sábado, 2 de novembro de 2019


02 DE NOVEMBRO DE 2019
RODRIGO CONSTANTINO

Aventura autoritária


Bolsonaro foi eleito com 57 milhões de votos. Nem todos, claro, a favor dele ou de sua agenda, pois muitos deram o voto útil contra o petismo. Mas há uma sólida base disposta a apoiar uma guinada mais conservadora nos costumes e liberal na economia. 

A agenda de reformas do governo é necessária, positiva. Há ministros talentosos, trabalhadores. A bandeira ética anda um tanto esgarçada com o caso envolvendo o filho senador, mas Sergio Moro ainda representa o “lava-jatismo” dentro do governo.

Em suma, o governo tinha tudo para unir a direita, carente de representação política, em prol de pautas comuns. A oposição já viria naturalmente do lugar esperado: partidos de esquerda, sindicatos, intelectuais e artistas, imprensa. Seria uma briga boa. Digo seria, pois não foi isso o que aconteceu.

O governo conseguiu criar enorme cizânia dentro da própria direita. Inventou oposição onde menos precisava.

A causa está na postura radical de uma ala bolsonarista, influenciada pelo filósofo de Virgínia. Essa ala é comandada por ninguém menos do que os filhos do presidente. Com mentalidade tribal e binária, de guerra permanente, eles investem em conflitos desde o começo, acusando todo crítico eventual de traidor, vendido ou comunista. Ou se adere totalmente ao “mito”, ou se é um inimigo.

Com tal método, foram afastando cada vez mais gente boa da direita, liberal ou conservadora. E o ápice se deu nesta semana, quando Eduardo Bolsonaro disse, numa entrevista, que resgatar o AI-5 do regime militar seria uma possibilidade se a esquerda partisse para a violência.

Nem o pai engoliu o despautério, e o filho teve de pedir desculpas. Mas não foi com sinceridade. Ele já deu vários indícios de realmente flertar com aventuras autoritárias, com um golpe de Estado em nome do combate ao comunismo. A narrativa vem do próprio guru: o líder “amado” pelo povo, contra o “sistema” podre, apoiado pelos militares. Se tem cheiro de fascismo, é porque parece mesmo. 

E, com tal boçalidade, os radicais conseguiram finalmente unir todos os moderados... contra o governo! Quem precisa da oposição assim?

RODRIGO CONSTANTINO

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