
EM FOCO
Documento encaminhado na terça-feira manifesta "indignação" com o anúncio feito por Donald Trump, na última semana, sobre taxar em 50% os produtos exportados pelo Brasil e cita impacto negativo da medida aos países. Alckmin, Alcolumbre e Motta pregaram união para defender os interesses nacionais
Em carta aos EUA, governo federal cobra respostas
Em carta enviada na terça-feira aos Estados Unidos, o governo federal demonstrou insatisfação com o tarifaço anunciado por Donald Trump aos produtos brasileiros. Assinado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o documento foi encaminhado a Howard Lutnick, secretário do Comércio dos EUA, e a Jamieson Greer, representante do Comércio Norte-americano.
"O governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto", diz o primeiro trecho da carta.
O texto prossegue com o argumento de que as tarifas poderão ter um impacto "muito negativo". O governo federal salienta que sempre dialogou "de boa-fé com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral".
Sintonia entre poderes
Alckmin e os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta, se reuniram ontem para tratar do tarifaço. Em um vídeo publicado nas redes sociais, eles afirmaram estar "unidos para defender os interesses do Brasil por meio do diálogo e da negociação".
Em um trecho da gravação, Alcolumbre diz que o Poder Legislativo irá proteger a soberania do Brasil e o interesse dos brasileiros, bem como os empresários. Motta destacou que decisões externas não devem interferir na soberania brasileira. Alckmin disse a parlamentares que a Lei da Reciprocidade será utilizada como último recurso.
Pesquisa Quaest divulgada ontem aponta que a maioria dos brasileiros discorda das justificativas de Donald Trump para as tarifas. Para 72% dos entrevistados, o republicano está errado ao impor as novas taxas sob o argumento de que há perseguição judicial a Jair Bolsonaro. Apenas 19% acreditam que ele está certo. _
Investigação comercial mira Pix, etanol e comércio de rua
Bruna Oliveira
bruna.oliveira@zerohora.com.br
Apertando o cerco contra a economia brasileira, o governo dos Estados Unidos anunciou uma investigação para apurar práticas comerciais consideradas "desleais". O documento cita uma série de atividades financeiras do Brasil (veja ao lado).
A investigação tem como base a Lei de Comércio de 1974, que dá autoridade ao presidente americano negociar acordos comerciais. A Seção 301 da legislação permite retaliação a práticas consideradas prejudiciais aos EUA.
"Sob a orientação do presidente Trump, estou iniciando uma investigação nos termos da Seção 301 sobre os ataques do Brasil às empresas americanas de mídia social, bem como outras práticas comerciais desleais que prejudicam empresas, trabalhadores, agricultores e inovadores tecnológicos americanos", disse, no comunicado, Jamieson Greer, representante de Comércio dos EUA. _
Alguns dos alvos da Casa Branca - pagamento eletrônico
Conforme a publicação do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), o sistema de pagamento eletrônico brasileiro, reconhecido pela funcionalidade do Pix, "parece adotar uma série de práticas desleais". A apuração insinua que o sistema parece favorecer os serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo.
fiscalização
Emblemática no comércio popular, a Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, é citada no documento como uma falha da fiscalização no país. O local é apontado como polo de venda de produtos falsificados, apesar das ações para coibir as práticas.
combustível
O documento acusa o Brasil de promover um comércio "desequilibrado" no mercado do etanol. Dividindo o posto de maiores produtores mundiais, o Brasil e os EUA representam, juntos, 80% da fabricação do combustível. O relatório se baseia na diferença entre as tarifas de exportação aplicadas por ambos os países, sendo a brasileira mais alta. O escritório norte-americano diz que as taxas aplicadas pelo Brasil prejudicam o comércio bilateral.
Desmatamento
Alvo de críticas no cenário global, o desmatamento ilegal em terras brasileiras também é citado no relatório como alvo de apuração. Segundo o documento, a prática ocorre "em níveis significativos no Brasil".
Redes sociais
A posição do Supremo Tribunal Federal (STF) de responsabilizar empresas de redes sociais por publicações ilegais feitas por seus usuários não passou ilesa ao relatório. O escritório diz que a medida pode levar à imposição de restrições a manifestações diversas, além de causar prejuízos econômicos às empresas.
Tarifas preferenciais
Os Estados Unidos ainda apontam que o Brasil concede tarifas preferenciais mais baixas a determinados parceiros comerciais. O governo americano não citou quais parceiros seriam esses. Na avaliação do USTR, a opção brasileira prejudica as exportações norte-americanas.
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