estrangeiros estão na terceira e quarta partes. Pagu marcou profundamente a cultura brasileira e foi tema de filme documentário e obras de teatro e televisão, incluindo novela em horário nobre. A musa modernista, vanguardista, revolucionária, feminista, "militante do real" merece esta antologia definitiva.
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