quinta-feira, 5 de janeiro de 2023


05 DE JANEIRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

INVESTINDO NO SOL E NO VENTO

Uma boa notícia pouco destacada nesses dias em que todas as atenções dos brasileiros estão voltadas para a transição política e para as homenagens a Pelé foi o anúncio da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica sobre a marca atingida pelas placas solares instaladas no país. De acordo com a Absolar, a energia captada do sol tornou-se, na semana passada, a segunda maior fonte da matriz energética nacional, alcançando a marca de 23,9 gigawatts (GW) de potência instalada operacional, superando a eólica, com 23,8 GW. Ambas se tornaram as fontes renováveis de energia limpa que o país tanto necessita para se livrar da sua histórica dependência hidrelétrica.

Quando a água da chuva não cai no lugar certo ou no período certo, a matriz energética brasileira fica comprometida, como ocorre atualmente no Rio Grande do Sul devido à estiagem dos últimos meses. É uma mazela histórica: mais de 60% da energia do país continua sendo gerada pela via hidrelétrica, sistema cada vez menos confiável em decorrência da crescente instabilidade climática do planeta. Por isso, as placas metálicas e os cata-ventos gigantes são bem-vindos, ainda que alterem radicalmente a paisagem tradicional das cidades, dos campos e do litoral.

A concorrência entre os dois sistemas alternativos também é saudável na medida em que reduz os custos ainda elevados da sua instalação para os consumidores. A propósito, termina nesta sexta-feira o prazo de solicitação de instalação de placas solares com isenção na taxa de distribuição de energia, cobrada pelo governo, conforme estabelecido no Marco Legal da Geração Distribuída. Infelizmente, o Senado deixou de analisar, antes do recesso parlamentar, o projeto que estenderia o benefício aos consumidores até a metade deste ano.

Devido a isso, a demanda por placas de energia solar disparou nos últimos dias numa reação previsível de consumidores que buscam fugir dos aumentos de conta de luz determinados pelas concessionárias. Segundo levantamento da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), mesmo antes da marca atingida na semana passada, os painéis solares instalados em residências, comércios e indústrias já representavam 4,3% do consumo de todo o mercado regulado.

É promissor que isso esteja ocorrendo. Já passou o tempo em que os brasileiros esperavam passivamente pelas bonanças climáticas, como o Jeca Tatu de Monteiro Lobato, sem buscar na própria natureza soluções viáveis para problemas cíclicos. Com a ajuda da tecnologia, isso se tornou possível. 

Mais do que possível, desejável. Resultado de parcerias inteligentes entre o poder público e a iniciativa privada, os investimentos na geração de energia limpa, extraída do vento e do sol, movimentam a economia, criam novos postos de trabalho e - o mais importante - contribuem para a preservação do meio ambiente. Atualmente, quase todos os países do mundo buscam formas de diversificar suas matrizes energéticas, mas poucos possuem condições tão favoráveis como o Brasil - por sua extensão territorial, por seus recursos naturais e, finalmente, pelo despertar de sua população para as novas possibilidades que a tecnologia oferece. 

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