Dois dias gloriosos do Sala de Redação
Ontem, como diriam os francófilos, fiz minha rentrée no Sala de Redação. Havia deixado o programa em 2014, depois de um período... agitado, para usar um eufemismo.
Houve dias ruins, como os das desagradáveis brigas com o Sant?Ana. Mas alguns foram ótimos. Dois, em especial, considero não menos do que gloriosos. Ambos têm a ver com o momento pelo qual o Brasil passa hoje.
Um foi quando o então ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, entrou no programa pelo telefone, a fim de falar das obras para a Copa do Mundo. Importante: sempre fui a favor da Copa e continuo achando que o Brasil deveria tê-la realizado. Mas não da forma como o fez.
Naquele dia, questionei Rebelo a respeito dos estádios de Brasília, Manaus, Cuiabá e Natal. Não seria um gasto exagerado e dispensável construí-los, levando em conta que se poderia fazer a competição em oito sedes? Rebelo disse que não. Argumentei que, nesses lugares, há pouco público para o futebol e que os estádios se tornariam supérfluos depois da Copa. Ele se irritou. Discutimos. O Pedro Ernesto apartou.
Hoje, esses quatro estádios servem para a realização de casamentos ou para repartições públicas, estão praticamente abandonados e geram prejuízos de milhões a cada ano. O de Brasília foi o segundo mais caro do mundo, perdendo apenas para Wembley. Só nestas quatro obras, fora outras superfaturadas, como a do Maracanã, o Brasil gastou e gasta um volume de dinheiro que poderia salvar vidas na saúde, na educação e na segurança. Foram bilhões roubados ou simplesmente jogados fora.
Por que se permitiu esse desperdício criminoso? Porque Lula queria fazer proselitismo no Norte e no Nordeste. Ninguém, até agora, foi responsabilizado por tamanho escândalo, absurdo que, por si só, deveria ser o suficiente para 10 impeachments.
Outro programa do Sala do qual me orgulho foi o do dia 1° de março de 2012. Já escrevi acerca desse dia e escreverei de novo e de novo e de novo. A gravação da parte a que me refiro está no YouTube. Quem lá colocou queria que fosse contra mim, e é maravilhosamente a favor. Vá lá. Digite "David Coimbra xilicando (sic) no Sala de Redação". Na gravação, falo sobre a interferência de Dilma para que a reforma do Beira-Rio fosse concluída pela Andrade Gutierrez. A empreiteira não queria mais fazer a obra, Dilma ligou para o presidente-executivo do grupo, Otávio Marques de Azevedo, e esbravejou:
- É o meu clube, é o meu Estado, não há hipótese nenhuma de a empresa sair que nem cachorro e deixar todo mundo de pincel na mão. Quero que o caso da Odebrecht seja inspiração de vocês. A brincadeira termina aqui. O "caso da Odebrecht" a que ela se referia era o do estádio do Corinthians, construído "a pedido" de Lula.
Fiquei abismado com o episódio e disse isso no Sala.
- O que significa essa pressão? - Perguntei. - Qual é o poder que um presidente da República tem para obrigar uma empreiteira a fazer ou não uma obra? Que tipo de relacionamento é esse?
Quando alguém observou que eu estaria "insinuando" algo, rebati que não estava insinuando, estava afirmando, "com todas as letras", que aquela espécie de chantagem exercida por Dilma sobre a AG era suspeita.
Ainda não havia Lava-Jato. Mas as evidências estavam lá. Era tudo muito óbvio e tudo continua óbvio. E antes, como agora, bastava olhar para ver.
DAVID COIMBRA
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