quinta-feira, 30 de outubro de 2008



SENSO DE HUMOR

– Parem com as piadas. A crise é séria. Muito séria. Temos uma crise mundial de conseqüências devastadoras. – Não estamos rindo, Henrique Meirelles. São nossos dentes batendo de medo de ter que trocar Miami pelo Rio.

– Bom, confesso, no meu caso, eu estava rindo de uma piada sem graça. Na lápide de Marx estaria escrito 'quem ri por último, ri melhor'. É idiota. Mas faz rir. Não? – Não acho graça alguma nisso – diz Meirelles.

– É, eu também não. Mas, se me permitem certa fraqueza e franqueza, estou me lembrando de todos os pacotes econômicos que apresentamos com um sorriso enquanto boa parte da população não achava graça alguma naquilo. – Sim, lembram quando o Collor confiscou a poupança e nós apoiamos?

É claro que eu pude tirar meu dinheiro antes. – Não sejam patéticos. Uma coisa nada tem a ver com a outra. Essas crises são inerentes ao sistema capitalista. – Pode ser. Mas não deixa de ser chato ter de recorrer ao Estado e dar tantos argumentos a esses esquerdistas chatos.

Vejam só o despautério do presidente da República querendo estatizar bancos e se tornar sócio de construtoras e de empreiteiras. Será que ele ainda não aprendeu que o Estado funciona mal na economia?

– Isso mesmo! O único jeito é nos ajudar com bons financiamentos, em nome do interesse geral, e deixar a gente tocar o negócio para evitar corrupção, incompetência administrativa e uma quebradeira geral. Henrique Meirelles ouve de cara amarrada.

– Sim, onde o Estado mete o bedelho, dá tudo errado. – É o que eu sempre digo: a que Estado chegamos.

– Chegamos a um Estado terrível em que, apesar dos lucros sempre crescentes dos nossos bancos, temos de mendigar ajuda estatal. Esse é um precedente terrível.

Depois esses esquerdistas vão querer se vingar nos fazendo pagar impostos que se perderão na cobertura das dívidas de uma máquina mal gerida, inchada e com expectativas artificiais. Não entendo os economistas que trabalham para o Estado, nunca acertam uma. É muita inépcia.

– Meirelles tem razão. Não dá mais para ficar ouvindo essas piadinhas de mau gosto sobre privatização de lucros e socialização de prejuízos. Isso é coisa de leigo, de quem não tem responsabilidade e não sabe o que diz. – Claro, evidentemente, estamos todos no mesmo barco.

– Sim, nós em iates e eles em jangadas e canoas. – Já disse para pararem com essas piadas idiotas.

– Desculpa, Meirelles, essa me escapou. É que, às vezes, sou daqueles que perdem o capital, mas não a piada. – Muito engraçadinho. Só que o nosso transatlântico está afundando. Somente a cooperação de todos vai nos salvar para que possamos retomar o espírito de competição e salvar os nossos salvadores pela livre iniciativa.

– É, precisamos de um máximo de Estado agora para garantir um Estado mínimo assim que a crise passar. – Talvez tenhamos de fazer muitas demissões agora e aprender a trabalhar no futuro com equipes muito menores.

– A saúde do capitalismo depende de mais produtividade e mais competividade com empresas enxutas e ágeis. – Como dizia Lênin, vamos dar um passo atrás para poder dar dois passos à frente. Eis o estado das coisas.

juremir@correiodopovo.com.br

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