terça-feira, 4 de fevereiro de 2020



04 DE FEVEREIRO DE 2020
ANDRESSA XAVIER INTERINA

Não dá pra viver sem frio na barriga

Lembro bem do dia em que me equilibrei pela primeira vez na Caloi roxa que eu tinha quando era criança. Passei dias experimentando a bíci com as rodinhas até que meu pai, sem avisar, tirou os apoios enquanto eu andava. Eu segui firme e faceira. Era na beira da praia de Capão da Canoa, que parecia muito maior do que é hoje, pelo menos aos olhos de uma guriazinha de seis ou sete anos. Tudo é imenso quando somos crianças. Lembram de um passeio no shopping na infância? Não era tudo gigante? Pois é. As cidades pareciam muito maiores do que de fato são. Eu morria de medo de me perder "quando fosse grande e precisasse andar por Porto Alegre".

Também recordo com clareza da minha primeira apresentação no colégio. Li uma mensagem lá em cima do palco. Minha mãe estava emocionada porque foi uma surpresa que eu já soubesse ler um trecho maior do que palavras soltas. Aquele auditório da escola também era enorme. Nas duas situações tive os mesmos sentimentos: medo, vontade de ir mesmo assim e o friozinho na barriga! Mais tarde, quando andei de avião pela primeira vez, idem. Na adolescência, quando gostei de alguém. Quando me apaixonei. Quando comecei a trabalhar no lugar dos meus sonhos. Quando estava prestes a ver meus sobrinhos recém-nascidos. Lembro da expectativa. É isso que esses momentos têm em comum, cada um de uma maneira e com uma intensidade: o frio na barriga.

Não sou coach nem nada, mas já percebi que sem isso a vida não faz nenhum sentido. E nada melhor do que um novo desafio, uma nova experiência, para senti-lo. Cada vez que apresento um programa na Gaúcha, lá está a sensação. Cada vez que encontro uma pessoa que amo, sinto como se fosse a primeira vez que a vejo. Alguns diriam que sofro de ansiedade, o que não é mentira, mas por que não enxergar a parte boa? Se procurar no Dr. Google, ele dirá que posso morrer de frio na barriga, mas prefiro mesmo é viver assim. E você, que está lendo, o que ou quem lhe faz sentir frio na barriga? Pode ser algo bem simples. Só não vale dizer que não sente por nada.

O mundo está a mil. É mais fácil cair no piloto automático, mas ele nos deixa indiferentes e intolerantes. Nada nos toca. Não vemos o que está a nossa frente procurando por coisas mais fantásticas na internet. Não assistimos a um show direito porque estamos gravando no celular. O mundo está aqui, mas a tendência é colocarmos uma tela antes da realidade. Esses tempos ouvi uma teoria sobre a lua. Boba, simples, mas verdadeira. Em noite de lua cheia, nossas timelines ficam repletas de fotos, mas fotografia alguma vai mostrar a mesma beleza de olharmos para o céu. É a vida real. Pode ser brega, mas é isso!

O mundo está precisando de pessoas que vivam a realidade, que amem mais, que se emocionem e que tenham todos os dias motivos para agradecer por estar onde sempre sonharam. E, se não estão nesse lugar, que busquem. Nunca é tarde e não é a coisa mais fácil do mundo, mas podemos tentar, não é? Se der medo, vai assim mesmo! Precisamos buscar coisas que nos tragam frio na barriga, como o que estou sentindo agora, ao escrever na coluna do David.

*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 18/2

ANDRESSA XAVIER - INTERINA

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