Paulo Visentini e o século XXI
Esse mundo velho sem porteira nunca foi muito fácil de entender, desde antes da invenção da roda até as rápidas, enormes e estonteantes mudanças das últimas seis ou sete décadas. O mundo nunca mudou tanto nem tão rápido, e nós, como disse Alvin Toffler, estávamos chocados com o futuro, já lá pelos anos 1970. Aumentou a voltagem do choque. Século XXI - Impasses e conflitos (Leitura XXI, 134 páginas), do consagrado professor e historiador Paulo Fagundes Visentini, titular de Relações Internacionais na Ufrgs, doutor em História pela USP e pós-doutor em Relações Internacionais pela London School of Economics, com grande poder de síntese, trata dos temas mais candentes do ainda breve e tumultuado século XXI.
Iniciando com o fim da URSS e a desorganização internacional dos anos 1990, o fim da guerra fria e a guerra na Iugoslávia, passando pelo atentado de 11 de setembro de 2001, o terrorismo e a Primavera Árabe, e seguindo com a projeção mundial do dragão chinês capitalista, Visentini nos mostra que não chegamos ao "fim da história" como diziam alguns apressados. A história segue e, pelo visto, segue mais rápida e tumultuada, com globalização, disputas econômicas e políticas, movimentos nacionalistas, avanço de grupos terroristas e guinadas para a direita.
A globalização, um processo desequilibrado e com conexões globais forjadas, mantidas e destruídas por Estados nacionais, companhias, grupos e indivíduos, trouxe benefícios para uma camada da população dos Estados Unidos e prejuízos para outra. Nessa divisão, Trump surge fora da curva, sem experiência ou inteligência política, para aumentar a confusão, ao menos enquanto não for afastado do cargo, o que é bem possível. Visentini, em sua obra sintética, mas abrangente, procura construir, por sobre a vertigem dos fatos, uma lógica capaz de explicar os conflitos de nosso tempo.
Na apresentação, escreveu o professor Sergius Gonzaga: "Tentar entender este processo que envolve a ascensão e o declínio de grandes potências imperiais, os confrontos bélicos, as guerras civis, os atos terroristas, os novos pactos internacionais, dentro de uma ótica que transcenda o mero discurso ideológico e privilegie as análises geopolíticas, eis o projeto a que se propõe o autor deste livro". Com razão, a análise do professor Gonzaga é importante e inspiradora num momento em que muitos intelectuais, especialmente historiadores, trabalham com intenções e métodos para tentar impor visões partidárias, ideológicas e/ou engambelar o leitor com outros interesses, inclusive meramente comerciais.
É preciso, sim, voltar à racionalidade, à ciência e aos estudos que privilegiem a verdade, o diálogo pacífico e produtivo, e a busca de caminhos melhores. Este livro resultou de uma pesquisa sistemática de muitos anos e teve a colaboração dos ministérios das Relações Exteriores e da Defesa, CNPq e Capes, e participação de pós-graduandos e bolsistas. a propósito...
Além do registro atento dos acontecimentos tumultuosos das últimas décadas, sem ranços partidários e ideológicos, o professor Visentini aponta algumas tendências e caminhos para solucionar os grandes problemas internacionais: as forças de renovação em movimento; a ampliação das conexões internacionais, da alfabetização, da digitalização, do consumo, da tecnologia; e a emergência de novos polos de poder podem nos trazer estabilidade.
Políticas, organizações e ideologias defasadas devem ser trocadas por uma visão de conjunto, que poderá deter a escalada frenética de conflitos internacionais que nos apavoram. (Jaime Cimenti) - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/01/colunas/livros/607644-ulisses-de-joyce-estudado.html)
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