02 DE JANEIRO DE 2018
DAVID COIMBRA
Milton Friedman, prêmio Nobel de economia, dizia que uma sociedade que coloca a igualdade acima da liberdade termina sem as duas.
Esse é o grande dilema das nações. Se há pouco controle do Estado, em nome da liberdade, os mais fortes amassarão os mais fracos e crescerá a desigualdade entre eles e os mais fortes terão cada vez maior poder para submeter os mais fracos.
No entanto, se o Estado é controlador em excesso, em nome da igualdade, os mais capazes e mais talentosos serão injustiçados, os medíocres ocuparão espaço imerecido e, em pouco tempo, os donos do poder que produz essa igualdade postiça tentarão se eternizar no mando e acabarão oprimindo os que lhes fazem oposição. Desta forma, uma nova casta se criará e, como previu Friedman, haverá outra vez desigualdade.
A tarefa do Estado é encontrar o equilíbrio: garantir proteção aos mais fracos e liberdade de ação aos mais talentosos, sem garantir privilégios a nenhum deles.
O Brasil sempre foi o país da desigualdade e dos privilégios. Sempre se disse que os poderosos estavam ao largo da lei. Poderiam fazer o que bem entendessem, que jamais seriam punidos. Bem, as coisas estão mudando. O braço da Justiça já alcançou alguns dos homens mais ricos do país. Mas o dinheiro sem influência política é frágil. A verdadeira força está na aliança entre os dois. Por isso é tão complicado responsabilizar um político que tenha liderança expressiva - porque ele representa muitos interesses. Ele reúne a força da política e do capital.
Dias atrás, a Justiça tocou no ombro de uma espécie de símbolo da impunidade dos políticos brasileiros: Paulo Maluf foi preso. Mas Paulo Maluf tem 86 anos, seu prestígio está abalado faz tempo, sua liderança se esfarelou.
O grande teste da Justiça, das instituições e do próprio país é o caso de Lula, e esse teste se inicia agora, em janeiro, com seu julgamento pelo TRF4. Ainda neste mês saberemos se o Brasil conseguirá se tornar uma nação.
Não vou entrar no mérito. Não vou conduzir meu raciocínio pela premissa de que Lula é culpado. Não é isso que importa. O que importa é que seus apoiadores, inclusive homens de vulto, como um Chico Buarque, defendem que ele não seja punido em nenhuma circunstância.
Entenda a gravidade da situação: Lula enfrenta meia dúzia de processos e em um já foi condenado em primeira instância. Seus adeptos alegam que ele é inocente em todos e que está sendo perseguido por um sistema formado por policiais, políticos, promotores, juízes e desembargadores. Em resumo, o próprio sistema judiciário brasileiro. Todos esses juristas, servidores públicos e agentes da lei estariam cometendo tamanho crime porque Lula seria o campeão da igualdade. Isto é: para manter os privilégios dos ricos, a Justiça brasileira estaria imputando acusações falsas ao único homem que realmente protege os pobres.
Há advogados que acreditam nisso, há jornalistas que acreditam nisso, há juízes do trabalho que acreditam nisso, há sindicalistas que acreditam nisso. Chico Buarque acredita nisso.
Se isso for verdade, o Brasil está perdido em definitivo. Tudo está podre, nada sobra. Cancelem a eleição, prendam esses juízes, esses policiais, esses promotores e esses desembargadores. E entreguem não a faixa presidencial a Lula; entreguem-lhe a coroa. Ele tem de ser o ditador eterno do Brasil. Ele tem de ser a lei.
Mas, se não for verdade, os apoiadores de Lula estão trabalhando para sabotar a democracia brasileira, o que é sério.
Porque, não sendo verdade, o sistema brasileiro é profissional, esses servidores públicos são honestos e haverá justiça tanto na condenação quanto na absolvição de Lula. Absolvido, ele estará livre para conduzir seu rebanho e, supostamente, lutar em nome da igualdade. Condenado, tem de ser punido. Se for o caso, preso. Em nome da igualdade.
david.coimbra@zerohora.com.br - DAVID COIMBRA
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