terça-feira, 24 de janeiro de 2023


24 DE JANEIRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

SUBSTITUIÇÃO INCONTORNÁVEL

Não restou alternativa ao presidente Luiz Inácio da Silva e a substituição do general Júlio César de Arruda como comandante do Exército, anunciada no sábado, tornou-se incontornável. A resistência em cumprir instruções e determinações do mandatário da República, a quem está constitucionalmente subordinado, foi uma postura de clara insubordinação. 

Vieram a público, nos últimos dias, detalhes das dificuldades impostas por Arruda para a desmobilização do acampamento de bolsonaristas radicais na noite do dia 8 de janeiro em Brasília, após a invasão e o vandalismo nos prédios dos três poderes, e a relutância em exonerar um tenente-coronel que era o braço direito do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os dois fatos, somados ao contexto em que estão inseridos, tornaram a sua permanência insustentável.

Quebrou-se, de fato, qualquer possibilidade de uma relação de mínima confiança para desempenhar um cargo-chave, especialmente sensível devido à politização das Forças Armadas nos últimos anos. Não se requer que o presidente da República e seu mais importante comandante militar nutram simpatias pessoais um pelo outro. Mas se exige, sempre, obediência à Constituição e compromisso com a hierarquia.

Ato contínuo à demissão, foi anunciado para o posto o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, então comandante militar do Sudeste. Dias antes, Paiva fez um pronunciamento com uma defesa enfática da democracia, do respeito ao resultado eleitoral, da alternância de poder, sobre a importância da disciplina e do comprometimento com a missão profissional das Forças Armadas. Mesmo sem externar nada além do óbvio, a manifestação contundente o credenciou para o cargo, sobretudo em um momento de tensão ainda pairando no ar. 

Com uma relação de confiança estabelecida, é possível avançar na normalização democrática, na necessária despartidarização das Forças Armadas e na averiguação de condutas e responsabilização sobre eventuais participações de membros da ativa nos episódios de 8 de janeiro - estritamente conforme as leis e o código militar, sem contemporizações ou perseguições. Ao fim, deve ser perseguida apenas a distensão dos ânimos e a pacificação da sociedade, o que também inclui o apaziguamento na caserna.

Neste sentido, aguardam-se também novos acenos por parte do governo federal na direção dos eleitores de Jair Bolsonaro que não compactuam com a barbárie e, como a esmagadora maioria da população, esperam somente tranquilidade, estabilidade e previsibilidade para trabalhar, empreender e tocar a vida. Iniciou-se, ao que parece, um período de aquietação nas relações entre os poderes no país. É preciso, agora, acalmar as ruas, permitindo inclusive ao Executivo dar mais atenção aos problemas reais dos brasileiros.

OPINIÃO DA RBS

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