quinta-feira, 23 de outubro de 2008



23 de outubro de 2008
N° 15767 - PAULO SANT’ANA


Engarrafou total

Não entendo como os candidatos a prefeito de Porto Alegre não se fixam sobre o maior problema estratégico da cidade: a ameaça de colapso na circulação de veículos pelas principais avenidas da Capital.

A cidade já está engarrafada.

As avenidas que ligam os bairros estão completamente congestionadas, é impossível dirigir-se da Zona Sul para a Zona Norte – e vice-versa – sem topar com imensos engarrafamentos.

Quem vem da Zona Sul e quer fugir do engarrafamento da Avenida Ipiranga, tenta desviar para a Avenida Independência, mas lá depara com engarrafamento irritante.

Perguntem aos taxistas, eles que são os maiores sacrificados por este entupimento geral da superfície da cidade: dirão que não existe mais horário de pico para engarrafamento, todos os horários se pervertem em engarrafamentos.

O trânsito na Avenida Assis Brasil virou um tormento em qualquer horário do dia, a Protásio Alves é um cenário de depressão do trânsito, suas duas vias estreitas de escoamento completamente sufocadas. E quem for tentar usar a Avenida Ipiranga para fugir da Protásio Alves acaba passando pelas mesmas atribulações.

O túnel da Conceição virou um descalabro, tendo como ponto dramático principal a esdrúxula localização da estação rodoviária.

Qualquer especialista em trânsito se obriga a prever que nos próximos tempos a cidade sofrerá um sério e perverso colapso na circulação.

Não se diga que esta é uma visão elitista da catástrofe de trânsito que nos ameaça. Poderá se alegar que esta é uma questão que afligirá – e já aflige – apenas os proprietários de carros.

Nada disso, todas as camadas sociais sofrem e sofrerão com o problema. Os pobres e os de classe média baixa, por sinal, sofrem e sofrerão mais do que os outros. Porque não havendo metrô, os ônibus e lotações engarrafam junto os carros.

E já há pessoas que residem em Viamão, Guaíba, Cachoeirinha, Gravataí, Canoas, Sapucaia, Esteio e outros municípios da Grande Porto Alegre que estão gastando diariamente de quatro a cinco horas para ir e voltar para suas casas, somente em transporte coletivo.

Some-se a esse suplício de cinco horas de transporte o horário de trabalho dessas multidões e registre-se que as autoridades precisam imediatamente se debruçar sobre a aflição dessas populações e tomar medidas que amenizem seu sofrimento.

Em seguida terá de se tomar a medida drástica de só permitir o tráfego de placas pares num dia e impares no outro, o que talvez o transporte coletivo não possa suprir, sendo ainda injusto para as pessoas, que se transformarão em cidadãos viários pela metade, pagando no entanto impostos integrais sobre seus veículos.

Serão necessárias medidas profundas de mudanças de hábitos das empresas comerciais, dos serviços, da indústria, das repartições públicas e dos estabelecimentos de ensino para diversificarem seus horários.

Ocorre que a cidade funciona só 12 horas das 24 horas do dia. Notem que à noite o trânsito funciona com serenidade. Por quê? Porque nada funciona à noite. Pois vai ter que funcionar.

Todo o engarrafamento se dá entre 7h e 19hs. Simplesmente porque todos se atiram às ruas para trabalhar, estudar e serem atendidos pelos serviços somente nestas 12 horas.

Não vai poder ser assim. Em vez de dois turnos de atividade, manhã e tarde, compreendendo só 12 horas de trânsito intenso, teremos de implantar três turnos de atividades, com 18 horas de trânsito mais movimentado mas diluído, o que desafogará as vias de circulação.

Terá de haver uma revolução no trânsito e na vida das pessoas. E o preço a se evitar será uma cidade inviável, inteiramente sufocada no trânsito e com colapso total em seu metabolismo.

Soou o alarma. É preciso desde já arregaçar as mangas para evitar o desastre de paralisação total da capital dos gaúchos.

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