terça-feira, 31 de março de 2009



A MALDIÇÃO DO PONTAL

Alguns vereadores de Porto Alegre querem que a Câmara ganhe o Troféu Trapalhada 2009. Estão fazendo um belo esforço para chegar a tão nobre fim.

Depois de aprovarem a lei que, apesar do aborrecimento de uma consulta popular, permitirá a construção de residências às margens do Guaíba, eles estavam muito felizes. Estouraram espumantes. Congratularam-se. Riram dos ecologistas fanáticos.

Debocharam da bicho-grilice dos anacrônicos. Aí apareceu o arquiteto oficial e botou a boca no mundo: 'Vocês desapropriaram metade do terreno do Pontal com essa emenda de Airto Ferronato que garante a preservação de 60 metros na orla'. Foi um balde de água suja e fria do Guaíba. Houve quem balbuciasse: 'Puxa, tentamos fazer o melhor'.

Ou quem se justificasse: 'O senhor devia ter nos falado disso antes'. Murchou geral.
Vale relembrar que a lei federal das áreas de proteção permanente prevê 500 metros de preservação à beira de rios com mais de 600 metros de largura. Mas, como se trata de uma área de urbanização consolidada, há margem (duvidosa) para interpretações.

Sem contar que uma comissão inventou, nos anos 1970, que o Guaíba seria um lago, embora essa pirueta jamais tenha sido consagrada, como se andou espalhando, por qualquer decreto governamental ou legislação, o que implicaria preservar apenas 50 metros (ou 30 metros, por ser área urbana consolidada).

Daí a indignação do 'urbanista', parece que o mesmo que, no governo de Alceu de Deus Collares, desempenhando uma função oficial, já sonhava em privatizar a beira do rio Guaíba. Neuzinha Brizola também preferia praia com lajota. Melhor ainda é com mármore.

Nos 60 metros preservados, segundo Airto Ferronato, a ideia é construir um 'cinturão verde, com uma avenida, um passeio público e uma ciclovia'.

Essas coisas visionárias e de interesse público que pegam na Europa atrasada (Holanda, França, Alemanha, Escandinávia) e enfrentam resistência ao Sul civilizado do Equador. O cinturão verde não cobriria só o Pontal, mas correria do Lami ao Centro da cidade.

É o que se chama de política de conjunto, de visão macro, até mesmo de concepção holística ou simplesmente de pensar sem o bolso. Ou a bolsa. Um empresário teria dito, no entanto, que para uma ciclovia e uma árvore de cada lado não se precisa mais de 5 metros de espaço. Sem dúvida, faz sentido. No Japão. Dependendo da árvore e da bicicleta, 2 metros.

Diante desse erro crasso (general romano que quis pegar um atalho e acabou encurralado e massacrado) dos vereadores, que impedirá os felizes residentes do térreo do Pontal de quase molhar os pés sem sair da rede, a correria foi geral. Que fazer? Que c...onfusão! Surgiu uma ideia fantástica. Eu coro só de contar. Ainda fico vermelho. E não só por ser colorado.

Estou com vergonha. Não posso acreditar. Bem, vou falar, é a minha obrigação de cronista, sou pago para isso. Lá vai. Tem vereador propondo, na maior cara de pau, na latinha, que o prefeito José Fogaça vete de novo o projeto aprovado. Assim ele voltaria à Câmara e poderia ser reformulado, salvando-se o precioso patrimônio dos investidores.

Eu tenho uma sugestão para os empresários do Pontal: desistam. Há uma maldição que atrapalha qualquer projeto que envolva essa área. Especialmente projetos de vereadores apressados. O atalho pode ser um caminho sem volta. Crasso que o diga. Salvo se o prefeito vetar.

juremir@correiodopovo.com.br


31 de março de 2009
N° 15924 - LUÍS AUGUSTO FISCHER


Sandra e o centenário

Estava pronto para escrever aqui umas teses sobre o centenário do meu time, o glorioso Sport Club Internacional, quando soube da morte de Sandra Jatahy Pesavento. As coisas se emabaralharam na minha cabeça, porque uma continuidade longa para os padrões de nosso país jovem, como é o caso do centenário, combina pouco com a interrupção, pela morte, da carreira de uma historiadora no auge de sua capacidade intelectual.

Fui aluno da Sandra por três semestres, no curso de História da UFRGS, na virada dos anos 70 para os 80, trinta anos faz. Mais ainda: fui seu monitor de História do Brasil, por dois anos, experiência decisiva na minha vida universitária.

(O contato próximo com um professor relevante pode alterar tudo, na vida de um aprendiz.) E não é exagero dizer que foi com ela que aprendi o principal do ofício, tanto no sentido imediato da administração da aula, quanto no sentido sutil da compreensão das tarefas do historiador.

Suas aulas eram sempre interessantes, creio que para todos os alunos. Debatia-se, lia-se, havia um vigor da atividade mental como deve haver sempre numa situação decente de aprendizagem. Havia por certo o benefício relativo da época: final da ditadura militar, nós alunos com grande vontade de formular mais claramente nossa crítica ao regime e nossas expectativas para o futuro, tudo isso passando pela História, é claro.

E a Sandra era uma interlocutora de grande valia, pelas exposições que fazia, pelas leituras que indicava, pela ótima capacidade de multiplicar os planos em análise – aqui a economia, ali a política, mais adiante a vida social, depois a cultura, na região e no país, etc.

Compartilhamos alguns trabalhos, eu já na carreira de professor de Literatura, minha formação central, ela saindo da história econômica para a área de história da cultura, das mentalidades, do cotidiano, enfim essa região menos árida e mais propícia para quem gosta de sutilezas analíticas, como era seu caso.

Algumas divergências filosóficas e outras de interesses intelectuais nos afastaram da convivência miúda; mas nada disso obscurece seu papel forte na minha vida e na das gerações que ela ajudou a formar.

Salvo alguma exceção notável (é o caso da professora Helga Landgraff Piccolo, mestra da Sandra e de tantos outros), a carreira de historiador no Estado era muito frágil, com pouca pesquisa empírica e muita submissão à ideologia de turno; Sandra Jatahy Pesavento, com destaque em sua geração, contribuiu muito para alterar este quadro, com trabalhos sólidos, atualização mental, rigor e uma saudável inquietude, que agora vai ficar na saudade.


31 de março de 2009
N° 15924 - MOACYR SCLIAR


Em defesa do neochurrasco

Se fôssemos paranoicos (e um pouco nós somos) diríamos que o Archives of Internal Medicine, publicação médica norte-americana, tem alguma coisa contra os gaúchos.

A revista acaba de publicar um vasto estudo, realizado por pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, abrangendo mais de meio milhão de pessoas acompanhadas desde 1995. Os resultados mostram que o consumo de carne vermelha e carnes processadas (presunto, salsichas, bacon) traduz-se em pequeno aumento (modest increases) do risco de mortalidade por doenças cardiovasculares e câncer.

O trabalho teve repercussão, inclusive por aqui; médicos brasileiros que comentaram a pesquisa citaram o Rio Grande do Sul como exemplo dessa correlação. Assim, no Amapá, a incidência anual do câncer de intestino é de 1,51 caso por 100 mil habitantes, enquanto no Rio Grande do Sul a incidência anual é de 28,5 casos por 100 mil habitantes.

Nos Estados Unidos, o Centro pela Liberdade do Consumidor, que obviamente quer ver as pessoas comendo mais carne (e outros produtos) tratou de minimizar os achados do estudo, dizendo que fatores ligados ao estilo de vida poderiam explicar os resultados. Devemos fazer a mesma coisa?

Não. O Archives of Internal Medicine é uma publicação respeitável; o estudo é sério, e levou em consideração possíveis causas de distorção. Mais do que isto, estudos similares apontam na mesma direção.

E faz sentido associar o consumo da carne (por causa da gordura e também do sal) com doença, principalmente carne assada: as altas temperaturas resultam na produção de substâncias cancerígenas. A pergunta é: o que a gente faz com esta informação, sobretudo numa região em que o churrasco faz parte da história e da cultura?

Em primeiro lugar, temos de aprender com as lições da própria história. O RS sempre foi carnívoro, o que era apenas natural, dada a facilidade de criação de gado no pampa.

A carne é uma abundante fonte de proteína, e isto certamente evitou os problemas de desnutrição comuns em outras regiões. Mas o predomínio da carne na alimentação (e nas churrascarias) aos poucos foi cedendo à diversidade, e neste sentido a imigração, sobretudo italiana, representou uma contribuição importante e sábia.

Com o sistema de espeto corrido, as pessoas comem não só carne, mas também saladas (que os antigos gaúchos classificavam como “pasto”), polenta, massa, frango, às vezes peixe (no passado, alimento exclusivo da Semana Santa). Além disso, é possível selecionar carne com menos gordura e usar menos sal.

Porque o churrasco deve, sim, ser preservado. Ele não é apenas uma refeição, é uma forma de convivência entre familiares e amigos, uma ocasião de trocas emocionais que certamente beneficiam a saúde, mesmo que isto não tenha sido quantificado (é mais difícil).

Precisamos criar um neochurrasco, baseado nas constatações da ciência. Criatividade para isto não nos faltará. E pode até, quem sabe, dar origem a um triunfal estudo a ser publicado no Archives of Internal Medicine.

- Culta, dinâmica, inteligente, Sandra Pesavento não deixou apenas uma notável contribuição à historiografia gaúcha e brasileira, deixou uma lição de vida. Sua história agora é parte de nossa história.

- Quem conhecia Marília Gabriela apenas como brilhante apresentadora teve uma bela surpresa ao vê-la na peça Aquela Mulher, de José Eduardo Agualusa, direção de Antônio Fagundes. O São Pedro de dona Eva Sopher aplaudiu-a de pé.

- 31 de março. Viva a democracia.


31 de março de 2009
N° 15924 - PAULO SANT’ANA


Exemplo de presídio atual

Quando escrevo sobre segurança pública, posso transmitir a ideia de que se trata de uma crítica às autoridades policiais e seus agentes, mas não é.

Sei do esforço que os policiais travam nesta quadra dramática da segurança pública, sem recursos humanos e materiais.

Mas é impossível deixar de registrar a pontualidade das ocorrências policiais que encerram assaltos, com uma frequência extraordinária.

Não há atividade humana que não seja atacada pelos assaltantes em nosso meio.

Eles roubam creches e escolas, asilos, até mesmo hospitais.

A cada dia que passa, se especializam mais os assaltantes em roubar locais excêntricos.

A última aconteceu na semana passada na Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, lá onde chega a famosa procissão.

Estavam os fiéis rezando no recinto da igreja, o sagrado recinto da igreja, quando entraram os assaltantes e anunciaram a que vieram: obrigaram os fiéis a se deitar no piso da igreja e fizeram a limpa em todos os pertences.

Quem estava de pé teve de se deitar, quem estava ajoelhado teve de se deitar. Rezou, tem que deitar.

Os assaltantes do culto fugiram a pé e foram presos por populares ou seguranças quadras depois da igreja.

Um dos assaltantes declarou que estava vagando pela cidade, à procura de pessoas para assaltar. A primeira concentração de pessoas que encontrou foi na igreja: assaltou-a, disse ele, demonstrando indícios de que estava drogado.

É assim, legiões de assaltantes saem pelas ruas à procura de vítimas para seus assaltos.

Não há polícia que baste. Os criminosos cresceram em 10.000% nas ruas. As forças policiais diminuíram em 500%: a Polícia Civil tem hoje o efetivo de pouco mais de 5 mil homens, o mesmo número de 50 anos atrás. Um absurdo!

De lá para cá, a população cresceu pelo menos em 200%. É desigual.

Da mesma forma, quando escrevo sobre o caos prisional, ultimamente pregando a parceria público-privada nos presídios, não estou de forma alguma criticando os agentes penitenciários e as autoridades carcerárias. Eles dão tudo de si para levar adiante a sua missão.

Mas o sistema entrou em colapso.

Para dar uma ideia dos grandes serviços que prestam os agentes penitenciários, escreveu-me o administrador do Presídio Estadual de Novo Hamburgo, logo aqui, às margens da Capital.

Foram construídas no presídio de Novo Hamburgo várias melhorias, entre elas um salão multiuso, com 150 metros quadrados, que serve para a ressocialização dos presos, na qualificação de mão-de-obra prisional, educação, ensino religioso, informática etc.

Foi firmado um convênio entre o presídio e a Associação de Assistência ao Menor em Oncologia, com os apenados realizando a digitação das notas fiscais, dentro do programa estadual “A Nota é Minha”, auxiliando assim as crianças com câncer.

Além disso, todo o presídio foi cercado com tela e erigido um passeio público em torno dele, antes inexistente.

Nos fundos do presídio de Novo Hamburgo há uma horta comunitária.

Foi firmado também um convênio com a prefeitura, pelo qual se ampliou a mão-de-obra dos presos, que são agora 70 a ter atividade laboral, quando eram apenas 50.

No Presídio Estadual de Novo Hamburgo, 100% dos presidiários desenvolvem trabalho, tanto interna quanto externamente.

E o presídio de Novo Hamburgo, com todas essas exemplares realizações, é dirigido por um agente penitenciário, o sr. Ivan Carlos da Silva.

Viram como não é questão de o presídio ser público ou privado? Qualquer um dos dois sistemas pode ser exitoso. O que se precisa urgentemente é da construção de vários, inúmeros presídios.

E, importante: todos têm de ter pequena capacidade. Têm de ser muitos os presídios e poucos os detentos dentro deles, essas são a solução e a lógica penitenciária.

E o agente que dirige o presídio de Novo Hamburgo não precisa mais agora ficar aflito porque todos só falam no caos e não exaltam os bons exemplos carcerários. Foi com justiça que a Câmara Municipal esses dias concedeu-lhe homenagem por estes serviços prestados.

Parabéns.

segunda-feira, 30 de março de 2009


MOACYR SCLIAR

O casamento como projeto

A sorte estava lançada, e, claro, ela sempre poderia recorrer ao divórcio, caso o matrimônio não desse certo

Estudante britânica busca marido para projeto de faculdade. Uma estudante britânica ficou tão desiludida com suas tentativas de arranjar um marido que resolveu transformar essa procura em um trabalho de faculdade.

Alex Humphreys, de 23 anos, criou "The Husband Project" ("O Projeto Marido") -um trabalho de arte conceitual que vai apresentar em seu curso na Faculdade de Arte e Design de Leeds, na Inglaterra.

A estudante anunciou em seu blog que pretende encontrar e se casar com um homem nos próximos três meses e irá apresentar o casamento em seu trabalho acadêmico final. Mais de 150 supostos pretendentes já lhe responderam. Mundo Online

TODO MUNDO -os pais, os amigos, os colegas de curso, os professores inclusive- diziam que era maluquice. Mas isso não a faria desistir, pelo contrário: estava certa de que sua ideia era absolutamente genial. "O Projeto Marido".

Por que não? Afinal, estava concluindo a faculdade de arte e design. De alguém que vai se graduar em arte, espera-se que tenha muita criatividade.

E criatividade não lhe faltara ao bolar seu projeto. Para a imensa maioria das pessoas, casamento resultava de uma rotina bem definida: o namoro, o noivado, a festa com a presença dos pais, dos familiares.

Ela inovaria. Seu casamento seria como estas instalações que as pessoas veem em bienais e em outras exposições. Não se realizaria num templo ou num salão de festas; não, o cenário seria a própria faculdade, a sala onde os formandos apresentavam aos professores os trabalhos de conclusão de curso. Nessa sala, ela montaria um palco.

Quando os professores e os colegas entrassem, a cortina se abriria, e ali estariam eles, ela e o marido, imóveis, abraçados, sorrindo fixamente, ela empunhando a certidão de casamento. Seria um sucesso, midiático, inclusive, e com repercussão mundial. A sua carreira de artista estaria automaticamente assegurada.

O projeto foi elaborado, apresentado aos professores, e, depois de muita discussão, aprovado. Tratava-se agora de levar a coisa adiante, e para isso ela recorreu à internet.

Choveram respostas; tantas que o problema agora era escolher alguém. Decidiu recorrer à sorte. Numerou os candidatos, e optou por aquele cujo número coincidia com o dia do aniversário dela. Por coincidência, o rapaz morava na mesma cidade.

Foi procurá-lo, e foi uma decepção; ainda que bem-humorado, como ela exigira na mensagem, era um babaca, um cara ingênuo, sem nenhuma experiência de vida, e feio, ainda por cima. Mas a sorte estava lançada, e, claro, ela sempre poderia recorrer ao divórcio, caso o matrimônio não desse certo.

Casaram uma semana antes do encerramento do curso. Depois dos ensaios e dos preparativos, estavam prontos para mostrar a instalação. Tudo correu como ela previra. Tudo, menos o resultado.

Os professores acharam a instalação medíocre, carente de talento. Reprovaram-na sumariamente e deixaram o recinto, acompanhados dos demais alunos. Ali ficou ela, ainda no seu vestido de noiva. De repente, rompeu num pranto convulso; chorou, como nunca havia chorado em sua vida. Alguém abraçou-a desajeitadamente.

Era o marido, claro. Eu sempre estarei a seu lado, disse, com um sorriso tímido. Ela o olhou. Deu-se conta de que não era tão feio assim, o seu marido, e que parecia muito simpático. E aí começou a pensar que, de alguma surpreendente maneira, o projeto tinha dado certo.

MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha

RUY CASTRO

Terror juvenil

RIO DE JANEIRO - Na semana passada, em Diadema (SP), cinco gangues de adolescentes marcaram pelo Orkut um encontro num estacionamento no centro da cidade, para demarcar seus territórios.

Os argumentos da negociação eram porretes, tacos de beisebol e correntes. Houve uma briga envolvendo mais de cem jovens, reforçados por adultos, resultando numa mulher ferida e num arrastão em que foram agredidas pessoas que não tinham nada com a história.

Em São Sebastião, cidade satélite do Distrito Federal, também na semana passada, uma escola foi sitiada pela guerra entre duas gangues em torno de 15 de seus alunos, que estariam jurados de morte.

A instituição de ensino fica bem na divisa entre os territórios das gangues. Na quinta-feira, um estudante, talvez um dos ameaçados, foi flagrado dentro da escola com uma arma, que ele teria comprado por R$ 300, para "se defender".

No Itaim Bibi, zona oeste de São Paulo, igualmente na semana passada, outro aluno foi apanhado em sala de aula com um revólver calibre 38 dentro da mochila. O colégio, cuja mensalidade é de R$ 1.600, está sendo pressionado pelos pais dos outros estudantes, para quem o aluno armado deveria ser suspenso ou expulso por colocar em risco a vida dos colegas.

Fatos como esses estão ocorrendo todo dia, em toda parte, no Brasil. Você dirá que, nos EUA ou na Alemanha, um garoto desequilibrado se mune de um arsenal, invade a escola e fuzila dezenas, e que ainda não chegamos a tal ponto. Pois, se esse é o ponto crítico, temo que já o tenhamos superado.

Cada um daqueles atiradores que promovem o banho de sangue é um indivíduo solitário, cujo caso seria resolvido por um psiquiatra, dentro ou fora do Pinel. Já nossos garotos estão se organizando em quadrilhas para exercer o terror. E as armas também já começam a aparecer.


30 de março de 2009
N° 15923 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Da suave convivência

Conversando com uma adolescente em um aniversário, me surpreendi com uma pergunta que ela fez:

– Por que nunca sabemos o que vamos ser?

Indaguei sua idade, ela disse que tinha 15 anos. Quis saber que vestibular ia fazer, ela falou que esse era o problema.

Num dia pensava em Medicina, no outro em Informática, num terceiro em Direito. Naquela manhã cogitara de História.

Foi nesse momento que nos chamaram para cantar o Parabéns e a conversa se interrompeu.

Não fosse esse acidente musical, eu teria dito que ela estava no momento mais rico de sua vida.

À sua frente se abriam todos os caminhos, suas eram todas as escolhas. Ela podia ser arquiteta, artista plástica, bióloga, o que quisesse. Nunca mais seria tão senhora e dona de seu destino.

Ninguém a impediria de ser oceanógrafa, química, psicóloga, geóloga, publicitária, engenheira ou música. Essa diversidade de rumos era como uma espécie de doce vertigem. E se de repente, depois de uma primeira opção, quisesse trocá-la, nada a proibiria.

Era como se tivesse nas mãos a argila de que era feita e pudesse moldá-la segundo suas inclinações e seus caprichos. Seu era o poder de eleger os caminhos que orientariam todos os seus passos. E não precisava orientar-se segundo os padrões comuns.

Se não quisesse ser agrônoma, jornalista ou juíza, se não lhe apetecesse converter-se em professora, designer ou paleontologista, sempre lhe restaria decidir-se por um ofício que não requer cursos ou vestibulares.

É o da literatura, pois até hoje pessoa alguma exigiu de um escritor mais do que imaginação, fantasia e uma suave convivência com as letras.
Quem fala do Sul, não fala de suas cidades. As cidades renderam-se ao anonimato contemporâneo e modular. Quem fala do Sul, fala de seus espaços abertos, fala da serra, do litoral, do planalto, do pampa.

Nossa alma está nos primórdios da Criação, nesse estado de graça elementar e fundadora. E todos os primórdios de algo trazem a marca da verdade: o pampa é a largura e a profundeza épicas; o planalto são as crepitações do verde; o litoral é o domínio da paz melancólica; a serra é o espaço do drama.

A paisagem sulina vai além de sua presença atual; a paisagem é nossa transcendência; humaniza-se lá, no passado, nos indígenas, nos povoamentos, nas imigrações, nas guerras e levantes.

O Sul é uma geografia que só pode ser contemplada a partir da história.

Isso ocorre porque uma paisagem não existe por si mesma. Ela é desenhada por quem a vê. Está dentro de nós, em nossas múltiplas experiências, em nossas leituras, em nosso caderno de sensibilidades, em nossa vida pregressa: peçam a um agricultor que descreva o campo; depois, a um fotógrafo.

Uma paisagem só acontece quando nos embebemos de nossa cultura. Por isso a paisagem do Sul é singular: são nossos olhos, desde o passado, que a desvendam e que a constroem.

E essa essencial fundação, para nossa honra e assombro, só existe aqui. Só aqui somos alguém. Mesmo entre quatro paredes, essa geografia mítica vive dentro de nós. E é ela que aumenta nossa vida para além dos tempos.


30 de março de 2009
N° 15923 - PAULO SANT’ANA


A aviãoterapia

Um dos mais respeitados médicos gaúchos analisa a ambulancioterapia. A palavra com o doutor Fernando Lucchese: “Como sei que aprecias a verdade e o contraponto, resolvi escrever-te sobre a ambulancioterapia.

Ao ler as matérias de ZH, imaginei que estariam muito apropriadas se tivessem sido publicadas há 10 anos, quando até pneumonias ou doenças de pele vinham desorganizadamente pelas ambulâncias a Porto Alegre. Hoje, não.

Conheço a situação da Santa Casa. As consultas agora são pré-agendadas pelo município de Porto Alegre e são geralmente especializadas. Se chegam a Porto Alegre diariamente 4 mil pessoas do Interior através de ambulâncias e micro-ônibus, e sendo uma parte deste número constituída de acompanhantes, não me parece inadequado ou surpreendente diante das 27 mil consultas especializadas realizadas no Interior.

As placas de ambulâncias que chegam à Santa Casa também mudaram ao longo do tempo. Antes, tínhamos o mapa do Rio Grande. Hoje, a maioria vem dos municípios mais próximos, para os quais Porto Alegre é a referência.

Existem vários motivos para isso. Primeiro, a excelência e a concentração dos serviços médicos em Porto Alegre sempre atrairão casos mais complexos e sem solução em locais com menos recursos. Segundo, nos últimos 10 anos, os prefeitos se organizaram. Hoje, 100% dos municípios gaúchos têm suas próprias redes de atendimento, com seus postos de saúde e suas equipes de saúde da família que atendem milhões de gaúchos.

Mas é evidente que 400 dos 496 municípios gaúchos, tendo menos de 20 mil habitantes, não podem sustentar estruturas complexas de atendimento. Por isso se conectam aos polos regionais, municípios mais desenvolvidos que lhes dão suporte a consultas especializadas e internações.

E uma pequena parte, geralmente constituída de casos direcionados a especialidades, terminam na Capital. Por outro lado, a heterogeneidade na distribuição dos médicos e dos serviços vem se reduzindo. Hoje, por exemplo, todo município gaúcho de 20 mil ou mais habitantes dispõe de pelo menos um cardiologista bem treinado.

A heterogeneidade de distribuição e qualidade dos serviços médicos, além de outros serviços como rede de estradas, comunicação, é um problema nacional, sendo esta a característica dos países em desenvolvimento.

Aqui, no Hospital Santo Antônio da Santa Casa, operamos crianças com defeitos de coração provenientes do norte e nordeste do Brasil, trazidas de avião pelo SUS, pois lá ainda não existem centros especializados para este tipo de cirurgia. Seria a aviãoterapia?

Na minha opinião, Sant’Ana, eu, que era descrente no princípio, agora, 20 anos depois, acho que o SUS praticou um verdadeiro milagre no Brasil. Sempre limitada em seus recursos financeiros, a organização do sistema permitiu melhorar o atendimento à população brasileira, o que se comprova pela impressionante redução da mortalidade infantil e o aumento da longevidade brasileira nos últimos anos.

No Rio Grande, chegamos em janeiro deste ano a um dígito, ou seja, a menos de 10 mortes por mil nascimentos vivos, muito semelhante aos países do Primeiro Mundo.

Outros indicadores de sucesso: em 1987, 1,1 milhão de gaúchos foram hospitalizados; em 2008, apenas 715 mil. Em 1987, 60% dos leitos clínicos eram ocupados por crianças aqui no Rio Grande.

Agora, são menos de 3%. Isto explica em parte a grande crise que assola alguns hospitais do Interior. Melhoramos muito, mas é claro que ainda não estamos perfeitos. Mas para quem, como eu, achava que o SUS seria um caos, surpreende o fato de termos construído um dos melhores sistemas de transplantes do mundo e sermos um dos cinco países líderes em cirurgias cardíacas, com cerca de 100 mil procedimentos anuais.

O grande problema e o grande risco é o financiamento insuficiente do sistema de saúde, hoje próximo de R$ 50 bilhões, quando, segundo Adib Jatene, deveria ser mais do que o dobro para compensar o aumento da população e das exigências tecnológicas.

A prioridade sempre se afastou da saúde. Mas o dinheiro também não foi para as nossas estradas, inseguras e precárias. Por isso acontecem acidentes horríveis com ambulâncias repletas de pacientes, o que motivou a série muito apropriada de reportagens da Zero Hora. Um abraço do teu amigo,

(ass.) Dr. Fernando Lucchese, diretor médico do Hospital São Francisco de Cardiologia da Santa Casa”.


30 de março de 2009
N° 15923 - LUIS FERNANDO VERISSIMO


Descompassos

Durante muitos anos, ir ao Radio City Music Hall, no Rockefeller Center, era programa obrigatório para quem visitava Nova York. Nada representava melhor tudo que fascinava naquela cidade, começando pelo tamanho estonteante do auditório onde a qualquer hora do dia você podia assistir a um filme e em seguida a um show de variedades no palco imenso.

O show sempre terminava com uma apresentação das Rockettes, um corpo de bailarinas do mesmo tamanho e formato cuja dança sincronizada era a apoteose do programa – e, se você fosse dado a sociologia rápida, uma espécie de apoteose do talento americano para embasbacar o mundo.

Em espetáculo e eficiência, ninguém os igualava. No Radio City Music Hall você estava no centro da autossatisfação americana. A impecável ordem unida das Rockettes simbolizava o triunfo de uma civilização homogênea e de passo certo.

Não sei se o Music Hall chegou a ser fechado, mas entrou em declínio e passou a ser usado apenas para eventos especiais, como shows de megaestrelas, convenções e assembleias religiosas.

Na última vez que entrei lá, há anos, foi para ver uma cópia restaurada do filme silencioso Napoleão, de Abel Gance, com sua projeção em três telas acompanhada por uma orquestra regida por Carmine Coppola. Acho que foi o último filme mostrado no Music Hall. Parece que as Rockettes ainda existem e se apresentam esporadicamente, em shows tradicionais como os de Páscoa e Natal, que relembram os bons tempos.

Mas quando passei por Nova York, há dias, a marquise do Music Hall anunciava um debate político entre Bill Maher e Ann Coulter.

Maher é um comediante que comanda um programa de discussão política na TV e é de esquerda, ou o que passa por esquerda nos Estados Unidos, e Coulter, apesar da sua aparência Barbie Dollesca, é tudo menos uma loira burra, sendo hoje a mais corrosiva voz da direita americana.

Os dois, imagino, falariam sobre Obama e o socorro a Wall Street, entre outros tópicos em que discordam por completo, e se atacariam mutuamente, e o mais extraordinário disto era a presunção de que o duelo teria público para encher o cavernoso Music Hall, com a plateia presumivelmente dividida entre “liberais” e conservadores vociferantes.

Foi um longo caminho entre as Rockettes de passo certo e os descompassos na opinião política transformados em showbiz, durante o qual alguma coisa aconteceu no coração americano. Nada na discussão entre Bill Maher e Ann Coulter lembraria o tempo das Rockettes – a não ser que os dois começassem a trocar pontapés sincronizados, claro.

domingo, 29 de março de 2009


LENEIDE DUARTE-PLON - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A dor de amar

Respeitada crítica de arte, Catherine Millet fala de "Dia de Sofrimento", livro em que retrata a crise de ciúme por que passou em sua relação aberta com o marido

No seu livro anterior, "A Vida Sexual de Catherine M.", Catherine Millet quis dar, como ela mesma conta, um testemunho pessoal de que a vida sexual pode ser dissociada dos sentimentos. O livro se transformou num fenômeno literário mundial, traduzido para 45 línguas, vendeu mais de 1,2 milhão de exemplares e transformou sua autora numa celebridade.

Nele, uma mulher de 50 anos conta como se entregava a homens que nunca vira antes, nos locais mais inesperados, como um bosque de Paris, um estacionamento subterrâneo, um cemitério, uma estação de trem e mesmo no escritório da revista "Art Press", fundada e dirigida pela própria Millet, crítica de arte e especialista em Salvador Dalí.

A vida real colocou Millet diante de um problema que consistia em conciliar a vida de mulher totalmente livre com um casamento duradouro. Ela é casada há muitos anos com o escritor e fotógrafo Jacques Henric, autor de "Légendes de Catherine M." [Lendas de Catherine M.], e vivem um casamento totalmente aberto.

Em seu novo livro, "Dia de Sofrimento" (a ser lançado no Brasil em junho, pela ed. Agir), dá uma espécie de resposta aos leitores que se perguntavam se é possível driblar o ciúme quando a vida a dois pressupõe total liberdade de ambas as partes.

Millet responde: o ciúme não pode ser driblado, e ela o viveu como uma obsessão: "Comecei a sofrer terrivelmente, imaginando Jacques em companhia de outras mulheres", conta Millet em entrevista exclusiva à Folha.

"Penso que o ciúme é uma pulsão que pode escapar a todo controle e que pode varrer toda a inteligência, a cultura, a moral que possuímos. Mas não me arrependo. É essa pulsão que se deve dominar para continuar fiel a sua cultura e a sua moral."

Assumir uma sexualidade totalmente livre, resume Millet, "não impede de cair na armadilha assustadora do ciúme e nem vacina contra a dor que o acompanha".

FOLHA - "A Vida sexual de Catherine M." transformou-se em um fenômeno de sociedade. Como isso afetou sua vida?
CATHERINE MILLET - Fora uma sobrecarga de trabalho, minha vida cotidiana não foi praticamente modificada. Durante algumas semanas, tornei-me "Madame Sexo" na França e, se tivesse aceito esse epíteto, teria passado todo meu tempo nos estúdios de TV, participando de programas sobre sexualidade.

Tentei limitar essas participações. Para mim, é muito importante continuar a dirigir a "Art Press". Ganhei um pouco mais de dinheiro, mas também não fiquei milionária.

FOLHA - "A Vida Sexual..." foi criticada por ser "sem sentimento". "Dia de Sofrimento" é seu oposto implacável?
MILLET - É ao mesmo tempo o anúncio e o prolongamento do outro. Anúncio porque a crise de ciúme narrada em "Dia de Sofrimento" é um dos "acidentes" na minha vida que me levaram a escrever uma coisa diferente de um livro de história da arte -isto é, "A Vida Sexual de Catherine M.".

De fato, "Dia de Sofrimento" mistura a narração dessa crise e a aproximação com a escrita, a realização de um desejo de ser escritora.

Também é o prolongamento de "A Vida Sexual..." na medida em que a ideia do segundo livro me ocorreu logo após a publicação do primeiro. Muitos leitores e jornalistas me perguntavam -e a Jacques também- sobre o ciúme.

Como tínhamos podido viver a liberdade sexual sem ter ciúme? E eu respondia que não tinha escapado a ele. Por honestidade, pensei que deveria me explicar num segundo livro. Quanto à ausência de sentimento em "A Vida Sexual...", isso é o resultado de um "parti pris". Eu não queria nenhuma forma de psicologia no livro, quis deixar tudo focalizado nos atos sexuais.

FOLHA - Um crítico ressaltou um paradoxo em "Dia de Sofrimento": a sra. vigia e espiona seu marido como se fosse uma mulher fiel. Ora, no seu texto pode-se ler: "Jacques me colocava diante do fato de que nunca deixei de fazer sexo grupal e que por longos períodos meu desejo me levara a outros homens".

MILLET - Um dos objetivos do livro é, creio, expor a que ponto podemos estar em contradição com nossas próprias ideias. A liberdade sexual era a filosofia de vida que eu tinha escolhido. Eu tinha essa liberdade. De vez em quando descobria que Jacques também dispunha dessa liberdade, mas comecei a sofrer terrivelmente imaginando-o em companhia de outras mulheres.

FOLHA - "A Vida Sexual..." foi escrito durante uma crise grave com seu marido. Como a sra. conseguiu trabalhar vivendo um turbilhão de emoções causadas pelo ciúme?
MILLET - Na realidade, quando comecei a escrever esse livro, tinha me distanciado da minha vida de libertinagem.

Como escritora e contrariamente a autores que fazem o que se chama "autoficção", somente posso ter um olhar retrospectivo. Durante essa crise, fui dominada por fantasias em que imaginava Jacques em companhia de outras mulheres. De certa forma, a escrita desse livro foi uma maneira de me recolocar no centro das cenas de sexo.

FOLHA - O livro quer mostrar que uma intelectual libertina não está protegida do mais banal ciúme?
MILLET - Esta é uma das razões por que sofri tanto: é claro que não podia fazer nenhuma crítica a Jacques; ao contrário, só podia me criticar pela falta de lógica de meu comportamento.

FOLHA - A sra. conta que saiu da periferia de Paris com 18 anos com suas leituras como única bagagem. Que leituras eram essas ?
MILLET - Tudo um pouco misturado. Muito jovem, eu lia relatos de aventura para crianças, mas também lia os clássicos que encontrava na biblioteca de minha mãe. Uma das primeiras leituras que me impressionaram foi "O Lírio do Vale", de Balzac. Adorava ler Lamartine e também Stendhal. Somente histórias de amores impossíveis! E castos!

FOLHA - A sra. foi feminista? Os movimentos pela liberação da mulher dos anos 70 de alguma forma lhe interessaram?
MILLET - Como digo em "A Vida Sexual", eu me sentia "do lado dos homens", logo não podia me sentir próxima das feministas. E depois, dispunha de minha liberdade de fato, não tinha de conquistá-la. Por outro lado, hoje me sinto muito próxima do que se chama "neofeminismo" ou "feminismo pró-sexo".

FOLHA - Seu livro fala de suas fantasias masturbatórias incestuosas. Qual é a importância da masturbação na vida sexual?
MILLET - Acho que muito grande, mas é um assunto que ainda é tabu. Acho que uma mulher aprende a conhecer melhor os caminhos de seu prazer graças à masturbação.

FOLHA - Como a sra. vê a arte contemporânea? Acompanhou os debates em torno da última Bienal de São Paulo, em 2008?
MILLET - Acho que os que consideram a arte como uma atividade do espírito realizaram uma resistência "do interior", em um mundo da arte governado pelo mercado.

E infelizmente as instituições públicas, que poderiam ser uma alternativa ao mercado, se tornam cúmplices dele.

Não acompanhei muito de perto os acontecimentos em torno da última Bienal de São Paulo, mas me parece que um protesto contra essa situação se fez presente por meio das ações de alguns artistas.


29 de março de 2009
N° 15922 - ARTIGOS


As meninas estão diferentes

Barraqueira eu digo que eu sou.. Digo para todo mundo!

As palavras acima foram narradas por uma estudante da quinta série do Ensino Fundamental de uma escola pública, localizada na periferia de Porto Alegre. Podemos pensar que tais palavras estão distantes de uma representação naturalizada de infância feminina, pois esses não seriam os termos mais adequados para que uma “mocinha” expressasse suas opiniões ou sentimentos.

Grande parte das pessoas relaciona naturalmente posturas de meninas aos bons modos, ao capricho e à inocência. O ser menina, mesmo nos tempos atuais, ainda está associado ao uso de certas vestimentas, de determinadas cores e do recato ao agir.

É possível pensar que exista uma construção cultural da feminilidade pautada por características como contenção, doçura e passividade. Mas, se meninas são “mocinhas naturalmente comportadas”, como é possível explicar o envolvimento de alunas em conflitos violentos, tão frequentes na contemporaneidade?

Como docente, percebo, na atualidade, posturas diferenciadas por parte de alunas muito jovens. Enxergo nas escolas meninas com seios grandes, aumentados ainda mais pelo uso de tops apertados. Vejo piercings em sobrancelhas, orelhas e umbigos das estudantes.

Muitas vezes é na hora do recreio, no banheiro da escola, que tais adereços são colocados e até mesmo trocados entre as alunas. Já enxerguei meninas com “tatuagens” em antebraços: corações, flechas, as letras iniciais de alguém por quem estivessem apaixonadas. E sei que as tatuagens foram feitas com a lâmina retirada do apontador escolar e fixada em um tubo de caneta esferográfica vazio.

Com surpresa ouço cotidianamente expressões utilizadas por alunas tais como “Homem é que nem lata! Uma chuta, a outra cata!”, ou ainda “Viva a vida loucamente: fique com um guri diariamente”. Fatos e situações semelhantes às que descrevo subsidiam minha afirmação: as meninas estão diferentes!

Penso ser importante enfatizar que, principalmente nas escolas de periferia, professores têm presenciado alunas de 11, 12 anos engalfinharem-se no pátio ou até mesmo nas salas de aula. Muitas meninas chegam a ter o rosto marcado por ferimentos profundos; consequências de conflitos que são desencadeados por um olhar mais demorado, por um comentário maldoso ou, ainda, por uma inocente fofoca.

Em algumas escolas, o uso de presilhas de cabelo do tipo “bico de pato” chegou a ser proibido para as alunas, uma vez que elas as utilizavam para ferir os outros em suas brigas. Meninas chegavam a passar repetidamente tal acessório no piso de cimento ou no meio-fio da rua a fim de conferir-lhe poder de corte.

Através de seus atos de valentia, do envolvimento em conflitos e de falas como “a gente não vai apanhar quieta!” e, também, “barraqueira eu sei que sou!”, tais alunas são percebidas como meninas fortes, que reagem machucando quem as ofende. Muitas vezes, é através do envolvimento em conflitos que meninas conquistam posições de maior ou menor valorização frente aos seus colegas. A menina vencedora de uma briga, aquela que não admite levar “desaforo para casa”, parece ser vista pelo seu grupo de convivência como corajosa e esperta.

Como professora, não defendo tais atos, não aceito que alunos se machuquem ou venham a ferir colegas. Contudo, é preciso pensar que muitos conflitos escolares são atravessados por valores culturais específicos e, ainda, são motivados por situações complexas, as quais não poderiam ser pensadas unicamente como indisciplina.

Acredito que os conflitos entre meninas devam ser analisados/problematizados tanto nas escolas quanto nos cursos de formação docente. Talvez, assim, as escolas possam buscar estratégias diferenciadas de trabalho, de intervenção, para uma melhor compreensão das atitudes de suas mocinhas (mal)comportadas.

Juliana Ribeiro de Vargas - Professora da rede municipal de ensino de Porto Alegre


O tempo voa

Novo estudo indica que envelhecimento começa aos 27 anos, quando capacidades como a rapidez de raciocínio entram em declínio. O que é envelhecer? Seria quando começam a faltar forças nas pernas e as costas ficam curvas? Ou quando os olhos já enxergam com dificuldade e os ouvidos escutam pouco?

Na verdade, é um pouco de tudo. E muito mais. Pode ser uma ruga no rosto ou o enfraquecimento dos músculos. Porém, envelhecer não se restringe aos idosos. Para a medicina, o processo se inicia por volta dos 30 anos, quando o adulto está no auge de sua forma física.

A partir daí, dia após dia, as células mortas são repostas em ritmo mais lento. Os órgãos começam a reduzir de tamanho e, consequentemente, vão perdendo parte de sua função.

Na última semana, foi divulgada uma pesquisa que afirma que o pontapé para o envelhecimento ocorre ainda mais cedo e atinge jovens na casa dos 20 anos. Segundo cientistas da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, capacidades como as de noção espacial e rapidez de raciocínio entram em declínio a partir dos 27 anos. Por outro lado, a habilidade de acumular conhecimento, como enriquecer o vocabulário, continua funcionando bem e aumentando até os 60 anos.

O corpo humano se desgasta por dois motivos. Um deles é interno – o organismo enfrenta limitações biológicas e genéticas. Outro é culpa de fatores externos: estresse em excesso, cigarro, abuso de bebidas alcoólicas e exposição solar aceleram o processo.

– Apenas 30% do envelhecimento é genético. Os outros 70% são hábitos de vida. A estatística mostra a importância que têm as decisões que a pessoa toma sobre ela mesma – destaca o geriatra João Senger.

Envelhecer, porém, ultrapassa os aspectos físicos. Hoje, faz-se distinção entre o envelhecimento biológico e o psicológico. No psicológico, abandona-se a ideia de que o tempo deprecia a capacidade intelectual e funciona. Mesmo em idade avançada, os indivíduos mantêm potencial de desenvolver atividades de relevância, tanto para si próprios quanto para a sociedade.

– Quando a reflexão se volta para a aposentadoria, pode-se constatar sentimentos como perda de status, isolamento e discriminação. Entretanto, surgem também manifestações muito boas, como alegria e sentimento de missão cumprida.

A terceira idade é um momento complexo, mas é quando a pessoa pode usar sua liberdade e o tempo livre para atividades prazerosas – ressalta a psicóloga Lúcia Cogo.

daniel.cardoso@zerohora.com.br

CARLOS HEITOR CONY

Amada mia

RIO DE JANEIRO - Não estou atualizado nem me preocupo com isso. Mas volta e meia leio e ouço depoimentos nostálgicos de eras anteriores ao dilúvio e aos dinossauros. Outro dia, tomei conhecimento de repertório brega que serviu de trilha musical para gerações que, como naquela canção infantil, deram adeus e foram embora.

Meto minha colher no mingau e lembro "Amada mia", cantada por Dick Haymes, mas lançada na versão "Amado mio", por Rita Hayworth, num filme que garantia nunca ter havido mulher como Gilda. "Amada mia, love me forever" e que este "forever" comece nesta noite. Era letal.

O núcleo da breguice era o repertório das churrascarias e dos inferninhos nos subsolos de Copacabana, onde, para desespero de minha mãe, que me queria padre, iniciei uma felizmente interrompida carreira de pianista da madrugada.

Nas churrascarias, o "hit" preferencial era "Babalu", o grito sensual da magia negra; nos inferninhos, não se resistia a "Perfídia", que Ingrid Bergman e Humphrey Bogart dançaram naquela cena do cabaré de Paris -recordamos "As Time Goes By" e esquecemos que, no final de tudo, depois de Casablanca, eles só teriam Paris para sempre.

Havia as estradas vicinais de efeito igualmente fulminante, Pablo Neruda com sua canção desesperada, tão curto o amor, tão largo o esquecimento, Vinicius de Moraes com seu soneto da fidelidade, chupado de Henri de Régnier (1864-1936), o amor que seja infinito enquanto dure.

Não conheço os equivalentes atuais para pintar o clima devastador que encerrava os prolegômenos e iniciava os finalmentes. Roberto Carlos parece que ainda funciona ao longo dos trilhos da Central do Brasil e da antiga Leopoldina Railway. Não ando por aquelas bandas -desconfio que esteja perdendo alguma coisa boa.

FERREIRA GULLAR

A alma ou a vida

É para salvar a alma que a Igreja proíbe a camisinha, embora sabendo que, com isso, expõe à Aids

O PAPA Bento 16, na viagem que fez recentemente à África, declarou que o uso de camisinha na relação sexual não resolve o problema da Aids, mas, pelo contrário, pode até agravá-lo. A solução estaria na abstinência sexual e na fidelidade matrimonial.

Essa declaração foi feita semanas depois que o arcebispo de Olinda e Recife excomungou os médicos responsáveis pelo aborto de gêmeos numa menina de nove anos, que fora estuprada e engravidada pelo padrasto.

Os médicos tomaram aquela decisão, autorizados pela mãe da menina, após concluírem que seu corpo não tinha condições de levar adiante a gestação: havia risco de vida para ela e os fetos. Além disso, agiram dentro da lei brasileira que permite o aborto quando a gravidez decorre de estupro. Nada disso evitou que o arcebispo os condenasse, juntamente com a mãe da menina, às chamas eternas do Inferno.

Essa decisão do arcebispo pernambucano causou espanto e revolta em muita gente, que viu nela uma manifestação de atraso e intolerância. Não obstante, em um primeiro momento, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, bem como o Vaticano, apoiaram a decisão do arcebispo. Por que? Serão todos intolerantes e retrógrados?

A questão não é bem essa. Tanto o arcebispo quanto as entidades referidas não fizeram mais que obedecer a um dogma da Igreja Católica. O arcebispo alegou que o aborto é um pecado muito grave porque atenta contra a vida e um dos princípios da Igreja é o respeito à vida: "Não matarás". Foi mesmo por essa razão que ele excomungou os médicos e a mãe da menina? Não, não foi. É que o problema não é tão simples assim.

Já me referi, nesta coluna, a propósito da polêmica em torno das células embrionárias, à visão de Santo Agostinho acerca do pecado original que, segundo ele, só pode existir se, já no momento da fecundação, estiver ali a alma.

Sim, porque o pecado é da alma, não do corpo. É essa visão que explica a atitude da Igreja quando, na Inquisição, mandou queimar vivos os pecadores, para salvar-lhes a alma. Noutras palavras, o que importa não é a vida do corpo mas a pureza da alma que, livre dele, iria talvez para o Paraíso ou o Purgatório.

Sei que estou me metendo em funduras e, se estiver equivocado, que me desculpem. Nada tenho contra a Igreja Católica, que desempenha inestimável papel na sociedade, dando amparo espiritual e material a milhões de pessoas. Mas isso não me impede de tentar compreender uma questão que interessa também a milhões de pessoas.

O arcebispo afirmou que excomungou os médicos porque eles eliminaram duas vidas humanas (as dos fetos), atentando assim contra um princípio básico da Igreja. Mas, se se trata, efetivamente, de respeitar a vida, porque não optar por salvar a da menina, posta em perigo por uma gestação anômala, inviável numa criança, cujo corpo não estava pronto para ela? Por que optar pela vida duvidosa de dois fetos que pouca possibilidade tinham de nascer?

A explicação não está em nenhum argumento razoável e, sim, no dogma. A mesma crença que faz a Igreja se opor ao uso científico das células embrionárias -porque no embrião está uma alma- coloca-a contra o aborto, em toda e qualquer circunstância. Trata-se de salvar a alma, não a vida. A alma que, a rigor, não se sabe se existe, e que, para os antigos gregos, "pneuma", ou seja, ar, sopro.

Essa mesma explicação nos ajuda a compreender por que o papa se opõe ao uso da camisinha nas relações sexuais, quando é evidente que esse uso evita a contaminação pelo vírus HIV, de consequências mortais. Que mal há em usar camisinha? Não pode haver, na Bíblia, nenhuma condenação explícita a seu uso, uma vez que ela é uma invenção do século 20.

Não obstante, essa condenação tem raízes nas Escrituras, na teoria do pecado original, dogma fundamental da Igreja. Esse pecado, praticado por Adão e Eva, foi tão grave que dividiu o mundo em duas "cidades": numa reinaria Deus e, na outra, Satã.

Como, porém, sem a relação sexual, a humanidade se extinguiria, a Igreja teve que admiti-la, desde que dentro do matrimônio, por ela consagrado. Por isso mesmo, o sexo só pode ser praticado visando à procriação, não o prazer. Aliás, o prazer, que o ato sexual provoca nos que o praticam, mancha-lhes a alma.

Ora, quem usa camisinha não está querendo procriar, mas apenas sentir prazer, o que a Igreja não permite, mesmo porque, quem assim age, incorre em grave pecado, entrega a alma ao Diabo.

É, portanto, para salvar-lhe a alma que a Igreja proíbe a camisinha, embora sabendo que, com isso, o expõe ao vírus mortal da Aids. Ela quer salvar a alma (que é divina) não a vida (que é humana).

DANUZA LEÃO

A descoberta

A única coisa que percebeu foi que, mais que dinheiro, amor, felicidade, a coisa mais importante é ter saúde

QUANDO A gente tem dez anos, tudo o que quer na vida é ser a primeira da classe. Com 12, as prioridades já são outras; toma-se conhecimento de que existe outro sexo no mundo, e a partir daí, é só nisso que se pensa: nos meninos. Os estudos vão pro brejo, a vaidade se instala como prioridade máxima e até lenços amassados se põe dentro da combinação para dar a impressão de que os seios já existem.

Os namoros são muitos, as paixões chegam e vão embora com uma rapidez fulminante, e nada é mais importante na vida do que a festinha de sábado. Quando não tinha festa, improvisava-se um arrasta-pé: era só enrolar o tapete, botar um LP na vitrola e baixar um pouquinho a luz da sala. As meninas traziam, cada uma, um prato de salgadinhos, os garotos, os refrigerantes -e muito disfarçadamente, uma garrafa de rum. E dançar de rosto colado era quase como usar um anel de noivado.

O tempo passava e chegava a hora de arranjar um namoro sério, tipo para casar. Havia o noivado, com festa, o casamento, com uma festança, os filhos chegavam e era a hora de melhorar de vida. Ter um carro, casa própria, poder fazer uma viagem de vez em quando, ver os filhos crescendo, dando-se bem na escola e, com sorte, entrando na faculdade.

Um dia os filhos casam, o casal fica só e essa é a hora propícia para uma separação, sobretudo se os dois ainda forem jovens; razoavelmente jovens. Geralmente quem quer a separação é ela, para poder viver a vida de que tanto ouviu falar, de romances e aventuras, e que nunca viveu. Separam-se e ela só pensa em uma coisa: encontrar um grande amor.

O tempo passa, sem que apareça nem um grande amor nem um pequeno. Para avó ela não tem vocação, ficar sem fazer nada não dá, aí resolve trabalhar; as coisas dão certo, o dinheiro entra, cessam as preocupações com o futuro e a vida, aparentemente, vai bem. Até que um dia sente uma dorzinha na coluna, vai a um médico e confessa que não vai a nenhum há anos. Médicos não perdoam: foi pedido logo um check-up completo.

Só ela sabe o que foi marcar os exames: cada um era em um lugar, para um tinha que ficar em jejum oito horas antes do exame, para outro tinha que tomar seis copos de água 15 minutos antes de entrar na máquina, e todos, absolutamente todos os médicos de todos os exames perguntando sobre suas doenças passadas, das quais ela não se lembrava, que medicamentos tomava agora, e como cada dia era um, a resposta ficava difícil. Mas um dia terminou a via-crúcis, só que ela tinha que ir pessoalmente apanhar os resultados.

Acordou achando aquele o pior programa do mundo, mas tinha que ir. E pela primeira vez pensou que, com tantos exames, poderia ter alguma coisa grave. Morreu de medo, mas não havia nada a fazer. Pegou todos aqueles envelopes e radiografias, abriu e começou a ler, mas não entendeu nada. Só um médico seria capaz disso.

A única coisa que percebeu, muito claramente, foi que, mais que viagens, dinheiro, amor, felicidade, a coisa mais importante do mundo é ter saúde.
E, a partir desse dia, começou a ver o mundo de outra maneira; nem melhor, nem pior, mas bem diferente.
danuza.leao@uol.com.br

sábado, 28 de março de 2009



29 de março de 2009
N° 15922 - MARTHA MEDEIROS


Identidade contra a crise

Tem-se falado que uma das consequências da crise econômica mundial é uma certa caída de ficha entre as pessoas que têm prazer em ostentar. A tendência, dizem, é não esfregar sua riqueza na cara dos outros. Já não era sem tempo: sempre achei ostentação uma cafonice.

Eu pagaria uma fortuna para não andar de limusine, não viver numa casa com 15 quartos e não usar boa parte dos vestidos que desfilaram no tapete vermelho do Oscar. E se alguém me pedisse pra citar um exemplo de mulher jeca, é bem provável que alguma milionária me viesse à cabeça. Um disco voador me largou nesse planeta e esqueceu de me buscar.

Há que se ter uma certa cautela com essa história de crise. Sei que ela existe, mas também sei que o excesso de precaução pode alavancá-la: é tanta gente com medo do que está por vir que a retração começa antes da hora, e aí corta-se, demite-se, enxuga-se. Se a crise acachapante não vier, a desconfiança terá instalado outra crise no lugar.

Mas já que não se fala em outro assunto, vale refletir sobre o que esse momento pode ter de positivo, e a diminuição da ostentação é apenas a ponta do iceberg. Com ou sem crise, já estava mesmo na hora de uma reciclagem de atitudes e de pensamento.

Restabelecer prioridades. Sai a conta estratosférica de certos restaurantes, que costumam cobrar até 150% a mais no preço de uma garrafa de vinho, e trocar por encontros entre amigos, em casa, cada um trazendo do super a sua colaboração.

Em vez de só darmos atenção para a roupa nova que a nossa amiga está vestindo, reparar melhor no seu semblante e procurar descobrir a razão do seu olhar triste. Deixar o carro mais tempo na garagem e andar a pé ou de bicicleta, que aliás era o meio de transporte preferido de John John Kennedy, que nunca precisou economizar.

Festa de 15 anos para 600 convidados com show ao vivo e três trocas de vestido? Usar brinco, colar, gargantilha, pulseira, anel, tornozeleira, tudo ao mesmo tempo, e ainda carregar uma bolsa de 2 mil dólares com a grife saltando aos olhos? Torneiras de ouro no lavabo (em apartamentos em que a mensalidade do condomínio geralmente está atrasada?) Isso é saber viver?

Cada um escolhe o que fazer com o seu dinheiro, combinado.

Mas já que virou moda não ostentar (deveria ser regra), então que se aproveite a tendência da estação para consumir atitudes novas: ser elegante sem torrar uma nota preta, economizar água e ajudar a conter a poluição, não abrir mão de ter amigos verdadeiros, deixar de valorizar relações descartáveis, alimentar a alma e o espírito com muita arte e cultura, buscar um lazer revigorante junto à natureza, cuidar do corpo de forma saudável e não apenas cirúrgica, sorrir em vez de reclamar tanto, falar menos de dinheiro, fazer o que se gosta sem se preocupar com a repercussão, dar valor ao que tem valor, e não apenas ao que tem preço.

Não vá por mim, que eu nem sou daqui. Mas vá por você.


29 de março de 2009
N° 15922 - MOACYR SCLIAR


Clique aqui, amigo. Por favor, clique aqui

Acontece com todo mundo que tem internet: não há dia em que a gente não receba uma mensagem vinda de um remetente não habitual – não é amigo, não é familiar – mas que sempre contém uma ordem/convite: “Clique aqui”. Não clique.

É uma armadilha. É coisa de hacker. Clicar significa abrir a memória de seu computador para alguém que dela tirará proveito, obtendo informações que incluem, por exemplo, contas bancárias. Todos nós sabemos disso. Mas todos nós precisamos estar alertas, muito alertas, para não cair no engodo eletrônico.

O hacker é uma figura nova no mundo da transgressão. Não é um assaltante violento, não usa armas, não agride sua vítima, nem sequer se aproxima dela. O hacker age a distância, e seus instrumentos são, além da internet, uma boa dose de imaginação e um conhecimento, ainda que rudimentar, da psicologia humana.

Imaginação? Pois é. Sem ser um ficcionista famoso, o hacker tem, no entanto, de bolar uma historinha convincente; mais que isso, tem de criar também um personagem.

Uma personagem, na maioria das vezes, que se dirige a nós com a maior familiaridade, sempre se queixando e, portanto, sempre apelando para o nosso sentimento de culpa: “Oie (se a mensagem começa por ‘oie’, desconfiem), você ontem passou por mim e fez que não me viu, não tem importância, eu perdoo você e mando as fotos do nosso último encontro”. E ali está o anexo no qual as pessoas devem novamente clicar.

E por que clicam? Pela curiosidade, claro, à qual não falta um componente de sacanagem. O destinatário da mensagem sabe muito bem que não passou por moça alguma, que não encontrou moça alguma, que não foi para o quarto com ela; mas clica, mesmo assim.

Por que clica? O que espera ver? É a si próprio, vivendo cenas de tórrida paixão? Talvez. A capacidade que temos de enganar-nos a nós próprios é muito grande, e é com isso que o hacker (ou a hacker, não sejamos preconceituosos) conta.

Sedução é uma fórmula. A outra é autoritarismo. Em certas mensagens, o hacker fala em nome do poder. É a justiça eleitoral avisando que nosso título vai ser cassado. É um banco, ameaçando com cobrança judicial. É uma empresa mandando a conta de um eletrodoméstico adquirido via internet.

Às vezes, temos uma curiosa fórmula intermediária, que consiste em unir autoridade com sedução. Somos avisados que foi feito um depósito em nosso nome; para saber quanto, temos de clicar. Ora, depósitos são feitos por quem controla dinheiro, e quem controla dinheiro merece respeito. E aí muitos clicam.

Deve ser dito que os hackers não são propriamente gênios da vigarice. O número de erros de grafia nas mensagens é monumental, sem falar nas frases mal-construídas (seria bom que lessem mais). Por outro lado, certas propostas, ou certas ordens, não fazem o menor sentido. “Você vai ser desligado do provedor X”.

Só que não usamos o provedor X, nunca tivemos nada a ver com o provedor X. E o banco Y manda-nos uma mensagem: “Caro depositante” – mas não somos depositantes do banco Y. Isso, porém, não importa. O hacker é como o semeador da parábola bíblica: ele vai atirando as sementes da tentação por toda a parte.

A maioria delas cairá no território árido (para o hacker) de nosso ceticismo e de nossa desconfiança e nunca germinará, mas basta que uma pequena porcentagem resulte em sucesso para justificar um trabalho que, convenhamos, nada tem de exaustivo.

A indagação se impõe: por que os hackers não usam seu talento, seu esforço, em alguma atividade respeitável, reconhecida?

Boa pergunta. Para saber a resposta, clique aqui.


29 de março de 2009
N° 15922 - PAULO SANT’ANA

Luz no fim do túnel

Ninguém mais tem tanta autoridade para opinar sobre a ideia de privatizar alguns presídios que os juízes responsáveis pela fiscalização dos presídios gaúchos.

E eles, sexta-feira, por unanimidade dos 15 membros presentes, apoiaram a privatização dos presídios, isto é, a construção de presídios privados no Rio Grande do Sul.

Por unanimidade. Mas é evidente que tinham de apoiar a ideia de privatizar serviços carcerários.

O sistema público se tornou inoperante, levou a política carcerária ao caos e não demonstra sinais nem de regeneração do sistema nem de atenuação dos males terríveis que ele encerra.

Os 15 juízes da fiscalização dos presídios, os que exercitam a execução das penas, são os que mais sofrem com o caos do sistema prisional.

Já sofrem também os juízes penais, os que prolatam as sentenças, ao perceberem que suas condenações vão bater nos rochedos rudes do caos penitenciário.

Mas os das execuções penais, os 15 juízes que votaram unanimemente a favor da construção de presídios privados em nosso meio, são os que veem agredidas suas consciências por saberem ser de sua competência a administração penal dos presídios e nada poderem fazer para equacionar uma superlotação dos presídios que afunda na barbárie.

Por isso, os 15 juízes da fiscalização dos presídios gaúchos votaram, sem nenhuma exceção, por unanimidade, por encaminhar ao governo do Estado a sua forte e importante opinião de que algo precisa ser feito para pôr fim à desordem reinante.

E se a possibilidade da privatização dos presídios surge como alternativa ao caos, que se a busque como primeiro e fundamental passo para a restauração da dignidade no sistema prisional.

O repórter Daniel Scola, da Rádio Gaúcha, em trabalho estafante nos presídios, entrevistou um gerente de galeria no Presídio Central. Não pensem que o gerente era um funcionário público, um agente penitenciário, alguém designado pelo serviço público para gerenciar a galeria.

Nada disso, o gerente da galeria era um preso. Ele é que mandava ali. Ele é que administrava a imensa galeria.

E, na frente de um promotor, o preso informou ao repórter que todo o sistema de fiação elétrica da galeria tinha sido custeado por ele, gerente daquele espaço.

Ou seja, os R$ 1,8 mil que custou a fiação elétrica em toda a galeria saíram dos bolsos do preso-gerente.

Perguntado pelo repórter por que custeara de seu bolso (provavelmente do bolso da facção criminosa a que pertence) a fiação elétrica, o preso respondeu: “É que se não fosse instalada a nova fiação elétrica na galeria, continuaríamos mergulhados na escuridão. E, sabe como é, doutor, na escuridão, aqui na galeria, morre gente”.

Este é um símbolo do descaso total que envolve e encerra o caos nos presídios. Os fios de luz de uma galeria são custeados pelos presos. E nas galerias em que os presos não podem custear a fiação elétrica ou não têm a iniciativa de custeá-la?

Nessas galerias, permanecerá a escuridão.

A escuridão de todo o sistema penitenciário. Porém, quando surge uma réstia de luz para essa escuridão, a possibilidade de uma revolução no sistema, a privatização dos presídios, os 15 juízes das execuções penais aderem brilhantemente a ela, votando a favor da privatização.

Mas o que dói, o que punge e o que devora é saber-se que, quando essa solução é aventada, quando talvez a única solução para o caos é alvitrada, tristes espectros de reacionarismo se levantam contra ela, lutando para que tudo permaneça como está.


29 de março de 2009
N° 15922 - DAVID COIMBRA


Homens no ventre da terra

O jovem Vincent Van Gogh, sequioso para mudar o mundo e beber a vida, como todos os jovens, decidiu seguir a carreira de pregador. Saiu da sua Holanda natal e foi para a Bélgica, onde planejava atuar como pastor protestante.

Era uma região de mineiros de carvão, talvez os trabalhadores mais sacrificados de tantos trabalhadores sacrificados que há. Van Gogh ficou assombrado com os sofrimentos impostos às famílias dos mineiros e, tomado de ânsia por reproduzir o que via, colheu pedaços de carvão do chão e começou a desenhar cenas do dia-a-dia dos trabalhadores. Assim descobriu a sua vocação para a pintura, e assim a Humanidade ganhou um gênio.

Há quem diga que Émile Zola inspirou-se nessa passagem da vida de Van Gogh para escrever o seu “Germinal”. Acho que não. Quando Germinal foi publicado, nos anos 80 do século 19, Van Gogh não era ninguém senão um fracassado candidato a pintor. De qualquer forma, Zola também foi viver entre os mineiros para escrever seu romance. Saiu de lá tão tocado que compôs uma obra-prima.

Zola acreditava que dali, da terra prenhe de mineiros que forcejavam no seu ventre, brotaria a revolução. Donde o título do livro: germinal é o nome com o qual os revolucionários franceses rebatizaram março, o mês em que as sementes se desenvolvem sob a terra.

A mais importante região carbonífera do Brasil, até o fim dos anos 80, era o sul de Santa Catarina. Criciúma tornou-se conhecida como a Capital do Carvão. Hoje não existem mais minas em Criciúma, mas aquele pedaço do país restou marcado para sempre pela atividade mineira. Abaixo da superfície, em grande parte da cidade, ainda serpenteiam as galerias das quais os mineiros retiravam o carvão com que alimentavam as usinas elétricas.

Muitos mineiros adoeceram irremediavelmente devido ao trabalho excruciante sob a terra. Eu mesmo já tive na palma da mão um pulmão de mineiro. Por Deus. Um pulmão transformado em pedra preta do tamanho de um radinho de pilha.

Fora extirpado de um mineiro que morreu de pneumoconiose, doença que aflige quem permanece longo tempo em contato com os eflúvios da pirita, o rejeito do carvão. É por isso que os mineiros aposentam-se com 15 anos de trabalho e nenhum deles permanece mais de oito anos sob a superfície.

Essa vida de dificuldades, essas condições precárias produzem homens especiais. Os mineiros, como constataram Zola e Van Gogh, são afeitos à luta. Eu, que vivi em Criciúma, compreendi que muitas vezes aquela cidade cai, mas sempre se levanta e segue em frente com trabalho, com esforço, com legítimo espírito mineiro. Agora mesmo, neste verão, Criciúma foi assolada pela enchente. Não me preocupei em demasia. Sei que a cidade sabe lidar com suas mazelas.

Um homem que considero símbolo desta alma guerreira de Criciúma é Valdomiro Vaz Franco. Em 1968, Valdomiro foi a estrela do único campeonato catarinense conquistado pelo Comerciário de Criciúma. Oswaldo Rolla, o Foguinho, o viu em campo e trouxe-o para o Inter. A partir de Valdomiro, o Inter forjou o maior time da sua história.

Mas não foi fácil. Valdomiro, com seu jeito matuto de ex-mineiro que era, com seu futebol prático mas ainda tosco, não caiu no agrado da torcida. O preferido dos torcedores era Urruzmendi, um ponta uruguaio cheio de habilidade, que fazia dezenas de embaixadas com uma tampinha de cerveja.

Valdomiro entrava em campo abaixo de vaias. Um dia, marcou um gol contra a seleção da Romênia, correu para comemorar com a torcida e o que ouviu foram apupos, não aplausos. Mas Valdomiro não desistiu. Treinava mais do que todos.

Até em casa treinava, caminhando no apartamento com pesos de ferro de oito quilos dentro dos sapatos, atormentando o vizinho do andar de baixo. Valdomiro venceu. É o único octacampeão gaúcho da história. É tricampeão brasileiro. Foi responsável direto por praticamente todos os gols importantes do Inter em uma década.

Nesse mês de abril, Valdomiro prepara-se para começar uma nova etapa da sua vida. Depois de quase 20 anos de obras, vai inaugurar um Centro de Esportes em Criciúma, sua cidade natal. Justamente no mês do centenário do Inter.

Nada mais apropriado. Porque o Inter está na história de Valdomiro e Valdomiro, mais do que qualquer outro jogador desde 1909, ajudou, e muito, a escrever a história do Inter.

Diego Mainardi

Kraftwerk e Mozart

234 anos. É a soma da idade dos quatro componentes do Kraftwerk. É como se o grupo tivesse nascido em 1775. Por essa medida, ele é contemporâneo de Mozart. Em 1775, Mozart tinha 19 anos. A vinda do Kraftwerk ao Brasil, cronologicamente, equivale à vinda de Mozart ao Brasil. Em vez de Salzburgo, o Sambódromo.

Depois do espetáculo do Kraftwerk no Sambódromo, li que um de seus membros, Florian Schneider, de 62 anos, decidiu abandonar o grupo alguns meses atrás, sendo substituído por um eletricista, Stefan Pfaffe.

Isso reduziu a idade do Kraftwerk em cerca de duas décadas. Refiz todas as minhas contas. Foi como se Mozart tivesse vindo tocar no Sambódromo cinco anos depois de sua morte. Musicalmente, faz mais sentido.

Na última semana, fui arrastado ao Sambódromo para ver o Radiohead. Antes de ver o Radiohead, tive de ver o Kraftverk, que abriu o espetáculo. Acompanhei seus primeiros discos. Autobahn e Radio-Activity. Em 1977, quando saiu Trans-Europe Express, eu já desistira do grupo. Tinha 15 anos. Era velho demais.

Quase a idade de Mozart em 1775. Naquele tempo, o Kraftwerk evocava o futuro. Mas era uma imagem do futuro de 30 anos atrás. Ridiculamente datada.

Embolorada. Caduca. Com seus uniformes aderentes, com sua imobilidade no palco, com suas letras afásicas, com seus arranjos elementares, com sua batida narcótica, com sua tecnologia rudimentar, o futurismo caipira do Kraftwerk era igual ao do seriado de TV com marionetes Os Thunderbirds.

No comecinho da década de 1980, o Kraftwerk influenciou grupos como Joy Division, Depeche Mode, New Order, Soft Cell, Human League. Meia dúzia de acordes no minimoog. Foi o pior momento da história da música.

Foi o pior momento também na história da pintura, da arquitetura, da literatura, que continuaram se abastardando de lá para cá. O espetáculo do Kraftwerk no Sambódromo, com um eletricista no lugar do tecladista, foi o testemunho melancólico de um fracasso geracional. O fracasso de minha geração.

E o espetáculo do Radiohead? Um de seus guitarristas é amigo de um amigo, que me arrumou um lugar no curralzinho da mesa de som. E o baterista do grupo, no dia seguinte, no bar do hotel, ensinou meu filho menor a tocar bumbo.

Apesar disso, eles me aborreceram com aquelas bandeiras tibetanas penduradas nos pianos. Me aborreceram com aquele protesto disparado contra os "norte-americanos". Me aborreceram sobretudo por me fazer ficar de pé por mais de quatro horas.

Durante o espetáculo do Kraftwerk, pensei sobre o fracasso de minha geração. Sobre o futuro esclerosado que representamos. Durante o espetáculo do Radiohead, mais modestamente, pensei apenas que, entre eles e uma cadeira, escolho a cadeira. Entre Mozart e uma cadeira, escolho a cadeira.


Otávio Cabral e Alexandre Oltramari
Brasil
A farra é deles. A conta é nossa



O Senado foi dominado por uma máquina que trabalha continuamente para burlar as leis em benefício próprio. O resultado é uma estrutura perdulária e improdutiva

Montagem sobre fotos de Paulo Fridman/Corbis/Latinstock e Ana Araújo

Salário médio de 18 000 reais; horário de trabalho flexível, que permite dar expediente em casa ou em qualquer outro lugar do país; plano de saúde com reembolso integral de despesas; pagamento de horas extras nas férias; gratificações por tempo de serviço; gratificações por funções exercidas; gratificações por funções não exercidas; possibilidade de ascensão na carreira por mérito; possibilidade de ascensão na carreira por demérito; aposentadoria integral; pensão familiar vitalícia em caso de morte; estabilidade no emprego.

É imenso o rol de possibilidades de 7 000 servidores do Senado Federal, em Brasília.

Nos últimos meses, revelou-se que a parte mais nobre do Parlamento funciona nos moldes de um sultanato, em que tudo pode – inclusive infringir leis, desde que em benefício dos senadores e dos próprios funcionários. Nepotismo é proibido. No Senado, há parentes de servidores espalhados em várias repartições.

O maior salário da República, 24 500 reais, deve ser obrigatoriamente o de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Há pelo menos 700 pessoas no Senado, segundo levantamentos oficiais, recebendo acima desse limite. Sem fiscalização e funcionando de maneira autônoma, o Senado é administrado como se fosse uma confraria – uma confraria com o meu, o seu, o nosso dinheiro.
Dida Sampaio/AE

FANTASMA



O senador Mão Santa tem um diretor do Senado lotado em seu gabinete, mas ele mora no Piauí e recebe sem trabalhar

Em uma década, o orçamento do Senado saltou de 882 milhões de reais para 2,7 bilhões neste ano. É, disparado, a casa parlamentar mais cara para os brasileiros. Cada um dos 81 senadores consome 33,8 milhões de reais por ano. É cinco vezes o custo de um deputado federal em Brasília. Nada menos que 2,2 bilhões de reais, ou 80% de seu orçamento anual, são gastos com pagamento de salários. No total, o Senado tem 9 677 servidores, entre ativos, aposentados e pensionistas.

Há ainda os servidores terceirizados, cujo número exato o próprio Senado até hoje alega desconhecer, mas que pode passar de 2 000. Muito dinheiro, pouca luz e uma boa dose de desapego moral criam o substrato perfeito para todo tipo de malandragem.

E ela tem eclodido como praga. Há casos de senador usando funcionários e a estrutura da Casa para fins pessoais e de funcionário usando apartamento de senador para abrigar parente. Casos de nepotismo, irregularidade em contratos, existência de servidores fantasmas. Histórias que deixam evidente a simbiose entre parlamentares e o corpo administrativo do Senado para o simples bem-estar de ambos. E não há santos.

O senador Mão Santa, do PMDB do Piauí, tem um servidor lotado em seu gabinete, Aricelso Lopes, que exerce função de "coordenador de atividade policial" do Senado. Com direito a broche azul de "autoridade", uma relíquia que dá acesso a várias benesses, o diretor deveria cuidar da segurança dos parlamentares, entre outras coisas.

Mas ele nunca foi visto nem no gabinete de Mão Santa, onde é lotado, nem na Polícia Legislativa, em que ocupa a prestigiosa função de diretor. Na semana passada, VEJA visitou a sala dos seguranças e perguntou pelo tal chefe. "Ari o quê?", indagou o primeiro funcionário. "Acho que ele está no Piauí", disse um segundo.

O terceiro reconheceu: "Faz no mínimo dois anos que ele não aparece aqui", informou Rauf de Andrade, chefe de gabinete da polícia do Senado. Aricelso, ao que tudo indica, é um fantasma. O gabinete de Mão Santa disse que ele foi contratado para capturar um pistoleiro que ameaçava o senador.
Folha Imagem

MUITO FEIO



O senador Wellington Salgado emprega um dirigente da CBF no Senado. O "assessor" só trabalha de vez em quando. O senador nem se importa: "Ele é muito feio"

O diretor caçador de bandido é um bom exemplo de como funciona a irmandade de interesses entre senadores e funcionários. Em 1995, havia no Senado sete secretarias e trinta subsecretarias, órgãos cujos titulares têm status de diretor, acumulando aos salários gratificações que variam de 3 200 a 4 800 reais. Em catorze anos, o número cresceu para 181.

Para atender aos reclames financeiros dos servidores, os parlamentares autorizaram uma série de nomeações esdrúxulas, como diretores de check-in, de garagem e de clipping.

A moda pegou e diretorias passaram a ser criadas para toda sorte de necessidades e interesses. Em 2001, um senador foi flagrado pela esposa em seu gabinete com uma funcionária do Senado, casada com outro servidor da Casa. Confusão pesada. Para evitar um escândalo, a mulher foi afastada do Senado. Para o marido traído foi então criada uma diretoria.

Tempos depois, com os ânimos já aplacados, a própria servidora retornou ao Senado, desta vez premiada pelo "amigo" parlamentar com um cargo de diretora. Na semana passada, Heráclito Fortes, primeiro-secretário do Senado, anunciou a demissão de cinquenta dos 181 diretores. As demissões ainda não foram efetivadas. Uma das diretoras na lista da degola é Paula Canto.

Ela era diretora de controle interno quando notou irregularidades em contratos de terceirização de mão de obra e compra de equipamentos. Foi afastada por ter cumprido suas tarefas. Para evitar que ela levasse adiante as denúncias, nomearam-na diretora-geral adjunta. A única condição imposta: ficar em casa sem trabalhar.


O’Neal e seu bonus de US$ 160 milhões

Sex, 27/03/09por Paulo Moreira Leite |categoria Geral
Alguns comentaristas me impressionam. Eles escreveram para defender Lula depois que ele isse que a culpa pela crise “é dos brancos de pele branca e olho azul.”

Nem todo racismo se dirige aos negros. Muitos se dirigem a populações de pele branca, muitas vezes de olhos azuis — como sabe toda pessoa que estudou a Segunda Guerra Mundial.

É prova de desconhecimento da vida real dizer que não existe banqueiro negro nem índio. Se fosse assim, não haveriam bancos na África, nem na Bolivia ou no México, não é mesmo?

A foto acima mostra Stanley O’Neal, que foi presidente e executivo do Merril Linch, um dos grandes bancos de Wall Street, entre 2003 e 2007.

Um dos reis da especulação e dos derivativos, como tantos colegas de pele branca e alguns “de olhos zuis”, O’Neal aposentou-se com um premio de US$ 160 milhões depois de jogar o banco na lona. Ao lado de outros colegas de serviço, O’Neal foi um dos arquitetos do desastre irresponsável que jogou o mundo no despenhadeiro em que se encontra. Pelo volume, sua aposentadoria é considerada, até hoje, um símbolo dos premios pelo fracasso.

Numa reportagem sobre a atuação da turma, a revista Fortune chegou a insinuar de modo bem humorado que o pessoal tomava decisões depois de fumar maconha, chegando a perguntar: “O que é que eles estavam fumando?”

Qual a importancia da cor da pele de um banqueiro? Nenhuma. O que importa são suas decisões, seus valores e sua visão de mundo.

Num país onde 50% da população considera-se branca, eu acho que o presidente Lula poderia pedir desculpas pelo que disse. Não é de seu estilo, e poucos políticos fazem isso quando tem 65% de popularidade. Mas faria bem ao país — e ajudaria a educar muitos de seus admiradores.

O papelão de Lula

Sex, 27/03/09por Paulo Moreira Leite |categoria GeralLula perdeu uma boa oportunidade de ficar calado em seu discurso diante do primeiro ministro britânico Gordon Brown. O presidente disse que vivemos uma crise “causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca, de olhos azuis, que antes da crise parecia que sabia tudo e que, agora, demonstra não saber nada.”

Questionado por um jornalista inglês, o presidente continuou, acrescentando que não conhece “nenhum banqueiro negro ou índio.”

É absurdo e vergonhoso. Todo esforço para associar cor da pele, tipo de cabelo, cor dos olhos e outros traços genéticos a realizações econômicas e sociais é uma forma de preconceito.

Equivale a comportar-se como aquele cidadão que diz: “índio é preguiçoso e por isso vive no mato” ou aquela dona-de-casa que sentencia: “nunca vi um negro tirar nota boa na escola”. Não custa recordar que, para muitos escravocratas, o cativeiro servia para educar e civilizar os negros africanos.

Cesare Lombroso, um psiquiatra italiano do seculo XIX que fez trabalhos sobre a loucura, a mediunidade e a criminalidade, chegou a formular a teoria de que era possivel adivinhar o comportamento de um criminoso pelo formato do rosto — e assegurava ter descoberto traços que indicavam vocação para o roubo, o homicídio e o estupro.

Eu até entendo que um governo que defende o sistema de cotas nas universidades dê muita importância à cor da pele em sua forma de explicar as dores e mazelas do mundo. Mas, ao assumir um viés racial para o debate sobre a crise economica mundial, Lula chegou ao limite do grotesco.

Perdeu a oportunidade de cobrar a responsabilidade de quem deve — para criar uma ambiente pouco proveitoso de agressividade e constrangimento. Não há dúvida de que a crise teve início nos países ricos e desenvolvidos. Mas a discussão é de política econômica.

Aliado do Brasil, país que seu governo considera um parceiro prioritário na reunião do G-20, Gordon Brown não conseguiu disfarçar o constrangimento diante das palavras de Lula.

Os banqueiros não quebraram o mundo porque são brancos nem porque tem olhos azuis. Também não tem o monopólio do comportamento irracional — característica que faz parte do sistema econômico em que vivemos.

Fernanda Colavitti

"Os homens transam pouco"

O psicanalista Contardo Calligaris estreia como dramaturgo com a peça O Homem da Tarja Preta, sobre a sexualidade masculina. Nesta entrevista a ÉPOCA, ele diz que os homens têm preguiça de fazer sexo

Gotardo: Tem que transar no elevador, na cozinha, em lugares divertidos ÉPOCA - O senhor disse que já atendeu homens dos três continentes. O homem brasileiro tem alguma especificidade?
Contardo Calligaris - A grande diferença é o Atlântico. Há muita similaridade em geral entre pacientes americanos do norte e do sul e uma diferença mais marcante entre os europeus e os americanos.

Os europeus têm uma relação muito mais explícita e aguda com suas fantasias sexuais, enquanto o "homo americanus" tanto do norte, quanto do sul, muito frequentemente reprime suas fantasias de tal forma que pode ser um longo trabalho para eles chegar a descobri-las e admiti-las para si mesmos.

ÉPOCA - E a internet foi uma maneira encontrada para extravasar essas fantasias reprimidas?
Calligaris - Sim, e é ótimo poder brincar na internet, como faz o personagem da peça, que é alguém que está totalmente em contato com suas fantasias sexuais. Ele sabe quais são.

Pode ser que ele tenha outras e que nem todas sejam tão claras, mas aquelas que são cruciais na vida dele naquele momento, ele as pratica, o que não é o caso de todos os homens.

ÉPOCA - A internet mudou a maneira com que as pessoas lidam com a própria sexualidade?
Calligaris - Sem dúvida, de várias maneiras.

A primeira é a grande liberdade. Mas, antes disso, muitas pessoas que achavam que suas fantasias eram aberrações patológicas e que só elas no mundo tinham uma fantasia, sei lá, de transar no fundo de uma piscina, com a internet, puderam descobrir que não, que tem muitas pessoas que pensam da mesma forma, e por isso se sentem mais autorizados a viver sua sexualidade. Isso, sobretudo para pessoas que vivem em cidades pequenas, ou em meio rural, foi uma libertação fantástica, pois é um extremo alívio descobrir que você não é um louco que tem uma tara absolutamente única e maluca.

ÉPOCA - O homem do século 21 já não é mais o provedor e, em muitos casos, também não é o caçador, no sentido de conquistador. Qual é o papel do homem moderno?
Calligaris - É exatamente isso que ele está se perguntando e eu não sei responder. Aliás, a peça é feita para dizer que não sei a resposta e acho que ninguém tem como responder. O que é verdade é que, por um lado, esses papéis convencionais que pareciam satisfazer as expectativas que pesavam sobre o homem não satisfazem mais.

E por outro lado, a questão está constante e angustiantemente aberta sobre como corresponder às expectativas, sobretudo às da mãe. Aliás, você já se deu conta que na língua, não só na portuguesa, mas na inglesa e em várias outras, ninguém diz "seja mulher", só se diz "seja homem". Isso pode ser dito até para uma mulher.

ÉPOCA - O senhor quer dizer que o peso de ser homem é maior?
Calligaris - A expectativa é muito grande. Agora, o que isso quer dizer é outra história

ÉPOCA - E a expectativa em relação ao desempenho sexual masculino também está mais alta...
Calligaris- Isso também faz parte, até porque a mulher tem o privilégio de poder fingir com mais facilidade.

ÉPOCA - E as mulheres estão cobrando mais...
Calligaris- É verdade, e com uma certa razão, pois os homens estão cada vez mais preguiçosos sexualmente. Os homens têm preguiça de transar, você não acha? Não digo todos, mas existe uma certa preguiça na prática do desejo, inclusive na prática das próprias fantasias.

Apesar do que podem falar em circunstâncias tradicionais, na padaria da esquina depois da terceira pinga, os homens transam pouco. Hoje vejo muito mais mulheres se queixando de que os homens delas, maridos e namorados, não transam, ou transam muito pouco, ficam satisfeitos transando uma vez por semana e elas não.

ÉPOCA - Hoje são os homens que tem “dor de cabeça”...
Calligaris - É verdade. Nos anos 1960, 70, a queixa era sobre a mulher que não queria transar. Hoje isso se inverteu.

ÉPOCA - Mas o que aconteceu?
Calligaris - Uma das razões de ser da peça é essa questão. O desejo sexual para o homem não é uma coisa natural, somos o único bicho para o qual o desejo sexual não é natural. Para a maioria dos mamíferos, quando a fêmea está fértil, ela emite um cheiro que o macho reconhece e pronto. Para o homem não há nenhum estímulo natural, o desejo se separou da função da reprodução.

O que alimenta o desejo masculino ou feminino são ideias, palavras, fantasias. O desejo não é natural, é preciso cultivá-lo. Se um homem se afasta das suas fantasias, se ele não as pratica, vai perder seu desejo sexual. Aquela coisa de que "a gente vai para cama e uma vez juntos ali a coisa vai funcionar".. Não, não vai.

ÉPOCA - Esse desinteresse masculino não pode, de alguma maneira, estar ligado à facilidade com que os homens obtêm sexo atualmente?
Calligaris- Essa facilidade é real, mas normalmente é um sexo muito chato, é um sexo sem fantasia.

ÉPOCA - A variedade é entediante, a repetição, o sexo com uma parceira fixa também.
Calligaris- Não acredito muito nisso. Minha experiência, e a de qualquer psicoterapeuta, é a de que os seres humanos adoram repetir, são mestres na repetição, inclusive na dos piores erros que podem cometer na vida. Por isso não acredito que a repetição seja uma razão suficiente para deixar de desejar.

O que acontece é que paramos de desejar e acabamos culpando a mulher. O problema é não fantasiar mais, chegar na cama às 23h30, apagar as luzes e achar que naquele momento deveria estar afim de transar. Ninguém vai estar afim de transar naquele momento. Tem que transar no elevador, na cozinha, em lugares mais divertidos.


28 de março de 2009
N° 15921 - NILSON SOUZA


O rio da minha aldeia

Sou um privilegiado desta cidade aniversariante. Não nasci em berço dourado, nem ganhei na Mega Sena ou fui contemplado com uma diretoria do Senado. Nada disso. Meu privilégio é outro e nem chega a ser exclusivo.

Compartilho-o todos os dias com outras pessoas anônimas, com estudantes no rumo da escola, com bêbados e damas da noite surpreendidos pela claridade da manhã, com operários da construção que madrugam em suas bicicletas para chegar cedo na obra e também com os demais caminhantes das primeiras horas do dia.

Caminho ao lado do rio da minha aldeia. Dizem os especialistas que não é rio, que é lago, mas isso pouco importa.

Para mim, continua sendo rio, aprendi a chamá-lo assim no tempo em que morava longe dele e só o encontrava nos verões. As suas praias, acreditem, já foram o sonho de consumo dos porto-alegrenses, especialmente daqueles que nasceram e cresceram na zona norte da Capital.

Agora, vejo-o como um vizinho querido. Habituei-me a contemplá-lo nas manhãs de todas as estações. Conheço suas belezas e seus humores. Já o vi despertar alucinado, lançando-se furiosamente contra as pedras da margem e contra as taquareiras, querendo atravessar a estreita faixa de areia que o separa do asfalto.

Já o observei acordando sonolento sob o manto das neblinas outonais. Mas invariavelmente encontro-o calmo, no ondular resignado do seu destino de saciar a sede das populações que se aquerenciaram às suas margens.

Não raro amanhece imóvel, transformando-se num gigantesco espelho desta cidade vaidosa de seu pôr-do-sol. Se ele não existisse, chego a pensar, o sol passaria reto por Porto Alegre, sem jamais voltar para o bis.

Mas o rio também inspira outros espetáculos. Esta semana mesmo, presenciei uma cena curiosa quando caminhava no calçadão de Ipanema. Na beira da água, um jovem fotografava a namorada. Ela, coberta por um vestido leve, saltitava alegremente na areia, fingindo voar como as garças que frequentam aquelas margens.

O menino esforçava-se para encontrar um ângulo que contemplasse ao mesmo tempo a energia adolescente de sua amada e a serenidade contagiante do rio.

Aquela cena de magia e vida me fez lembrar um verso de Fernando Pessoa, que ouvi certa vez na voz do ator Werner Schünemann: “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”.

O rio da minha aldeia, da minha gente, da minha vida chama-se Guaíba.


28 de março de 2009
N° 15921 - PAULO SANT’ANA

Só mesmo ironizando

Com a autoridade de ter sido o único que se preocupou com a problemática carcerária nos últimos 37 anos, vou meter minha colher na discussão sobre a conveniência da administração privada no interior dos presídios.

E vou opinar junto com os novos penitenciaristas: sou contra a privatização dos presídios.

Como é que posso ser a favor da privatização, se é proibido fumar nos presídios privados?

Isso é um atentado à liberdade dos presos. O certo é o que acontece atualmente: os presos têm liberdade para fumar tabaco, para fumar crack e maconha, para cheirar cocaína e heroína. Isso é o que é certo.

Além disso, como posso ser a favor da privatização dos presídios, se com ela os presos são obrigados a estudar? Isso é um absurdo. Preso não foi feito para estudar.

Além disso, os presídios privados carregam a tremenda desvantagem de que os presos são obrigados a trabalhar.

Está errado. O preso tem direito ao ócio. Como disse ontem em Zero Hora um dos novos penitenciaristas, preso trabalhando é semiescravidão. É irrazoável obrigar o preso a trabalhar.

Além do que, por cada dia trabalhado, o preso cumpre a pena de dois dias. Esse é um privilégio monstruoso. O preso acabará, quando trabalha, cumprindo, assim, somente a metade da pena.

Sou contra os presídios privados, sou contra preso estudando dentro das cadeias, sou contra preso trabalhando em minifábricas dentro das cadeias.

Sou a favor do sistema atual, em que os presídios são fábricas, mas fábricas de aperfeiçoamento dos criminosos no crime.

O desaforo dos presídios privados: obrigam os presos a trabalhar e a estudar. De onde é que tiraram esta loucura?

Ontem, um dos novos penitenciaristas saiu-se com esta: ele é contra os presídios privados porque eles trazem consigo uma limitação, não pode exceder em um preso sequer a capacidade do presídio.

Se a capacidade do presídio privado é de 400 presos, diz o adventista, e se quiser colocar lá mais um preso, ou seja, 401, não pode. Está errado, escreveu o novo penitenciarista. O certo é colocar lá 401, 402, 601, 602, 3 mil presos.

Estão certos os novos penitenciaristas, a regra para os presídios privados tem de ser a mesma dos presídios públicos, tem de superlotar, tem de abarrotar, tem de sair preso pelo ladrão, tem de haver igualdade entre os dois sistemas. Que magnífica sacada!

Ou seja, os novos penitenciaristas pregam o que é certo: a superlotação dos presídios.

Também sou contra a privatização dos presídios.

Outra coisa: nas cadeias públicas, o índice de reincidência criminal dos presos que são soltos é de 75%. Ou seja, três quartos dos presos que são libertados voltam a delinquir.

Enquanto que nos presídios privados o índice de reincidência é de apenas 7%. Dez vezes menos presos dos presídios privados voltam a cometer crimes.

Sou contra os presídios privados, onde já se viu, desse jeito, com os presos dos presídios privados se regenerando, daqui uns tempos não haverá mais presos. E o que se vai fazer com as verbas carcerárias, desaparecerão?

E o que vai ser dos concursados do serviço penitenciário público, únicos que podem tocar nos presos, segundo os novos penitenciaristas?

Sou contra. É preciso manter os presos delinquindo depois de soltos, é necessário que os presos se entreguem ao ócio e à vagabundagem, nada de trabalhar dentro dos presídios, têm só de estuprar os outros presos, matar os outros presos, aterrorizar os outros presos, como acontece atualmente no regime público de administração do interior dos presídios.

Sou contra os presídios privados. Essa ideia de presídios privados só cabe em cérebros de tolos.

sexta-feira, 27 de março de 2009


JOSÉ SIMÃO

Socuerro! Eu quero a camisinha do papa!

Se ele é contra a camisinha, ele que não use! É a Dieta do Papa: ninguém come ninguém!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!

Protesto na França! Camisinha com a cara do papa! Uau, que brochante! É que o papa Sebento 16 foi pra África, onde a Aids matou 12 milhões, e disse que não pode usar camisinha.

Então, como protesto, tá circulando em Paris a camisinha com a cara do papa. Camisinha com cara do papa devia se chamar BICHO-PAPÃO! E o slogan: Na hora de papar a menininha/ lembre do papa de camisinha! Rarará!

E eu acho o seguinte: se o papa é contra a camisinha, ele que não use! Rarará! É a Dieta do Papa: ninguém come ninguém! E o papa disse que temos que ser castos dentro e fora do casamento. Dentro tudo bem, fora do casamento é que não tá dando pra ser casto. Rarará!

E sabe qual é a diferença entre transar com o papa e transar com o marido? Transar com o papa é pecado, e transar com o marido é milagre! Como diz um amigo: eu quero ser católico, mas o papa não deixa! E a Hebe? A Lourebe! A Perua Amiga!

Na Disney! Tem uma foto hilária da Hebe no carrossel! Gritando e com as pernas pra cima. Parece que ela tá num touro mecânico! Aquilo é carrossel ou touro mecânico?!

E ela abraçada com o Mickey? Ué, mas véia não tem medo de rato? Rarará! Socuerro! Heloísa Helena rides again! Menino, pois agora a Heloísa não se juntou com o Protógenes? Aquele do grampo! Vão fazer ato público no Rio!

É o casal perfeito: ele só escuta e ela não para de falar! Já imaginou a Heloísa berrando como uma cabrita alucinada: "Imperialistas, capitalistas, capitães do mato dessa elite corrupta, cambada de baba ovo!". E o Protógenes só no grampo! Heloísa Helena e Protógenes: o Grampo e a Língua Solta!

E sabe como se chama o assessor nacional de imprensa do PSOL? Jacinto Índio! Manda pros arrozeiros. Então devia ser assessor dos índios da Serra da Raposa! É mole? É mole, mas sobe! Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês".

Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Caravelas, no sul da Bahia, tem uma creche chamada Creche Municipal da Vovó Loca! Ueba! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Empapado": companheiro ateu que não aguenta mais notícia do papa! Aliás, empapuçado! Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. Na camisinha do papa!

simao@uol.com.br