terça-feira, 3 de setembro de 2019



03 DE SETEMBRO DE 2019
PORTO ALEGRE

Número de espaços comerciais para alugar duplica desde 2014

Somando salas, lojas e casas destinadas aos negócios, quantidade de locais vagos cresceu de 3.354 para 6.589 em cinco anos
Nos últimos cinco anos, quase dobrou o número de casas, lojas e salas comerciais desocupadas na Capital, segundo o Sindicato Intermunicipal das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Condomínios Residenciais e Comerciais no Estado (Secovi-RS). Somados os três tipos de espaços, há 6.589 locais vagos, contra 3.354 de cinco anos atrás (aumento de 96%).

O levantamento aponta que, em julho de 2014, 2.053 salas eram anunciadas pelas imobiliárias da Capital, saldo que subiu para 4.467 em julho de 2019 - crescimento de 117%. No mesmo período, o número de lojas sem locatário ampliou- se em 79% (de 1.010 para 1.808) e o de casas comerciais variou 7,9% (de 291 para 314).

Presidente do Secovi-RS, Moacyr Schukster atribuiu a situação à economia no país.

- Sem emprego, as pessoas não têm dinheiro. E, sem dinheiro, não gastam. Sem confiança em se estabelecer, o empreendedor não tem coragem de ir adiante, de alugar um espaço ou abrir filial - afirma, acrescentando que "há esperança" na retomada e que "negócios imobiliários continuam a se realizar", mesmo em menor número.

O professor de Economia da UFRGS Marcelo Portugal vai na mesma linha: afirma que o Brasil está "andando de lado" desde o aprofundamento da crise em 2014 e os negócios ainda sentem os reflexos.

Coworking

Em Porto Alegre, de 2014 a 2017, 28.986 empresas deixaram de operar, contra 20.622 que se instalaram ou abriram filiais na Capital. Os números referentes aos alvarás voltaram a crescer em 2018, quando 15 mil empresas tiveram licença expedida, contra 8.746 baixas. Essa mudança de perspectiva deixa esperançoso o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Eduardo Cidade. Ele pondera que o número de imóveis vagos está relacionado ao enxugamento das estruturas das grandes corporações.

- Os bancos privados antes tinham várias regionais e agora tudo está em local único, reduzindo o número de imóveis utilizados - ressalta o secretário.

Na última semana, a Ford anunciou o fechamento de um escritório na Avenida Carlos Gomes. O atendimento às concessionárias passará a ser concentrado em São Paulo. Também entre 2014 e 2017, 300 CNPJs foram desligados, ante 158 emitidos, na Avenida Carlos Gomes.

- Grandes empresas estão nos deixando. A tecnologia também eliminou empregos - reforça o presidente do Secovi-RS.

Para além dos números da economia, há mudança de comportamento por trás do aumento de imóveis comerciais desocupados. O trabalho exercido em casa - home office - e os escritórios compartilhados - coworking - impactam nos dados. É o que o presidente Schukster chama de "reflexo de novos tempos". No bairro Moinhos de Vento há quatro anos, a Upworks oferece cinco salas privativas, de seis metros quadrados a nove metros quadrados, com capacidade de reunir até três pessoas. De acordo com o proprietário, João Carlos Saba, 80% do espaço está ocupado:

- A procura de quem vem aqui é para reduzir custos, encontrando estrutura pronta. Há desde jovens a aposentados ou empresários que desistiram de ter sala própria, abrindo mão de ter de fazer reformas ou investimento em mobiliário.

Com R$ 1,4 mil mensais, quem procura a empresa tem internet, água, luz e telefone, além de limpeza e manutenção inclusos. Outro local com espaços colaborativos é a Vox Coworking, no bairro Rio Branco.

- As pessoas comentam que aqui chega a ser até um terço do valor, pois não têm de arcar com IPTU, recepcionista e mobília. Chegam e trabalham - afirma o empreendedor Nei Nadvorny, 58 anos.

TIAGO BOFF

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