sexta-feira, 12 de janeiro de 2018



Auto ajuda-te a mim mesmo 

Eu estava no lançamento de um livro e disse para o editor da obra que pensava em escrever um livro intitulado: Como escolher o seu manual de autoajuda? Não sei se acreditando no meu potencial ou na possibilidade de faturar um monte, ou nas duas coisas, o editor me disse que aguardava ansiosamente pelo original. 

Estou devendo a encomenda para o editor, mas ainda não desisti da empreitada. Fiquei sabendo que o livro mais vendido na Amazon brasileira, somando impresso e digital, foi publicado em 1936. Nada de Paulo Coelho, Dan Brown ou John Grisham. O best-seller é um clássico da autoajuda: Como fazer amigos e influenciar pessoas, do norte-americano Dale Carnegie (1888-1955), que já passou da 50ª edição. 

Li o texto de Carnegie quando eu tinha uns 20 anos. Ele preconiza otimismo, bons relacionamentos, não entrar em polêmicas inúteis (a gente ganha a discussão não entrando nela), respeitar a autoestima alheia, dizer bom dia, obrigado, com licença e elogiar com sinceridade. Mesmo sabendo que os humanos têm o comportamento que têm, que não são anjinhos, 

Carnegie estimula-nos a diminuir, ao menos, nossa vaidade gigante e nosso autointeresse, e a enfrentar as vaidades, os isolamentos e os interesses alheios, procurando viver melhor. Livros de autoajuda sempre existiram, a começar com a Bíblia, passando por O poder do pensamento positivo, de Norman Vincent Peale; obras de Anthony Robbins, Lair Ribeiro, Mario Sergio Cortella, Augusto Cury e outros, que ajudam os leitores a se ajudarem e ajudarem, também, merecidamente, os autores. 

Daí o título brincalhão deste texto: Autoajuda-te a mim mesmo. Todo mundo se ajuda, fica feliz, e o mundo segue, com novos autores e novas obras, mais ou menos originais. Uma grande pesquisa de Harvard, desenvolvida há mais de 75 anos, o mais longo estudo sobre adultos, com 724 meninos que tinham uns 20 anos em 1938, metade da elite e metade dos bairros pobres de Boston, mostrou, depois de acompanhamento minucioso da vida dos participantes, resultados interessantes, que tem a ver com livros de autoajuda. 

Vidas mais longas e mais saudáveis, segundo a pesquisa, têm a ver com bons relacionamentos familiares, sociais e profissionais. Nos Estados Unidos, uma em cada cinco pessoas se queixa de solidão. Quem vive só vive menos e tem mais doenças. 

Bons relacionamentos nos deixam mais felizes e saudáveis. E não se trata do número de relacionamentos, mas sim da qualidade dos mesmos. Bons relacionamentos fazem bem para a memória. Somos humanos, complicados, com nossas relações complicadas que não se encaixam tão bem, com tanta perfeição e com tantas cores quanto as peças de um Lego. 

Mas é o que temos para hoje e sempre. E, nesta passagem rápida pelo planeta, onde, por vezes, parece que não temos tempo para nada, fundamental o tempo para o amor e para os bons relacionamentos. "A vida é a arte do encontro", falou Vinicius de Moraes. "Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?", afirmou Carlos Drummond de Andrade.   

a propósito... 

Quem sabe escrevo o Como escolher seu manual de autoajuda? 

Seria interessantíssimo ajudar os leitores a escolherem a melhor maneira de serem ajudados, seria ótimo me ajudar, ajudar meu editor, o distribuidor e as livrarias, e ajudar os eternos autores de obras que nos auxiliam, com seus fantásticos e milenares ensinamentos, a viver melhor conosco, com os outros, com o planeta e com os demais seres vivos. 

Só não esqueça que o melhor livro de autoajuda ainda está por vir. Sempre estará. As pessoas e o mundo vivem mudando. Não se desespere, não se preocupe tanto, não desanime. Quem sabe, você não escreve seu próprio livro de autoajuda? Bons relacionamentos, boa sorte, boa vida e boa (auto)ajuda! (Jaime Cimenti) - Jornal do Comércio 

(http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/01/colunas/livros/605307-elena-ferrante-se-abriu.html)

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