23 DE JANEIRO DE 2018
CARLOS GERBASE
NÃO É NÃO! SIM É SIM!
Lá estava eu, no final de 2016, como convidado num show d?Os Replicantes no bar Opinião, comemorando o relançamento do nosso compacto duplo de 1985, quando o palco foi "invadido" pelas três garotas da banda 3D, que haviam feito a abertura do espetáculo. Com a ajuda da Júlia (atual vocalista dos Repli), elas mostraram alguns cartazes para o público. O que ficou na minha memória era o que gritava "NÃO É NÃO!".
A reação dos espectadores foi de absoluto apoio. A minha também. Qualquer movimento que combata o estupro, que denuncie a misoginia, que lute por igualdade de direitos para as mulheres, que tire da cabeça dos homens que eles têm o direito de constranger o sexo oposto com assobios na rua, com piadas infames no trabalho, ou com insinuações grosseiras no bar, tem meu absoluto apoio. Por isso, cantei, dancei e pulei ao lado das bravas (e queridas) roqueiras feministas.
Alguns minutos depois, enquanto descansava nos camarins, aguardando para um último retorno ao palco - esses shows com convidados de formações antigas têm a salutar característica de proporcionar intervalos estratégicos para roqueiros meio fora de forma - tive a ideia: era preciso complementar o recado. Peguei o primeiro pedaço de papel que achei e, com um pincel atômico meio seco, consegui escrever : "SIM É SIM!". Quando voltei ao show, mostrei o improvisado cartaz para os espectadores. Me arrisco a dizer que todas e todos compreenderam e apoiaram meu cartaz.
Nos últimos tempos, criou-se uma suposta polêmica. De um lado, as atrizes que, vestidas de preto no Globo de Ouro e tendo Oprah como porta- voz, reafirmaram sua luta contra os homens abusadores. Do outro, atrizes francesas, capitaneadas por Catherine Deneuve, que defenderam a liberdade sexual das mulheres contra os golpes reacionários que, surfando calhordamente no saudável sentimento antimachista, censuram os corpos e atacam o erotismo.
Fora as inevitáveis questões semânticas dos dois discursos, acho que os cartazes resumem bem a questão. "NÃO É NÃO!", e quem insistir é um chato e, possivelmente, um criminoso. "SIM É SIM!", e quando a livre e inequívoca resposta positiva acontecer - na rua, no trabalho ou no bar - que a felicidade seja infinita enquanto dure.
CARLOS GERBASE
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