06 DE JANEIRO DE 2023
PARALELO 30
"Minha vida sexual começou nos meados de 1947 e eu tinha nove anos. Completamente ingênuo (...), sentia curiosidade e imenso prazer em ver ou pegar o pênis de outro garoto." Assim começa o Capítulo 1 do livro Diário de um Invertido - Escritos Líricos, Aflitos e Despudorados - Salvador 1956-1963, de Edy Star. Ele foi o primeiro artista brasileiro a se declarar publicamente homossexual, em 1970. Nascido em 1938 em Juazeiro, já era figura conhecida em Salvador, onde conviveu nos anos 1960 com Glauber Rocha, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Raul Seixas. A inscrição de seu nome na história da música brasileira se dá em 1971, já vivendo no Rio, com o disco (que virou cult) Sociedade da Grã-Ordem Kavernista, ao lado de Raul, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada.
Organizado pelo historiador paulista Ricardo Santhiago, que descobriu por acaso, nos guardados de Edy, os cadernos em que o adolescente Edivaldo Souza registrava seus segredos sem qualquer autocensura, o livro é um documento extraordinário. Como escreve Santhiago, o manuscrito narra, "de maneira crua, a relação de Edy com a própria homossexualidade e as injunções sociais de sua prática". No texto de apresentação, Luiz Mott, professor da UFBA e fundador do Grupo Gay da Bahia, antecipa: "Diário de um Invertido revela episódios dramáticos e doloridos da homofobia estrutural presente no dia a dia dos gays e travestis da Bahia nos meados do século 20, com muito bullying, humilhações e espancamentos". Não se pode esquecer, ainda, que o Brasil vivia sob a ditadura.
Santhiago agrega à narrativa autobiográfica o que chama de "Contos aflitos (ou não)", textos da mesma época. Depois, "Homossexualismo e anedotário popular", piadas e historietas reprocessadas por Edy. E, por fim, poemas com temática homoerótica, recuperados do acervo do artista. Entre as páginas, fotografias dele nos anos 1950. Resumo sobre Edy Star: depois daquele disco de 1971, se tornaria atração de boates e cabarés cariocas, virando um popstar. No primeiro LP solo, Sweet Edy, de 1974, colocou glam rock em músicas feitas para ele por Roberto/Erasmo, Caetano, Gil, Mautner. Logo destacou-se também como artista plástico. Atuou durante 20 anos na Espanha, sem gravar. Sua vida está contada no filme Meu Nome é Edy Star (2019). Aos 84 anos, é um ícone LGBTQIA+.
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