sexta-feira, 4 de julho de 2025


04 de Julho de 2025
CARPINEJAR

Do altar para o luto

O jogador português Diogo Jota, 28 anos, ídolo da seleção de Portugal e do Liverpool, havia recém publicado o vídeo de seu casamento em suas redes sociais. Ainda estava encantado, sob os efeitos da celebração de 22 de junho, no Porto. Escreveu na legenda: "Um dia que nunca esqueceremos".

Acabou sendo sua derradeira postagem. Ele e seu irmão, André Silva, 25 anos, atleta do Penafiel, morreram em um acidente de carro na madrugada de ontem, numa rodovia federal em Zamora, no noroeste da Espanha.

De acordo com a Guarda Civil, numa ultrapassagem, o pneu do Lamborghini estourou, jogando para fora da pista o automóvel, que bateu no guard rail e pegou fogo com a colisão.

Os desígnios da vida são incompreensíveis, indecifráveis. Diogo se encontrava no período de lua de mel, casado havia menos de duas semanas. Ele agradecia e formalizava a união de mais de uma década com Rute Cardoso. Festejavam também o nascimento da terceira filha do casal, em novembro de 2024. Dinis (quatro anos) e Duarte (dois) completavam a família.

Assim como é imensurável a dor e a brutal desolação dos pais, Joaquim Silva e Isabel Silva, diante do adeus conjugado de seus únicos filhos. Diogo Jota experimentava o auge da carreira, com a faixa de campeão da Premier League atuando pelo Liverpool. No gigante inglês, conquistou ainda a Copa da Inglaterra e duas Copas da Liga.

No mês passado, ergueu o troféu da Liga das Nações por Portugal, em final contra a Espanha, decidida nos pênaltis após empate por 2 a 2. Destacou-se como um dos artilheiros da seleção portuguesa, com 14 gols em 49 jogos.

Gilberto Andrade, que trabalhava na base do Paços de Ferreira, descobriu o talento do garoto em Gondomar, nas cercanias do Porto: "Era um cavalo selvagem", comentou ao jornal Diário de Notícias.

O jovem chegou ao Paços em 2013 e estreou no profissional já em 2014, aos 17. Em 2016, foi contratado pelo Atlético de Madrid. No entanto, ele não participou de uma partida oficial sequer sob o comando de Diego Simeone e seguiu de empréstimo ao Porto (2016/17) e ao Wolverhampton (2017/18).

Depois, tornou-se estrela do Liverpool por cinco temporadas, começando como meia e se especializando como ponta, numa trinca ofensiva ao lado de Mohamed Salah e Sadio Mané, a ponto de surpreender o técnico da época, Jürgen Klopp: "Ele é muito melhor do que eu achava que era".

Jota cresceu em silêncio, sob os pilares do esforço, da humildade, da superação. Nunca aparecia mais do que o necessário, mas sempre se mostrava presente com o gol inesperado, com a jogada contundente, com a disputa de bola raçuda, desprovida de vaidade.

A tragédia só reforça a certeza de que nunca saberemos quando será a última vez. A despedida acontece todo dia. De uma hora para outra, uma existência fulgurante se apaga. Não dá nem para contar os passos: do altar para a saudade, do título para os pêsames.

Da mais extrema alegria, sem transição, parte-se para o mais desesperador e súbito luto. Alguém que digitava o quanto estava realizado vê tudo se perder em uma viagem de volta para casa. Natural de Massarelos, Diogo José Teixeira da Silva, conhecido amorosamente como Diogo Jota pela torcida, talvez tenha sentido essa urgência de ser inesquecível, de não deixar nada para depois.

O que explica que tenha feito tanto em tão pouco tempo. Não era ansiedade, mas fome de viver. 

CARPINEJAR

Nenhum comentário: