13 DE JANEIRO DE 2023
ACERTO DE CONTAS
Riscos do rombo na Americanas Alternativas para evitar déficit nas contas
Além do anúncio do pacote de medidas em si, a fala da equipe econômica de Lula trouxe várias sinalizações. Uma delas é que o novo governo quer dar uma ideia de normalidade na economia após as invasões em Brasília, afinal tem sido o seu campo mais sensível desde a eleição. Outra é começar a materializar o que está nos seus discursos de que, sim, está preocupado com as contas públicas, mas que vai lidar com a responsabilidade fiscal da forma que acredita, ou seja, gastando no que considera ser importante para crescer. Para isso, está garimpando alternativas que contenham o rombo nas contas públicas sem prejudicar as políticas sociais que defende.
O programa de renegociação de dívidas tributárias para empresas e pessoas físicas reforça a preocupação com a inadimplência, que cresceu na pandemia e especialmente com a inflação de 2021. Também foi dada carta branca para ministérios revisarem contratos do governo Bolsonaro, assim como tem sido feito com desonerações, tão criticadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para fechar, ele evitou se comprometer com o salário mínimo de R$ 1.320 previsto para 2023, mas ainda não formalizado. Garantiu, apenas, que o reajuste será sempre acima da inflação, promessa de Lula.
Os R$ 20 bilhões que passaram "despercebidos" no caixa da Americanas farão estragos ainda difíceis de dimensionar. O comunicado informando o rombo e a saída dos executivos já sinalizava a bronca na qual a gigante do varejo se meteu. Ontem, a conferência para alguns investidores deixou muito a ser esclarecido. Inconsistências das contas com fornecedores não estavam refletidas da forma correta no balanço por anos, deixando a companhia como devedora dessa quantidade exorbitante para bancos. Em vez de ser considerado despesa, o juro chega a ser diminuído.
Independentemente de que linha ou aba errada do Excel deixou de ser preenchida, profissionais da área contábil consultados pela coluna entendem que essa despesa bilionária existe e terá de ser paga. Porém, o montante supera patrimônio e valor da empresa. Quem vai emprestar dinheiro depois desse episódio? Os bancos para os quais ela está devendo essa soma nada irrisória? Qual será o juro de uma operação de crédito a ela, já que a taxa é calculada pelo risco? Essa desconfiança não se espalhará pelo setor de varejo? Como a PwC não viu? E as outras empresas que são auditadas pela consultoria com atuação mundial?
A confiança está extremamente abalada. A Americanas tem capital aberto e suas ações entraram em leilão na bolsa de valores. Os acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, disseram que participarão da solução, como forma de amenizar o baque com a força dos seus nomes no mercado empresarial e a postura do "pegaremos junto". Porém, já avisam que a capitalização tem que levar a "resultados consistentes". Uma crise de confiança abala profundamente o negócio, por mais que seja difícil acreditar que a Americanas quebre.
Vindo para a "economia real", como afetará a operação física? De acordo com os números de 2021, são mais de 1,8 mil lojas pelo país. Só no Rio Grande do Sul, a Americanas tem 65 unidades e um centro de distribuição. O patrimônio vai sentir. Qual será a confiança dos fornecedores das mercadorias? Por fim, há os empregos. Presidente do Sindicato dos Comerciários de Porto Alegre, Nilton Neco diz que o rombo ainda está no papel, mas já gera apreensão no setor.
Quanto mais tempo as perguntas levam para serem respondidas, mais dúvidas surgem.
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