sexta-feira, 3 de outubro de 2008



03 de outubro de 2008
N° 15747 - DAVID COIMBRA


Viva os ricos!

Queria um candidato a prefeito que defendesse os mais favorecidos. Um que pensasse nos aquinhoados, nos bem de vida. Na classe A. Sem descuidar da saúde e da educação, óbvio, mas com o olhar rútilo para o luxo e as amenidades da vida. Seria o meu candidato.

Por quê? Por causa, por exemplo, de um naco de Porto Alegre que descobri, dia desses. Uma prainha do Guaíba engastada nas cercanias do Museu Iberê.

Nem desconfiava da sua existência. Normal – nós, da Zona Norte, nos diziam que nesta cidade tem um rio, mas certeza certeza só tivemos depois de, sei lá, passar dos 18 anos.

Então, lá estava eu, na pequena praia. Que lugar lindo e nojento. Lindo por natureza, nojento por abandono. Ainda que sua praça pareça atendida pela prefeitura, a grama cortada e tudo mais, o lixo se acumula na areia e, como não há nenhum comércio nas imediações, o local torna-se ermo e inseguro.

Fiquei imaginando se Paris possuísse um recanto bucólico como aquele. No que a prefeitura de Paris faria com o lugar. Como o embelezaria, como chamaria a iniciativa privada para erguer por perto um café, um restaurante, e as pessoas almoçariam olhando embevecidas para o rio.

Paris faria daquela curva da cidade um lugar atraente para os mais favorecidos, que trariam segurança e empregos. E beneficiariam os menos favorecidos.

Algum gaiato argumentaria que não se pode comparar Porto Alegre com Paris. Por que não? Eu aqui, como os menos favorecidos, quero o melhor. Não quero o feio, o sujo, o precário.

Eu e os menos favorecidos, e os mais favorecidos também, todos queremos o belo, o limpo, o bem-amanhado. Mas alguém disse para os candidatos a prefeito, e para alguns ex-prefeitos, que o pobre gosta de conviver com a pobreza. E eles acreditaram.

Quando a prefeitura discute um projeto, digamos o do Cais do Porto, logo vem um defendendo que o lugar seja “para toda a população”. Isso significa a instalação de troços como “shoppings populares”, em porto-alegrês, o mesmo que um monte de camelôs juntos. Nada contra os camelôs, eles têm de ter o seu espaço. Não no Cais do Porto.

O Cais há que ser da nata, da classe A. Os ricos, viva eles! Se tudo ali for bonito e arrumado, ali estará o dinheiro. E os menos favorecidos terão onde trabalhar e onde flanar, que eles flanam.

Os pobres de Paris decerto não freqüentam os restaurantes de três estrelas do Guia Michelin do Boulevard Saint-Germain, mas eles usufruem das belezas do Boulevard Saint-Germain, e de graça.

Difícil crer, mas os pobres também gostam de coisas boas. Por isso, queria um candidato que não tivesse preconceito contra o dinheiro. Um candidato que defendesse o luxo. A nata. Os ricos. Viva eles!

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