terça-feira, 31 de outubro de 2017


31 DE OUTUBRO DE 2017
PARTIU RS

Um roteiro de fartura

Rota das Terras Encantadas oferece natureza, história e muita gastronomia típica

No início do mês, nossa equipe foi ao norte gaúcho percorrer parte de um roteiro que mostra a riqueza trazida por imigrantes alemães e italianos, com muita comida boa e hospitalidade: a Rota das Terras Encantadas, que passa por 16 municípios. Desta vez, visitamos apenas dois - e já tivemos muito o que fazer.

Nosso tour começou em Victor Graeff, na Praça Tancredo de Almeida Neves, conhecida como a Mais Bela Praça do Rio Grande do Sul. O lugar conta com mais de 300 esculturas feitas nas árvores, em um trabalho cheio de detalhes mantido há 35 anos.

- O maravilhoso é que a gente vê as esculturas crescerem. Eles plantam, elas vão crescendo e, de repente, transformam-se numa imagem. É muito legal - diz a empresária Solange Savadinstzki, moradora de Victor Graeff.

Seguindo para o interior do município, chegamos a jardins com mais de 500 tipos de plantas.

- Começou com a minha mãe, em 1998, porque ela tinha uma preocupação muito grande em deixar o jardim da casa organizado e de tentar juntar o máximo de espécies possíveis - conta a florista Anegrid Gnich dos Santos. - O cuidado com as plantas é muito grande. A gente passa o ano todo trabalhando, podando.

Foi ali que começou o Caminho das Topiarias, Flores e Aromas, que integra a Rota das Terras Encantadas. Ele continua na casa da Família Schultz, onde o cenário é um convite ao descanso, e a mesa, à comilança.

DÁ ATÉ PARA ESCOLHER: ALEMÃO OU ITALIANO

Anualmente, Victor Graeff faz a Festa Nacional da Cuca com Linguiça, mas quem a visita em outras épocas também não sai de lá sem provar a combinação típica alemã. Seis propriedades fazem parte do Caminho das Topiarias, que, com café da manhã colonial, almoço e lanche da tarde, custa R$ 65 por pessoa - é preciso agendar.

Se você preferir a gastronomia italiana, pode fazer a Rota della Cuccagna, que, em italiano, significa fartura. Também parte das Terras Encantadas, a rota percorre cinco propriedades do município de Tapera e custa R$ 95. No restaurante da Família Dallanora, o cardápio tem sopa de capeletti, polenta, massa caseira, tortéi, canelone e carnes de frango e porco. É o próprio dono, Celso, quem faz questão de servir e conversar com os clientes.

Na casa da Família Rizzi também se produz o vinho, e quem vai lá pode conhecer o trabalho do proprietário, Clemente Rizzi, como artesão. Até a pipa para envelhecer o vinho foi feita por ele.

O roteiro continua na propriedade da Família Crestani, que busca guardar a história dos antepassados italianos. Há uma casa, por exemplo, construída há 90 anos e ainda totalmente preservada. O banheiro é mantido do lado de fora, como antigamente. Entre os móveis, quase centenários, está o berço usado pelo aposentado Dorvalino Crestani há quase 80 anos.

- Meu avô construiu essa casa e ela continua de pé. Foi onde eu nasci, em 1927 - recorda.

Nosso passeio terminou no Chá da Nona, um café estilo colonial preparado e servido pelos anfi- triões - com música italiana e muita fartura, claro.

Municípios que fazem parte da rota

Boa Vista do Cadeado, Boa Vista do Incra, Colorado, Cruz Alta, Fortaleza dos Valos, Ibirubá, Lagoa dos Três Cantos, Não-Me-Toque, Quinze de Novembro, Saldanha Marinho, Salto do Jacuí, Santa Bárbara do Sul, Selbach, Tapera, Tio Hugo e Victor Graeff.

debora.padilha@rbstv.com.br


31 DE OUTUBRO DE 2017
CARLOS GERBASE

ARTE E CIÊNCIA: DUAS IRMÃS

Meu pai era médico, minha mãe, dona de casa. Tiveram duas filhas, ambas médicas, e quatro filhos: dois engenheiros, um médico e eu, a coisa mais parecida com um artista que surgiu nessa respeitável prole. O que aconteceu comigo? Alguma mutação inesperada em meu DNA? É difícil falar em ambiente e educação, já que os seis filhos e filhas percorreram trajetórias bem semelhantes na infância e na adolescência. Mas não leram exatamente os mesmos livros, nem ouviram os mesmos discos, nem foram nos mesmos bailes. E, como diz a sabedoria popular, os bailes é que estragam as pessoas.

O mais provável é que tenha sido um pouco de tudo. Algum evento poderoso de meu passado - ler A Chave do Tamanho, de Monteiro Lobato, dançar um compacto de Chuck Berry, ou assistir a O Professor Aloprado prestando mais atenção em Stella Stevens do que em Jerry Lewis - interagiu com os mecanismos genéticos que fabricavam minha personalidade, e o resultado é esse "eu" que carrego hoje, para o bem e para o mal. Pronto! Acabo de encontrar uma explicação científica para minha tendência artística.

Mas o caminho inverso também é comum. Minha irmã Maria, médica e cientista, faz vídeos lindos das suas viagens. Meu irmão Zeca, engenheiro mecânico, é um fotógrafo incrível. Meu irmão Luiz, engenheiro eletrônico, agora é piloto de drone e conta histórias usando alta tecnologia. Minha irmã Andréa, dermatologista, é uma colecionadora de antiguidades. Pra completar, meu irmão Antonio, médico especialista em saúde pública, inaugura sua mostra Relevos Oníricos - Monotipias no próximo dia 6, às 19h, na Galeria de Arte Paulo Capelari (Rua Cel. Bordini, 665). Aposto que o Dr. José e a Dona Léa nunca cogitaram em colocar no mundo tantos artistas.

O físico David Bohm explica que tanto o artista quanto o cientista têm necessidade de "descobrir e criar algo inteiro, belo e harmonioso. No fundo, é o que um grande número de pessoas em todas as esferas da vida buscam quando tentam escapar da monótona rotina diária." Arte e ciência, assim, são duas irmãs ocupadas com a mesma tarefa: substituir o tédio pela criação. E nós, Gerbases, vamos nos ocupando também. Pelo menos enquanto não chega a hora do próximo baile.

gerbase@pranafilmes.com.br

31 DE OUTUBRO DE 2017
DAVID COIMBRA

A feiticeira e o comunista


Certa vez, uma amiga da Marcinha recebeu flores de um admirador. Ele se identificava em um pequeno cartão, onde escreveu a seguinte dedicatória:

"Para as batatas da perna mais bonitas da cidade".

A amiga da Marcinha ficou furiosa:

- Onde já se viu dizer isso para uma mulher?!

Lembro sempre dessa história quando alguém fala em panturrilhas. O que não é tão raro: talvez você se espante em saber, mas há inúmeros apreciadores de panturrilhas por aí, e não é de hoje. Quando eu era guri, um amigo me disse que adorava as batatas das pernas da Elizabeth Montgomery, atriz da série de TV A Feiticeira.

Gostava daquele seriado, embora preferisse Perdidos no Espaço. Havia uma brincadeira que fazíamos: grudávamos os cotovelos no corpo, balançávamos os antebraços e repetíamos, com voz pretensamente metálica:

- Perigo! Perigo! Uma velha sem umbigo!

Uns diziam "imbigo".

Era para ser uma paródia do Robot, o melhor personagem do seriado. Isso mostra como Perdidos no Espaço era popular e como nós éramos bobos. Menos, claro, o fã das panturrilhas da feiticeira. Esse sabia das coisas. Depois que ele falou aquilo, passei a reparar nas pernas de Samantha, o nome da protagonista no seriado. 

Vez em quando, ela aparecia em breves minissaias, sobretudo quando interpretava sua própria irmã, Serena, que, ao contrário de Samantha, era rebelde e insinuante. Serena era rock and roll, definitivamente. Como Serena, a loira Elizabeth metia-se debaixo de uma peruca preta e mandava um olhar selvagem para a câmera. Meu amigo estava certo: ela tinha pernas encantadas. Mas a melhor descoberta foi outra: foi de que a feiticeira má era mais interessante do que a boazinha.

Falo de Elizabeth Montgomery porque hoje é o dia de Halloween, data que agora é comemorada inclusive no Brasil. Essa é uma das festas que mais entusiasmam os americanos. Eles decoram as casas com motivos de horror e saem às ruas dentro das fantasias mais surpreendentes - outro dia, vi um cara vestido de mão amputada.

Aqui, nesta região do país, eles ficam ainda mais empolgados no 31 de outubro, porque a 25 minutos de trem do centro de Boston está Salem, a cidade das bruxas. No Halloween do ano passado, fui a Salem e quem lá encontrei? Ela mesma, Elizabeth Montgomery, só que em forma de bronze, em uma estátua que ergueram em sua homenagem no centro da cidade. Elizabeth está caracterizada de feiticeira, sorrindo, sentada em uma vassoura voadora.

Achei muito simpático da parte do povo de Salem prestar esse preito à feiticeira mais famosa da TV - ela visitou Salem, quando o seriado ainda estava em exibição, e lá gravou alguns episódios.

Salem poderia se envergonhar de ser a cidade das bruxas. Não foi bonito o que aconteceu para que o lugar ganhasse essa alcunha. Mas, não. Salem se orgulha e disso faz quase que sua razão de existir. É assim, a História não se apaga. A História os povos estudam, cultivam, aprendem com ela. E, às vezes, até lucram, como no caso de Salem.

Temos nós, em Porto Alegre, a nossa história. Não há por que negá-la. Por que mudar o nome da Avenida Castelo Branco? Por que apagar o registro do aluno Carlos Lamarca do Colégio Militar? E, finalmente, por que não ter um memorial a Luiz Carlos Prestes?

Prestes é personagem importante do Brasil e de Porto Alegre. Deve ser lembrado por tudo o que fez. De bom e de ruim. Conhecê-lo, conhecer sua história e o que representou não significa concordar com ele ou promover suas ideias. Significa que você sabe como foi o passado, talvez até o entenda. E, por entendê-lo, pode dizer se quer repeti-lo. Ou não.

DAVID COIMBRA


31 DE OUTUBRO DE 2017
OPINIÃO DA RBS

VIOLÊNCIA DISSEMINADA


Além de figurar como o sétimo Estado em número absoluto de homicídios, depois de registrar uma elevação de 8,9% de 2015 para 2016, o Rio Grande do Sul aparece como o segundo em número de chacinas no período, atrás apenas do Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, com um aumento de 21,7% nos casos de homicídios na mesma época, a situação só não é mais grave do que a do Rio de Janeiro e a de Fortaleza. Os dados demonstram o quanto a combinação de descaso histórico nas políticas preventivas de segurança com a crise nas finanças públicas pode levar a um quadro explosivo no âmbito da criminalidade, impondo medo generalizado.

Incluídos na mais recente edição do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os dados estão em consonância com a realidade nacional. No último ano, o país registrou o maior número de homicídios da história. Houve também um aumento de 58% no total de latrocínios nos últimos sete anos, em âmbito nacional, boa parte deles associados a mais registros de crimes contra o patrimônio. A gravidade da situação nacional não serve de consolo para o Estado, onde o temor de perder a vida em circunstâncias violentas é cada vez mais justificável.

O governo gaúcho tem feito o possível dentro das condições disponíveis, incluindo as financeiras, para enfrentar o avanço da criminalidade. A entrada em funcionamento da Penitenciária de Canoas, como alternativa para retirar presos em condições provisórias, é uma demonstração desse esforço. Mas é pouco. Violência nesses níveis exige ações mais efetivas, que são lembradas apenas quando há um fato incomum, como a divulgação de um levantamento como esse, para logo depois cair no esquecimento.

Os Estados não têm condições de agir como deveriam. É preciso que também o governo federal faça mais do que vem fazendo. Brasília segue devendo um plano nacional de segurança, e sua participação não pode se limitar à atuação da Força Nacional, que ajuda a reduzir a sensação de desproteção, mas não faz milagre. A estabilidade nos números registrada até agora acabou contribuindo de alguma forma para retardar as tentativas de solução. Com o agravamento das estatísticas, a necessidade de uma atuação coordenada em âmbito federal e estadual torna-se urgente.

O Rio Grande do Sul não pode se conformar com níveis de criminalidade que mantêm a população amedrontada, limitam seu direito de ir e vir e comprometem a qualidade de vida. Os gaúchos têm direito a um cotidiano de mais segurança e menos medo.

OPINIÃO DA RBS

31 DE OUTUBRO DE 2017
ECONOMIA

Planalto avalia autorizar FGTS para pagamento de consignado


MEDIDA PERMITIRIA SAQUE de 10% do saldo em pedidos de demissão

Uma medida provisória (MP) em preparação pelo governo federal criaria nova modalidade de saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). De acordo com a proposta, seria permitido aos trabalhadores que pedirem demissão retirar 10% do saldo para pagar empréstimos consignados, aqueles com desconto na folha.

Durante evento em São Paulo, ontem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, confirmou estudos sobre o uso do FGTS para pagamento de consignado:

- Já tivemos série de liberações, como a das contas inativas. Agora, estamos analisando se há mais algum espaço porque é importante assegurar que existam recursos disponíveis para financiamento de habitação, principalmente popular. O que puder ser feito, será.

A proposta, conforme o jornal O Globo, ainda contemplaria trabalhadores demitidos por justa causa, que pela atual legislação não têm direito ao saque. Também seria beneficiado quem deixasse o emprego com rescisão acordada com o empregador, forma de dispensa incluída na reforma trabalhista que entra em vigor a partir de 11 de novembro.

O saque para pagamento de empréstimos consignados, limitado a 10% do saldo da conta, seria autorizado nas operações em que o FGTS é dado como garantia do crédito consignado. A lei 13.313, de 2016, autoriza o uso do fundo como caução nessa modalidade. Mas as instituições financeiras só podem receber o dinheiro quando o trabalhador for demitido sem justa causa, em valor equivalente a 10% do saldo da conta, com a integralidade da multa de 40%. O teto de juro (3,5% ao mês) definido pelo conselho curador do FGTS para as operações foi considerado baixo pelo setor financeiro, o que vem emperrando a oferta desse tipo de empréstimo.

Um dos grandes apoiadores dos saques das contas inativas do FGTS, o Instituto Fundo Devido ao Trabalhador não poupa críticas. Para a entidade, a MP deixará os brasileiros mais endividados.

- Isso não vai aquecer a economia porque esse dinheiro vai direto das contas dos trabalhadores para os bancos. E sabe qual é a cereja do bolo? Vai estimular mais empréstimos de pessoas que já estão endividadas - afirma o presidente do Instituto, Mario Avelino.

Para ele, há ainda a ameaça de o FGTS se tornar insustentável. O jornal O Globo apurou que, nos próximos quatro anos, as retiradas do FGTS vão superar as entradas em R$ 56 bilhões, considerando depósitos, saques, novas operações de crédito e o retorno dos empréstimos. Essa conta poderia piorar: nesta semana, a Câmara deve votar MP permitindo que trabalhadores retirem recursos do FGTS para amortizar ou quitar dívidas com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Esse uso poderá levar ao saque de R$ 70 bilhões, valor 60% maior ao que foi retirado das contas inativas neste ano.

leandro.rodrigues@diariogaucho.com.br

segunda-feira, 30 de outubro de 2017



Setor financeiro direciona mais crédito para a economia verde

Eduardo Knapp/Folhapress

Bancos brasileiros estão destinando mais crédito para a economia verde. Em 2015, 16,7% dos financiamentos a empresas foram voltados a negócios identificados com processos mais limpos e socialmente corretos. No ano passado, essa participação cresceu para 18,8%.

A evolução está ligada à norma do Banco Central que inibiu o uso meramente marqueteiro da palavra "sustentabilidade" e obrigou cada instituição a formular suas políticas de responsabilidade socioambiental.
Na última década, bancos passaram a usar o conceito de sustentabilidade em suas estratégias de marketing, o que abriu espaço para discussões sobre a necessidade de regulação do tema no setor.

Em 2014, saiu a Resolução BC 4.327, como a forma de coibir o "greenwashing" (maquiagem verde) no setor e preparar as instituições para enfrentar riscos sistêmicos ligados ao ambiente, em especial mudanças climáticas. A norma não dita procedimentos, mas princípios que norteiam bancos ao formularem suas políticas socioambientais. Desde que entrou em vigor, os bancos estão sujeitos à fiscalização pelo BC.

GESTÃO DE RISCO

A resolução foi considerada pioneira entre os emergentes pela abordagem de risco -quanto mais um banco financiar empresas do setor de energias fósseis, mais exposto estará a um cenário de precificação de carbono, e sua política de crédito deve avaliar esses impactos futuros.

"A resolução trouxe a sustentabilidade para o centro do negócio em bancos grandes, médios e pequenos. Ela melhora a gestão de risco e a qualidade do crédito", diz Mário Sérgio Vasconcelos, diretor da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

A entidade monitora anualmente o percentual da carteira de crédito dos bancos que é dirigido à economia verde -setores que incluem energias renováveis, eficiência energética, agricultura, florestas, água, gestão de resíduos, construção, transporte, pesca e turismo. "Os bancos já avaliam as atividades que financiam com base nessas definições", afirma Vasconcelos.

Questões ambientais têm sido alvo de atenção do Banco Central nos últimos anos. Na crise hídrica que afetou o Sudeste em 2014, o BC tentou precificar a crise financeira que o país atravessaria caso a escassez de água levasse à incapacidade produtiva da agricultura e da indústria.

"Riscos ambientais e estabilidade financeira estão ligados", diz José Roberto Kassai, professor da FEA/USP e coordenador do Núcleo de Contabilidade e Meio Ambiente da USP. O mercado tem consciência de que a redução de riscos demudanças climáticas será feita via instrumentos financeiros, diz ele.

Quanto maior o risco ambiental, maior o custo do crédito para o setor, com impactos na valorização dos papéis negociados em bolsa. "Empresas de capital aberto com grandes externalidades já sentem esse impacto no preço das ações", diz Kassai.

ECONOMIA DE ÁGUA

A crise hídrica, por outro lado, representou oportunidade para a Empresta Capital, banco de microcrédito (empréstimos de até R$ 4.000) voltado para pequenos negócios e empreendedores informais cuja carteira ativa tem 11 mil clientes.

A empresa financia quem deseja investir em soluções de eficiência energética e de economia de água, especialmente em condomínios.

"Percebemos essa demanda bem forte com a crise de água em 2014, e a partir daí começamos a elaborar produtos específicos. Hoje, 10% da nossa carteira é de crédito para eficiência de água e energia", afirma Ricardo Assaf, que é presidente da Empresta Capital.

Em média, as melhorias trazem economia de água de 30% e redução de custos de até 15% para os condomínios. O programa deu tão certo que rendeu à empresa, neste mês, o prêmio na categoria sustentabilidade da "World Finance", uma das principais publicações inglesas sobre mercado financeiro.*

A terra e o dinheiro

Como os bancos têm adequado suas políticas às demandas ambientais

Anos 1960
Nos EUA, surgem as primeiras opções de fundos de investimentos que incluem variáveis sociais como critério, como os que excluíam empresas coniventes com o regime de apartheid da África do Sul


Anos 1980
São criados fundos com foco em áreas promissoras, como tecnologia da informação e energias limpas; preocupação com impactos ambientais chega ao project finance (grandes projetos de infraestrutura) e ONGs começam a cobrar bancos

Anos 1990
O Banco Mundial começa a incorporar políticas de salvaguarda; em 1999, é criado o primeiro índice de sustentabilidade, o Dow Jones Sustainability Index, da Bolsa de Nova York

2003
Pressionados por ONGs como a BankTrack, grupo de dez grandes bancos e a IFC (International Finance Corporation) lançam os Princípios do Equador. A partir daí, bancos passam a impor critérios socioambientais para financiar grandes projetos

2005
Lançado o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo (atual B3)

2012
Na Rio+20, Banco Central apresenta texto que dá origem à regulação do tema pelo setor financeiro no Brasil

2014
BC publica resolução que institui a política de responsabilidade socioambiental das instituições financeiras; norma obriga bancos a formular suas políticas de sustentabilidade

2015
Acordo de Paris é assinado e 195 países se comprometem a frear mudanças climáticas; setor privado, bancos e seguradoras participaram ativamente das negociações

2017
O FSB (Financial Stability Board), que coordena as entidades reguladoras do sistema financeiro, recomenda que bancos cobrem transparência em relação às informações ambientais das empresas que financiamento

Lutero e o exílio de Deus

Peter Endig/AFP
Igreja de Todos os Santos, em Wittenberg, onde Lutero pregou as 95 teses, que deu início à Reforma Protestante|
Igreja de Todos os Santos, em Wittenberg, onde Martinho Lutero pregou as 95 teses há 500 anos
Os clássicos gregos e romanos ilustram o que era a religião dos antigos. Na "Ilíada", os deuses entram na batalha, uns ao lado dos aqueus, outros, dos troianos.

Afrodite é ferida por um humano, Diomedes. A ninfa Tétis acode o filho em apuros, o herói Aquiles, e o presenteia com uma armadura divina forjada pelo olímpico Hefesto. O espírito do rio de Troia, Xanto, dá uma coça no campeão grego, que enchia com cadáveres as suas águas. Os deuses estavam entre os homens e com eles interagiam, o que fazia do mundo um jardim encantado.

O monoteísmo abraâmico começou a expulsar a divindade da Terra, e o movimento iniciado por Martinho Lutero há 500 anos pode ser considerado o apogeu desse processo. Com o reformador alemão, secundado pelo ainda mais radical João Calvino, Deus foi banido de vez do convívio com os homens. Não restou força terrena –sob a forma de santo, espírito ou sacerdote– capaz de restabelecer a conexão mística.


Nessa longa trajetória o cristianismo comportou-se, na sacada do historiador francês Marcel Gauchet, como "la réligion de la sortie [da saída] de la réligion". Os assuntos humanos se emanciparam da lógica religiosa.
Essa sem dúvida é uma forma elegante e plausível de contar uma longa e complicada história, mas é justo acusar também os ruídos ao redor.

O misticismo jamais foi suprimido ao longo da marcha cristã. Veja-se, no universo católico, o fervor do culto mariano, de que a devoção em Aparecida é vigorosa manifestação.

O pentecostalismo das transações misteriosas com o espírito divino é o ramo protestante que mais adeptos arrebata nas nações emergentes. Novas ondas de crenças "pagãs", mesmo entre os mais ricos, instruídos e descolados, parecem pregar a reconciliação do homem com a natureza. O cérebro humano, com toda a sua potencialidade e todas as suas vicissitudes, é bem mais antigo que a mais longeva das grandes religiões.


30 DE OUTUBRO DE 2017
DAVID COIMBRA

O que é liberalismo

Bem perto aqui de casa tem uma Agência de Planejamento Familiar.

Você sabe o que é uma Agência de Planejamento Familiar?

É uma clínica de aborto. Nos Estados Unidos, o aborto é legalizado em todo o país há mais de 40 anos. Em alguns Estados, não há sequer limite de tempo para que seja feito - a mulher pode se submeter a um aborto até o último dia de gravidez.

Deu-se profunda discussão filosófica acerca desse tema na Suprema Corte. A questão central era: quando o feto se torna uma pessoa? Como não se alcançou resposta conclusiva, os juízes deliberaram pelo princípio da liberdade do indivíduo: cabe à mulher decidir.

A liberdade do indivíduo é sagrada para essa lei mundana. Por isso, a propriedade do indivíduo, que é uma espécie de extensão do seu corpo, é inviolável. Tanto que, se você matar alguém que invadiu a sua propriedade, dificilmente será condenado por uma corte americana.

Assim, as associações têm direito de ter suas próprias regras, desde que não infrinjam a lei, claro. Tenho amigos que frequentam um clube sofisticado, na sofisticada cidade de Manchester by the Sea, onde não é permitida a entrada de quem está vestindo jeans. No Edifício Dakota, de Manhattan, onde foi filmado O Bebê de Rosemary e onde foi assassinado John Lennon, você só pode comprar um apartamento se for aprovado pelo condomínio. Madonna queria morar lá e foi rejeitada, no que acho que eles fizeram muito bem.

Seguindo a lógica da garantia à liberdade do indivíduo dentro da lei, chegamos às comunidades. Cada qual escolhe sua forma de viver, porque arrecada impostos em volume suficiente para lhe dar essa autonomia. No lugar onde moro, a prioridade é a educação das crianças. Os professores das escolas públicas ganham mais do que os das escolas privadas e os métodos de ensino são tão modernos quanto os do festejado sistema finlandês. Exemplo: os alunos não têm mais a obrigação de fazer tema.

Outras cidades e outros Estados são diferentes, têm outras prioridades, outras normas.

Esse é o tão falado liberalismo. O verdadeiro liberalismo defende a liberdade do indivíduo e não apenas a liberdade na economia.

Pelo liberalismo, qualquer expressão de pensamento é livre. Você pode ser nazista, nos Estados Unidos, pode ser racista, pode ser comunista, pode professar qualquer ideia, escrever livros, pintar quadros, esculpir estátuas a respeito dessa ideia, desde que não cometa atos que burlem a lei.

Ou seja: se você quiser, você abre o seu laptop e entra na loja virtual da Ku Klux Klan. Dá uma pesquisada e pode comprar um daqueles vestidos brancos que eles usam. O de algodão custa US$ 145, o de cetim, US$ 165. Então, você recebe o seu pelo correio, veste, dá um beijo na testa da mãe antes de sair de casa e vai queimar cruzes no Tennessee. Tudo isso você pode fazer, mas não pode perseguir negros e judeus. Se perseguir, será preso.

Veja só: o liberalismo lhe dá, inclusive, a oportunidade de exercer sua imbecilidade.

Não existe liberalismo no Brasil. Nem capitalismo. O capitalismo implica riscos que os "capitalistas" brasileiros se recusam a correr. O sistema brasileiro é um misto de patrimonialismo com paternalismo na economia e uma inverossímil convivência de permissividade e moralismo nos costumes. Difícil de dar certo.
DAVID COIMBRA

30 DE OUTUBRO DE 2017
EDUCAÇÃO

Em busca da Medicina, estudante vai fazer o exame pela sexta vez

Marcelo Garroni, 24 anos, era oficial temporário do Exército até pouco tempo, mas sempre sonhou ser médico. Já fez a prova do Enem cinco vezes e, em 2015, após retornar da missão de pacificação do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, decidiu se dedicar aos estudos. No ano seguinte, iniciou o cursinho pré-vestibular.

- Trabalhava durante o dia e estudava à noite. Não obtive média naquele ano para ingressar na universidade, então decidi abandonar meu emprego para me dedicar mais - conta.

Neste ano, Garroni passou a frequentar um curso direcionado a quem quer ingressar na Medicina. Morador da Capital, ele está avaliando vantagens e desvantagens de fazer faculdade em outra cidade. Embora tenha preferência pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), pretende utilizar a nota do Enem para conseguir uma vaga em uma das sete universidades federais do Estado.

Garroni tem feito outras provas para testar seus conhecimentos. Foi aprovado no curso de Medicina de cinco instituições particulares: Ulbra, Universidade de Passo Fundo (UPF), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Unisinos e Feevale. Mesmo sentindo-se preparado, confessa que, neste momento, a ansiedade para a prova é um incômodo:

- Estou confiante, mas esse é um momento crítico da minha trajetória. Toda a minha dedicação está prestes a ser testada. Sei que sou capaz, mas é inevitável sentir aquele frio na barriga.

O estudante sabe que precisa ter controle emocional e encontrar métodos para aliviar a tensão. Para isso, ele tem praticado atividades físicas e se permitido mais momentos de lazer.


30 DE OUTUBRO DE 2017
ARTIGO

O MONGE REBELDE


O monge tornara-se popular em toda a Alemanha. Surgido do nada, ele fascinara os alemães com sua coragem e destemor. Tornou-se, num relâmpago, herói nacional (na época, a nação estava dividida em 240 Estados). Ele repudiara a venda das indulgências, a compra de lugares no céu, próspero negócio estimulado pelo papado e pela casa bancária dos Fugger. Para Lutero, nem o Sumo Pontífice ou qualquer outro comissário agindo em seu nome tinha legitimidade para tal ação nefanda.

Encerrado o debate, o monge, que negou retratarse, afirmou que por ali ficava. Não tinha mais nada a dizer, e que Deus o protegesse. De fato, assim se deu, pois o príncipe-eleitor Frederico o Sábio lançou seu escudo protetor e os cavaleiros alemães, com suas espadas, asseguraram-lhe a vida, levando-o em segredo para o castelo de Wartburg, na Turíngia (onde Lutero começou a verter o Novo Testamento para o alemão). Evitaram assim que ele tivesse o triste destino de tantos outros reformadores que terminaram seus dias na fogueira.

O monge rebelde afirmava que a salvação só poderia se dar na relação direta do fiel com Deus. Acusou o papado de usurpar os antigos costumes das comunidades cristãs. De nada serviam as boas obras, as intervenções sacerdotais, os santos, a confissão ou qualquer outro recurso clerical que pudesse ser um sucedâneo à manifestação da vontade divina. Lutero tinha como modelo as comunidades cristãs primitivas, nas quais os fiéis escolhiam o seu guia espiritual.

O humanista Erasmo de Rotterdam percebeu as arrasadoras implicações mais profundas da rebeldia do monge e pediu que a Igreja Romana agisse com tolerância. Apelo tardio. Um crescente ódio tomou conta da cristandade e olhos sanguinários conduziram à Grande Guerra de católicos contra protestantes, infelicidade que se arrastou até a Paz de Westfália, em 1648.

Historiador chillin@terra.com.br

Nevoeiro

Uma estranha nuvem pairou sobre os deputados federais que barraram a investigação do Temer na última quarta-feira. Uma espécie de densa neblina que, na falta de uma correta definição meteorológica, se poderia chamar de neutralidade moral. As razões declaradas para poupar Temer variavam das protelatórias (no fim do mandato ele se explica) às pragmático-utilitárias (a economia melhora, não é hora de abater o presidente) às francamente indecentes (compraram o meu "sim", sim, e daí?). 

Dentro da nuvem, todas as razões a favor de Temer se misturavam, sem um contorno nítido. Às contra Temer só restou apelar para um sentimento básico de justiça - outra coisa que se perdeu no nevoeiro.

Curioso que a votação era para continuar ou estancar a investigação do presidente, mas todos os votos, pró e contra, foram para condená-lo ou absolvê-lo, como se a investigação já estivesse terminada. Ninguém parecia ter dúvida de que a investigação, se autorizada pelos deputados e julgada pelo Supremo, fatalmente concluiria pela culpa de Temer. Nem seus apoiadores confiavam que ele saberia se defender. O empenho dos pró-Temer em evitar a investigação, mais do que qualquer outra coisa, provou como eram graves as acusações. Os defensores de Temer acabaram sendo seus mais convincentes acusadores.

Temer fez o que pôde para ganhar na Câmara. Dizem que o ministro Henrique Meirelles foi ao Planalto quando soube que o presidente estava vendendo tudo para comprar votos a seu favor. Meirelles ponderou que a gastança de Temer estava afetando a economia, que o programa de austeridade poderia ser prejudicado, que... Parou quando viu que Temer o olhava de uma maneira estranha.

- O que foi, presidente?
- Nada, nada. Eu só estava calculando quanto você vale no mercado...

PAPO VOVÔ

O pai do nosso neto Davi, de cinco anos, estava lhe ensinando as regras do futebol. Por exemplo: quando um jogador derruba um adversário, isso se chama "falta". E o Davi: "De educação?".
L.F. VERISSIMO

sábado, 28 de outubro de 2017


iPhone 8 entra em pré-venda por preço à vista que vai de R$ 3.500 a R$ 4.800

Justin Sullivan/Getty Images/AFP
CUPERTINO, CA - SEPTEMBER 12: The new iPhone X is displayed during an Apple special event at the Steve Jobs Theatre on the Apple Park campus on September 12, 2017 in Cupertino, California. Apple held their first special event at the new Apple Park campus where they announced the new iPhone 8, iPhone X and the Apple Watch Series 3. Justin Sullivan/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
Já o iPhone X, que deverá custar a partir de mil dólares, deverá ser lançado no Brasil até o fim deste ano

Com a entrega prevista só para a próxima sexta-feira (3), o iPhone 8 e o iPhone 8 Plus já estão em pré-venda em sites de varejistas brasileiros. A página oficial da Apple não vai disponibilizar os modelos antes do lançamento na próxima semana.

A faixa de preço para o iPhone 8, já considerando descontos para compras à vista, varia entre R$ 3.500, para versão de 64 GB, e R$ 4.800, para a de 256 GB, segundo lojas on-line como Fast Shop, Lojas Americanas, entre outras.
O iPhone 8 Plus é encontrado com valores entre R$ 4.600 e R$ 5.400.

O modelos foram lançados globalmente em 22 de setembro, e parte do mercado considerou o desempenho das vendas decepcionante —o resultado oficial ainda não foi divulgado pela fabricante.

Os rumores de baixa demanda teriam inclusive levado a uma queda das ações da Apple em meados de outubro.

Há, porém, uma grande expectativa em relação ao próximo modelo a ser lançado neste ano, o iPhone X -que custa a partir de US$ 999, no site oficial da Apple. O valor equivale a R$ 3.240 na cotação atual, mas deverá subir ao chegar ao Brasil. As pré-vendas do novo iPhone começaram na sexta-feira (27) em alguns países. No Brasil, a previsão é que o lançamento ocorra até o fim deste ano, mas ainda não há data definida. 




Capitalização da Caixa ainda é obscura, e Temer pede ajuda ao TCU


BRASÍLIA - O presidente Michel Temer anda ligando para ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) para pedir atenção especial da corte a uma intricada e, por ora, obscura operação para capitalizar a Caixa Econômica Federal. O banco precisa tirar da cartola R$ 10 bilhões para poder continuar emprestando em 2018 —ano eleitoral.

A Caixa esteve no centro das pedaladas fiscais praticadas pela gestão de Dilma Rousseff. A petista, no mínimo, fez vista grossa ao uso indevido de dinheiro do banco no pagamento de despesas sociais do governo federal. Custou-lhe a cadeira.
Agora, o governo temerista divide-se em uma disputa política e técnica. O banco público está sob comando do fisiológico PP e tem mais da metade de sua cúpula entregue a partidos.

O pepista Gilberto Occhi já sondou o TCU sobre a engenharia da capitalização, expondo variadas e inventivas possibilidades para a operação. Desde usar dinheiro devolvido pelo BNDES ao Tesouro Nacional —hipótese vetada já na largada— a refinanciar uma dívida de R$ 10 bilhões que a Caixa tem com o FGTS. Esse débito, que vence em um prazo para lá de 15 anos, seria substituído por bônus perpétuos. O banco deve R$ 300 bilhões ao fundo do trabalhador.

Outra ideia seria repassar uma carteira de créditos em infraestrutura ao BNDES. São papagaios originados com recursos do banco de fomento, que seriam a ele transferidos para limpar o balanço da Caixa.

A secretária do Tesouro e presidente do conselho de administração da Caixa, Ana Paula Vescovi, já se levantou contra a sanha criativa. Diz que o banco tem condições de resolver internamente a questão. O BNDES reage insolentemente a quaisquer investidas sobre seu cofre.

O debate da capitalização é simultâneo à discussão sobre a Caixa tornar-se uma S.A. e ganhar o verniz da governança —primeiro passo rumo à venda de ações do banco estatal? Em meio à quizumba, Temer usa linha direta com a gerência do TCU.