
Negligência com o trânsito mais violento
O ano passado foi o quarto consecutivo de aumento de mortes em rodovias federais e o terceiro de crescimento da quantidade de acidentes no país. Diante do que parece ser uma nova tendência, com a inversão da curva observada a partir de meados da década anterior, o esperado seriam medidas e campanhas empenhadas em deter o recrudescimento da violência no trânsito, atacando as principais razões da elevação da sinistralidade nas vias do país. Mas notícias mais recentes são preocupantes por indicarem um menor controle do excesso de velocidade, uma das causas preponderantes de acidentes.
O colunista Jocimar Farina informou ontem que, por falta de recursos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), uma significativa parte dos pardais em rodovias federais brasileiras será desligada a partir do dia 1º de agosto. Entre as exceções estão as pedagiadas.
Desde o ano passado se alertava para as consequências da redução de recursos para o Dnit, definida no orçamento da União. Para as ações nas quais está incluído o pagamento dos serviços de controladores de velocidade, o pedido do departamento foi de R$ 364,1 milhões, mas o destinado foi R$ 43,3 milhões, 88% abaixo do considerado adequado. O quadro também é reflexo das distorções no ordenamento das verbas públicas e da precariedade fiscal do país. Faltam recursos para gastos discricionários, enquanto crescem as despesas obrigatórias e as emendas parlamentares.
O jornal Folha de S.Paulo também tratou do assunto na semana passada. Conforme o veículo, originalmente os recursos cobririam o serviço até o final de junho, mas uma liberação emergencial deu sobrevida ao funcionamento dos pardais. Dnit e Ministério dos Transportes disseram negociar com a Casa Civil formas de manter a fiscalização. Aguarda-se, portanto, que exista a necessária recomposição.
O verdadeiro custo da paralisação do serviço nas rodovias federais será o de mais tragédias no trânsito. De acordo com o Painel CNT de Acidentes Rodoviários, da Confederação Nacional dos Transportes, em todo o país, no ano passado, ocorreram 73.114 acidentes em estradas federais, 8% acima de 2024, que produziram 6.153 vítimas fatais, aumento de 9%. A origem dos dados é a Polícia Rodoviária Federal (PRF). O Rio Grande do Sul teve o quinto maior número de acidentes e mortes. Nas vias gaúchas, incluindo as estaduais e dos municípios, 1.652 pessoas perderam a vida em 2024, crescimento de 4,8% sobre 2023, conforme o Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Os acidentes nas rodovias federais, segundo a CNT, legaram em 2024 prejuízos de R$ 16,1 bilhões, sendo R$ 1 bilhão no Rio Grande do Sul. Mas há outros impactos. Conforme levantamento das associações brasileiras de Medicina do Tráfego (Abramet) e Medicina de Emergência (Abramede), nos últimos 10 anos os sinistros de trânsito geraram 1,8 milhão de internações pelo SUS, ao custo de R$ 3,8 bilhões. Voltar a reduzir acidentes e mortes de forma consistente depende, em boa medida, de conscientização e educação para o trânsito. Mas em um momento de nova intensificação de tragédias, é irresponsável negligenciar mecanismos inibidores de excesso de velocidade em pontos críticos.
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