sábado, 6 de janeiro de 2018




Fraude na São Silvestre evidencia sujeira nas corridas de rua



Eduardo Alpendre/Fotoarena/Folhapress
Corredores participam da São Silvestre com número de inscrição clonado
Corredores participam da São Silvestre com número de inscrição clonado
Só uma coisa cresceu na mesma proporção que a popularidade da corrida de rua no Brasil: a quantidade de picaretas nas provas. Os problemas não são novidade, mas os escândalos têm sido cada mais recorrentes.

O último foi na corrida mais famosa e badalada do calendário do esporte, a São Silvestre. Corredores da assessoria esportiva Run Up, de Sorocaba, foram flagrados usando o mesmo número de inscrição. Pelo menos 12 participantes estão envolvidos na fraude. A equipe nega que tenha partido dela a iniciativa de passar a perna na Yescom, empresa que organiza a São Silvestre.

Talvez você se pergunte, por que, raios, alguém faria uma coisa dessa? Há algumas razões. O número limite de 30 mil inscrições para a prova, que precisa ser respeitado, porque a logística envolve muito dinheiro, um batalhão de 2.500 pessoas, 4.000 grades, 20 toneladas de gelo e 700 mil copos de água, guarda-volumes e o apoio de vários órgãos públicos da cidade de São Paulo.

Não é todo mundo que consegue se inscrever e milhares vão na pipoca, misturados aos corredores credenciados. Mas dessa forma, abre-se mão da medalha e a cobiça por uma delas, ainda mais numa corrida como a São Silvestre, é grande.

Parte do público simplesmente não quer desembolsar os R$ 170, valor da inscrição. E não por falta de recursos. "Tem gente que paga R$ 200 por mês de assessoria, usa tênis de R$ 800, mas não encara a corrida como um negócio. São uns folgados", disse o jornalista Harry Thomas Jr., 18 anos de experiência na área, autor da denúncia de vários casos de fraude nas provas.
Em 2015, por exemplo, um corredor largou uma hora antes do início da São Silvestre, enquanto outro fez o que passou a ser comum entre os trambiqueiros do esporte, cortou caminho. Isso mesmo. Eles largam, pegam um táxi que os deixa num ponto adiantado da prova. Nesse caso, a suspeita é de que ele tenha usado o metrô.

Em abril do ano passado, um deles foi denunciado por ter cortado caminho na Meia Maratona do Rio. Ele chegou entre os primeiros 100 corredores dos mais de 7.000 inscritos, apesar dos seus 61 anos. Foi desmascarado porque não passou pelos pontos de controle.
Outro problema que a corrida amadora tem enfrentado é o doping. Não há exigência de testes para a categoria. Nem teria por que, mas nos bastidores fala-se cada vez mais de casos de uso de substâncias proibidas entre os atletas profissionais e que obviamente podem beneficiar os amadores.

O mais popular é o eritropoietina, EPO, facilmente encontrado para comprar pela internet. "Há várias substâncias, mas ele é o queridinho dos corredores", diz Thomas Jr. É um hormônio que aumenta a oxigenação muscular, aumenta a energia e melhora a performance.

A corrida de rua é hoje o segundo esporte mais praticado no país. Teve o seu boom por volta de 2005 e não parou mais de crescer. É diversão, terapia, socialização. Mesmo entre praticantes amadores o esporte é levado a sério e essa onda de mau-caratismo tem deixado muita gente revoltada.

Resta às empresas que organizam as provas aumentar a fiscalização e processar os trapaceiros para que sintam ao menos no bolso suas atitudes. As assessorias esportivas também precisam ser responsabilizadas e, se for o caso, banidas juntamente com os corredores. 



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