11 DE FEVEREIRO DE 2020
MARCELO RECH INTERINO
O futuro do emprego
Outro dia, revendo a listagem de duas dezenas de colegas que se formaram na minha turma de 1981 da UFRGS, me dei conta de que, até onde a memória alcança, só uns poucos se mantiveram na lida jornalística propriamente dita, conferida pelo pomposo título de bacharel em Jornalismo Gráfico e Audiovisual. Entre os egressos de quase quatro décadas atrás, há artistas plásticos, diretora de cinema, maestra, professores, ator, servidores públicos, consultores, muitos espraiados por uma diáspora que os levou para outros Estados e a países como Canadá, França e Japão.
De razões de mercado a motivações existenciais e questões familiares, minha turma parece uma premonição do que ocorrerá cada vez mais com o mercado de trabalho. Ninguém sabe como vamos gerar emprego e renda para bilhões de terráqueos dentro de 20 anos. O que se antevê é que nada, como cantava Milton Nascimento, será como antes, amanhã. Algumas formações especializadas conduzirão a trajetórias mais previsíveis. São os casos de policiais, militares, médicos, enfermeiros, técnicos, dentistas, mas pode-se esperar também nessas carreiras guinadas individuais abruptas diante de oportunidades de mercado e de outras realizações profissionais.
Nas demais formações, muitos vão receber o diploma genérico, partir para uma especialização e atuar em outro campo, complementar ou não. Queira-se ou não, goste-se ou não, o mercado de trabalho e seu arcabouço legal seguem uma inexorável e constante mutação. Pode-se visualizar algumas tintas deste futuro. As especializações serão decisivas para a chamada singularidade, que, no fundo, é a capacidade de se oferecer ao mercado de trabalho algo único ou, ao menos, escasso. Os mais reconhecidos serão aqueles que lograrem identificar seus talentos e, sem as amarras de legislações anacrônicas, os fizerem sobressair de modo permanente.
Antes que alguém ache que o futuro caberá àqueles que empilharem seguidores em seu canal do YouTube, deve-se considerar talento também saber ser discreto, disciplinado, silencioso, colaborativo ou diplomático nas horas apropriadas - e muitas outras e diferentes características. Tudo depende do contexto. Não se espera de um anestesista uma personalidade excessivamente criativa. Mas não é o topo da pirâmide profissional que deve preocupar mais. O grande dilema do futuro diz respeito à chamada mão de obra sem especialização.
Nos próximos 20 anos, centenas de milhões de postos de trabalho vão sumir pelo ralo da automação, da inteligência artificial, do 5G, das disrupções no comércio, no sistema financeiro e na indústria. Exemplo: será um operário quem vai manusear uma impressora 3D e produzir objetos em algum local remoto? E como recolher impostos destas atividades e financiar uma sociedade mais envelhecida que espera crescente bem-estar?
Há 15 anos, Thomas Friedman escreveu O Mundo é Plano, no qual antevia a migração em massa de atividades profissionais motivadas pela internet. A partir de agora, o mundo será mais tortuoso. O que era busca de emprego será cada vez mais busca de renda. O que era profissão de uma vida será uma fase para a próxima etapa profissional. O que era local de trabalho será um ambiente fluido, móvel ou virtual. Só uma verdade seguirá de pé: a da exigência de educação de alta qualidade, seja na formação ou na reconversão de bilhões de estudantes e trabalhadores.
Quanto de energia e recursos estamos investindo agora para preparar o Brasil, o Rio Grande do Sul e Porto Alegre para o futuro? A resposta para esse dilema dirá de que lado do abismo estarão nossas sociedades dentro de duas décadas.
*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 18/2
MARCELO RECH - INTERINO
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