02 DE NOVEMBRO DE 2019
OPINIÃO DA RBS
RESPOSTAS PARA O ÓLEO VAZADO
Apesar da demora das autoridades brasileiras para responder ao vazamento de óleo que contamina as praias nordestinas, é elogiável o trabalho conjunto de investigação que levou a desvendar a provável origem do produto que causou um dos maiores desastres ambientais da história do país. Marinha, Ministério Público Federal (MPF), Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), Agência Nacional do Petróleo (ANP), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Polícia Federal (PF) começaram ainda em setembro a montar o intrincado quebra-cabeça, com uso de inteligência e tecnologia, até chegar ao navio de bandeira grega Bouboulina e deflagrar na sexta-feira a Operação Mácula.
Descoberta a embarcação suspeita, é preciso agora avançar na apuração e buscar outras respostas, como se a ocorrência foi acidental ou intencional e os motivos que teriam levado os responsáveis pelo navio a esconderem o vazamento do petróleo cru. Após serem apontadas as responsabilidades, será necessário acompanhar o processo a que certamente os causadores serão submetidos para que seja imposta uma penalização exemplar.
Ainda vai demorar para o país ter uma noção mais precisa da magnitude dos prejuízos e dos danos ambientais causados pelo derramamento de 2,5 mil toneladas de óleo que chegaram a quase 300 pontos do litoral de 98 municípios de todos os Estados do Nordeste. Praias, foz de rios e manguezais foram atingidos, com impacto severo para a fauna e a flora da região, causando também perdas para atividades econômicas importantes como a pesca, a maricultura e o turismo, além de risco à saúde das pessoas.
Espera-se agora que mais esta tragédia ambiental no país sirva de lição definitiva para o governo federal e demais órgãos que tratam do assunto. Situações do gênero não podem ser negligenciadas e as respostas têm de ser mais rápidas. É preciso lembrar que, apesar de as primeiras manchas terem chegado às praias no final de setembro, o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC) não foi acionado a tempo, o que levou o MPF, no dia 18 de outubro, a ingressar com uma ação contra a União exigindo a ativação da estratégia. A extinção do conselho que gerenciava o PNC e levou à descoordenação das ações também está cobrando o seu preço.
Em meio ao flagelo e à gestão atrapalhada da crise, deve ser enaltecida a corrente de solidariedade que se formou, com incansáveis voluntários, para limpar a sujeira das praias, somando-se a outras forças, como as do Exército. Um dos principais destinos do Brasil, o Nordeste e seu povo não merecem que os visitantes de outros pontos do país desfaçam seus planos de viagem para o litoral da região. Uma onda de cancelamentos de pacotes apenas agravaria a dramática situação de quem vive de receber turistas ou tira das cálidas águas do mar da região o seu sofrido sustento.
OPINIÃO DA RBS
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