sexta-feira, 13 de janeiro de 2023


13 DE JANEIRO DE 2023
CELSO LOUREIRO CHAVES

Kiefer e Ligeti são nomes a serem celebrados

Sempre que começa o ano, toca olhar para a frente e antecipar comemorações de centenários de compositores e compositoras. Assim já se vão projetando festas ou, no mínimo, montando playlists para não deixar passar em silêncio músicas que, por certo, são interessantes de recuperar. E descobrir, se for o caso.

Em 2023, logo surgem György Ligeti e Bruno Kiefer, duas figuras seminais da música do século passado, cada um no seu quadrado, ambos com importância indiscutível. Ligeti nasceu na Transilvânia, cresceu na Hungria, amadureceu na Alemanha. Kiefer nasceu na Alemanha, mas se transferiu muito cedo para cá, na esteira das perseguições totalitárias do nazismo dos anos 1930.

Quem frequenta o cinema lembra o Ligeti das telas: 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, e suas sonoridades descorporificadas como vindas de outros planetas. Ou os passeios desesperados de Tom Cruise em De Olhos Bem Fechados, mais uma vez o cinema perfeccionista de Kubrick ao som obsessivo de Ligeti.

Mas não é só de cinema que vive a música de Ligeti. O centenário será útil para que se ultrapasse o conhecido e se ouça, por exemplo, o concerto para piano tão próximo do minimalismo e da música folclórica, ou os três livros de estudos para piano, indispensáveis para a literatura do piano de todos os tempos.

No caso de Bruno Kiefer, o centenário fala muito mais de perto para nós. Kiefer foi um compositor extremamente enraizado na nossa terra e não é por acaso que as palavras "vento" e "terra" se repetem não só nos títulos, mas são corporificadas na música de um compositor que sempre se considerou gaúcho e nacional, por todos os direitos.

Embora tenha nascido fora, Kiefer é compositor do Sul. Ao chegar aqui, foi transformando em música o que via e ouvia na nova terra, que agora era sua. Sua primeira formação foi a matemática. Mas não há cálculos em Os Campeadores a partir dos versos de Carlos Nejar, ou nas canções sobre Drummond e Quintana, na música de câmara e para orquestra. Há sensibilidade sonora vinda do chão, quase uma estética do frio à maneira Kiefer.

Kiefer e Ligeti são dois nomes de 1923, a serem comemorados atentamente agora, cem anos depois. Como sempre nestes casos, é urgente ouvir a música dos que se foram, as sonoridades inovadoras que imaginaram. Hora de refazer a história dos sons de cada um, para refletir como sua música veio a ser o que é, agitando nossos ouvidos com sons que nem se pensava ser possível que existissem.

CELSO LOUREIRO CHAVES

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