quarta-feira, 10 de janeiro de 2018


10 DE JANEIRO DE 2018
DAVID COIMBRA

O dia em que Brizola chorou


Lembro do dia em que Brizola chorou. Foi bem no começo dos anos 1980. Ele havia perdido a sigla PTB para a deputada Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio. Estava inconsolável. Escreveu as letras P, T e B numa folha de papel e a rasgou diante das câmeras de TV, para depois acusar o general Golbery de ter liderado a trama que lhe tirou o histórico partido trabalhista.

De fato, foi uma rasteira de Golbery em Brizola. O PTB era o partido de Getúlio e Jango, e ainda gozava de prestígio entre os trabalhadores. Ao apartar Brizola da sigla, Golbery diminuiu a força de ambos. O PTB se tornou meio que um partido de locação, que trocava apoio por cargos, o que, aliás, faz ainda hoje. E o novo partido de Brizola, o PDT, tornou-se nada mais do que isso: o partido de Brizola.

Quando o PT surgiu, mais ou menos na mesma época em que Brizola chorou, a crítica que os petistas faziam ao PDT era exatamente a submissão irrestrita da legenda às vontades de um único homem. O PDT era um partido que tinha dono, diziam. Era o partido do caudilho.

Hoje, o PT se transformou em um partido de um homem só. Hoje, o PT existe apenas para tentar salvar Lula da cadeia ou, em último caso, da ignomínia pública.

Uma pena. Há, no PT, homens realmente sérios e bem-intencionados. O PT foi, por algum tempo, um partido de verdade. O único partido de verdade do Brasil.

Olhe para o resto: a Arena produziu diversos sucedâneos envergonhados, que, assim que se esgotavam, mudavam de nome para tentar mudar de passado: PDS, PFL, Democratas, PP. Eles poderiam ser uma direita propositiva, poderiam apresentar uma agenda liberal responsável, mas qual o quê. Não há mais, entre os que se dizem liberais, homens com a grandeza intelectual de um Roberto Campos ou de um Simonsen.

Já o PSDB nasceu para ser uma espécie de social-democracia misturada com democracia cristã, algo meio europeu, com ares de modernidade. Covas era um Adenauer, Fernando Henrique era um Mitterrand. Virou o partido do Aécio que achaca 2 milhões de um empresário corrupto e do Serra que leva um copo de vinho na cara por ter chamado uma ministra de namoradeira.

Mas o pior de todos é o PMDB, partido que não é partido, é um abrigo de políticos em busca de emprego. Se há governo, o PMDB é a favor.

Coitado do eleitor brasileiro. Criticam-no, dizem que escolhe mal, mas ninguém fala do cardápio que lhe apresentam. Imagine você que, em 2014, ofereceram-lhe Dilma e Aécio. Era uma ou outro. É como se você chegasse a um restaurante e só tivesse moela e bife de fígado. O que um homem deve fazer, numa hora dessas? Ao pensar nesse drama, vem-me à memória a manchete do jornal argentino Olé, quando Brasil e Inglaterra disputaram uma semifinal na Copa de 2002: "Que pierdan los dos!".

Agora, dizem ao eleitor que ele terá de optar entre Lula, Bolsonaro, Doria et caterva. Jesus. Às vezes, passar fome é uma bênção.

DAVID COIMBRA

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