quarta-feira, 16 de julho de 2025



16 de Julho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Governo e exportadores buscam volta da tarifa de 10%

Presidente da Associação das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira participou ontem da primeira reunião entre representantes do governo e dos exportadores brasileiros depois da imposição da alíquota de 50% por Donald Trump.

- Cada um saiu com uma tarefa, mas o objetivo é voltar à tarifa de 10%. O que era ruim já começa a ser menos ruim, infelizmente - relatou à coluna.

O foco, reforçou o presidente da Abicalçados, é tentar resolver o problema até o dia 31, já que a tarifa deve entrar em vigor em 1º de agosto. Reivindicada por muitos setores, a prorrogação de 90 dias só seria buscada caso não haja solução até lá.

Na reunião, Alckmin fez um relato das negociações que já estavam em curso. A última etapa havia sido o envio de uma carta "confidencial" ao governo americano, no dia 4 de julho, que até hoje está sem resposta. O primeiro passo será solicitar uma devolutiva dessa proposição.

Nas tarefas dos setores privados, ficou combinado que os que têm negócios complementares nos EUA farão contato com os americanos para ajudar a pressionar o governo Trump. Não é o caso dos calçados, observa Ferreira. Embora existam empresas que exportam com marca própria, a maioria vende calçados chamados "private label", ou seja, fabricados sob encomenda no Brasil para receber marca americana lá.

Agora, Alckmin é o "cara"

Em 2009, numa reunião do G20 em Londres, Luiz Inácio Lula da Silva foi chamado de "my man" por Barack Obama, então presidente dos Estados Unidos. O brasileiro virou "o cara". Dezesseis anos depois, Lula está de volta à presidência, mas o "o cara" nas relações com os EUA passa a ser Geraldo Alckmin. O político, que já foi chamado por lulistas de "picolé de chuchu", agora tem a tarefa de tentar descongelar as relações diplomáticas e comerciais entre os países.

Chegou a enfrentar "concorrência" do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que também convocou reunião com empresários e o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar.

Mas, assim como presidentes da República, nem governadores nem o segundo escalão das representações diplomáticas costumam se envolver em negociações de alto nível. Por isso, os titulares foram a Brasília e representantes, a São Paulo.

Então, ao menos por alguns dias, "o cara" agora é Alckmin. Foi um alívio para os setores que dependem de êxito na abertura das negociações pós-tarifaço de 50%. Tinha de ser ele, por ser a "contraparte", ou seja, ser do mesmo nível hierárquico dos interlocutores.

Mas além de ter o cargo certo, Alckmin é a pessoa certa: não se conhecem episódios em que tenha escorregado nas palavras. Ao contrário, deve seu apelido à tendência natural de usar muitas palavras para dizer pouco e aparar arestas. _

Como a informação inesperada sobre a manutenção do impasse no aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) chegou perto do fechamento, o dólar teve o primeiro recuo desde o tarifaço. Baixou 0,46%, para R$ 5,558, enquanto a bolsa oscilou 0,04% para baixo. O mercado apostava em acordo. Mais uma vez, a última palavra será de Alexandre de Moraes.

Recuperação de casas e busca de dignidade

Com previsão de ficar pronto em 2027, o projeto Favela 3D - de vida digna, digital e desenvolvida - em Eldorado do Sul já recuperou 50 casas afetadas pela enchente. A taxa local de empregabilidade aumentou 15,4% desde janeiro deste ano. Foram feitos serviços como reforma de pisos e telhados, instalação de banheiros com chuveiro, conexão à rede elétrica e acesso a água encanada.

A iniciativa para transformar a Vila Costaneira em Favela 3D é da ONG Gerando Falcões, com apoio de Gerdau e Instituto Melnick e execução do Instituto Ascendendo Mentes. Um painel instalado na entrada, chamado de Dignômetro, mostra o avanço em tempo real.

Hoje, 24,5% das famílias da vila vivem com dignidade, conforme levantamento da Gerando Falcões. Em janeiro, a taxa era zero. Estão aptos a trabalhar 82,4% dos moradores, aumento de 15,4% em relação ao início deste ano.

- Em oito meses de projeto, fizemos um diagnóstico e criamos o Plano Favela. Mais de 200 famílias que vivem no território já participam do programa Decolagem, que permite o atendimento individual com metas reais e alcançáveis para que cada família conquiste a dignidade e a emancipação socioeconômica - detalha a diretora de tecnologias sociais da Gerando Falcões, Nina Rentel. _

Entrevista - Alceu Albuquerque - Diretor de relações com investidores da Grendene

"Tarifa de 50% inviabiliza a exportação para os EUA"

Dona de marcas como Melissa, Rider e Ipanema, a Grendene tem 9% da receita de exportações nos EUA.

Em valores e representação, o que significam as exportações aos EUA para a Grendene?

Embora os EUA sejam o maior mercado consumidor de calçados do mundo, não são muito relevantes para a Grendene. Nos últimos anos, exportamos para lá cerca de US$ 10 milhões, ou 9% do total das exportações em termos de receita em dólares. Em número de pares, o percentual é menor, fica perto de 4%. Para nós, países da América Latina, como Colômbia e Argentina, são mais relevantes do que os EUA.

Já houve algum impacto?

Por enquanto, em termos de cancelamento de pedidos, não. As empresas e os importadores estão em modo de espera, na expectativa de que se chegue a uma solução diplomática. O que estamos fazendo para tentar contornar um pouco é embarcar para os EUA os pedidos que já temos em casa, desde que tenhamos certeza de que o produto será despachado e liberado lá antes do dia 1º de agosto, para evitar a tarifa adicional. Eventualmente, mandamos via aérea.

E os pedidos que só chegariam depois de 1º de agosto?

O que ocorrer mais para frente vamos ter de conversar com nossos clientes, mas a expectativa é que se chegue a um acordo, até porque uma tarifa de 50% inviabiliza a exportação para os EUA, torna o produto caro. Então, é aguardar as definições para avaliar qual será a estratégia para o mercado americano.

Antes do tarifaço, como estava a Grendene?

As exportações do setor sofreram nos últimos anos. Percebemos recuperação na Grendene com maior apetite de compradores internacionais e por base mais fraca. Desde o tarifaço de Trump, especialmente sobre os produtos chineses, vimos crescimento forte do interesse de empresas americanas em avaliar negócios com a gente, mas nada concreto.

A incerteza pode afetar investimentos da empresa?

Em nada. A Grendene já tem capacidade de produção para atender eventuais incrementos no volume de pedidos. 

GPS DA ECONOMIA

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