
Chulé e "chuléx"
Quem pensa que o assunto chulé é menor está mal informado. Os laços amorosos são afetados, existem casais que se separam, e casais que nem acontecem, devido a tais odores. Além de arruinar paixões, o mercado imobiliário é aquecido: temos pais que antecipam a saída dos filhos de casa (geralmente homens), por causa dele.
Meu objetivo é um apelo à conscientização: o chulé, e seu irmão maligno, o "chuléx", merecem ser discutidos com a seriedade de uma crise global. Eles destroem laços, arruínam noites românticas e deixam um legado fedorento em calçados inocentes. Até o Tinder está criando uma certificação: livre de chulé.
É provável que você não conheça a palavra "chuléx". Afinal, recém mandei minha proposta de neologismo para a Academia Brasileira de Letras - vá que eles façam algo útil, ao invés de tomar chá. Trata-se de uma distinção semântica básica que a nossa língua não faz.
Existe o chulé, palavra que dispensa apresentação, tecnicamente bromidose plantar. E existe o seu efeito posterior, quando o cheiro entranha no sapato e funciona como um sachê ativo de cheiro do inferno. Como nomear este insidioso pós-chulé, fruto de um dia intenso de suor acumulado, em meias e calçados que já viram dias melhores? Sugiro nomear "chuléx" como o termo que captura a permanência do horror do chulé.
Afinal, chulé é passageiro; "chuléx" é eterno, como o amor que você jurou ter pelo seu par, até o dia em que ele tirou os sapatos no seu carro. Proponho uma palavra nova porque "catinga", embora tenha um sentido preciso, é muito genérica. Além disso, não creio que "bromidose plantar retida" venha a se tornar um termo popular.
"Tênis de pandora", como já foi sugerido, ignora outros calçados. Mulheres que já usaram sandálias, ou sapatos de plástico, sabem bem do que falo. Você pode até lavar com creolina, deixar no sol, mergulhar em álcool, benzer com água benta, tudo inútil: o "chuléx" permanece como uma maldição ancestral.
O "chuléx" é budista. Ele nos mostra as vantagens espirituais do desapego. Quem já passou por isso sabe que a única solução é enterrar ou cremar o calçado. Uma experiência de renúncia que nos leva a estágios mais elevados da alma, e mais baixos de bolso. _
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