quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020



12 DE FEVEREIRO DE 2020
CRISTINA RANZOLIN INTERINA

O segredo do meu bronzeado

Era um domingo daqueles? céu azul e sol rachando. Meu pai e eu caminhávamos pela praia, quando uma mulher correu em nossa direção:

- Moça, posso fazer uma pergunta? Qual o bronzeador que você usa?

Era a 10ª vez que nossa caminhada era interrompida pelo mesmo motivo. Meu pai nem me deixou abrir a boca, saiu logo dizendo:

- Sabe o quê? Ela tem, sim, um segredo pra ficar com essa cor, mas não é a marca do bronzeador. É o jeito que ela usa: toda manhã, antes de vir à praia, ela toma duas colheradas!

Não sei de onde meu pai tirou aquilo, mas espero que a mulher tenha entendido a ironia e não tenha experimentado.

Conto esse episódio real, que aconteceu em Torres, quando eu era adolescente, para dizer que meu bronzeado sempre chamou a atenção. Desde pequena me perguntavam qual bronzeador eu usava, o que eu comia antes de me expor ao sol, qual o segredo da minha cor? Quando passeava na praia, minhas amigas não queriam ir do meu lado porque se sentiam brancas perto de mim, mesmo que estivessem um mês tomando sol. Quando comecei a trabalhar na TV, então, isso ganhou outra dimensão.

Naquela época, quem aparecia no vídeo, quando saía de férias, era orientado a não tomar sol, porque diziam que o bronzeado ficava feio na TV. Sei de colegas que chegaram a ficar de quarentena, trabalhando só atrás das câmeras até desbotarem. Mas logo viram que comigo isso não seria possível, a menos que eu fosse afastada o verão todo e parte do outono. É que quando o calor começa, minha cor já acende. Tenho a impressão de que eu bronzeio mesmo não estando ao sol, só com o calor do dia. E isso não é um privilégio meu, mas de toda a família da minha mãe. Minha vó ficava preta no terceiro dia de praia. Minha mãe, eu, meu irmão, meus primos, todos são assim? Genética? Excesso de melanina? Já ouvi de tudo.

Trabalho na TV há 32 anos e todo verão, quando volto de férias, começa o ti-ti-ti. No início recebia cartas perguntando o que eu fazia. As telefonistas atendiam a ligações de telespectadores querendo saber "minha receita". Com a chegada das redes sociais, virou uma loucura. E as teorias também. Há quem não acredite que seja natural e jure que me viu em câmeras de bronzeamento. Há quem me critique por achar que, em tempos de camada de ozônio esburacada, eu deveria dar o exemplo e não aparecer com esse bronze no ar, pois posso estar incentivando as pessoas a se exporem e terem câncer de pele. Há quem ache minha cor feia, e aí outros saem em minha defesa, dizendo que é pura inveja. Já vi até brincadeiras de que minha cor virou uma tonalidade de tinta e fotos de bronzeadores com meu rosto no rótulo. Mas a maioria gosta, só não acredita não existir um "segredinho".

Até acho que há coisas que ajudam, mas primeiro quero lembrar algo, lá atrás. No tempo em que meu pai fez a brincadeira sobre tomar bronzeador, ninguém falava em filtro solar. As pessoas passavam bronzeador mesmo. Quem não lembra do Rayito de Sol? Depois começaram a surgir os bronzeadores caseiros, e tinha gente que se queimava feio com invenções malucas. Eu, quando criança, nem passava nada. Minha mãe só colocava boné em mim e no meu irmão e nem se preocupava porque sabia que o sol não agredia a nossa pele, ao contrário do meu pai, que se não se cuidasse virava um camarão e gastava potes de Caladryl. Mas o sol ressecava minha pele, sim. E um creme hidratante, após a praia, era bem-vindo.

Com o crescimento da indústria de cosméticos, e o meu também, passei a colocar alguma coisa antes de ir pro sol, porque prevenia o ressecamento. Quando chegaram os protetores solares, aderi direto. Sei que a radiação solar está cada vez mais intensa e os raios UV são danosos para o envelhecimento e perigosos porque podem causar câncer de pele até mesmo para que tem mais resistência ao sol, que é o meu caso. Hoje não me exponho de jeito nenhum sem proteção: uso diariamente filtro solar fator 50 no rosto, inverno e verão. Quando vou à praia, antes de sair de casa passo proteção no corpo todo. Mesmo assim, me bronzeio, e muito.

Confesso que adoro o sol, ele me dá uma energia incrível. Meu marido não acredita nisso, porque depois de um dia à beira-mar ele sempre se sente cansado. Eu não consigo estar na praia e ficar embaixo de uma barraca ou guarda-sol. Algo me puxa para o sol, mas procuro me controlar. Acredito que minha alimentação saudável, com muita verdura e fruta, contribua para minha facilidade de manter a pele bronzeada. E me cuido muito. Nos primeiros dias de férias, aumento a proteção do filtro, uso um fator mais alto e depois diminuo, mas nunca menos de 50 no rosto e 15 no corpo. Depois do banho, tomo outro banho de creme hidratante.

Minha filha já aprendeu esses meus "truquezinhos" e, mesmo loira, fica com um bronzeado lindo, talvez tenha herdado um pouco dos meus genes.

Sei que, apesar de tudo o que contei pra vocês, ainda vai ter gente espichando o pescoço para o meu lado na praia pra ver qual a marca do meu protetor solar, mas isso eu não conto não! Quem sabe um dia eu não venha a lançar minha marca própria no mercado?

*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 18/2

CRISTINA RANZOLIN - INTERINA

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