21 DE SETEMBRO DE 2019
CARPINEJAR
Não me despeço
Quando abandono uma festa, nem me despeço de ninguém. Acho mais elegante não chamar atenção. Depois mando mensagens aos amigos para prevenir preocupações. Porque, se digo tchau com um abraço em cada um dos meus conhecidos, soa um alarme de que é tarde. Sempre tem alguém que diz que também precisa acordar cedo.
É um escândalo desnecessário. Pretendia sair de fininho, sozinho, e crio um motim nos indecisos. Provoco uma debandada geral. Fico como o estraga-prazer da alegria da turma. Parece que chamei os comparsas de volta para a realidade do trabalho e dos compromissos.
Há um contágio no adeus que faz todo mundo se precipitar em encerrar a noite mais cedo. Quem dançava já pega a sua comanda. Quem beijava alguém já ajeita a roupa novamente. Quem bebia cerveja já pede uma garrafinha de água.
Sempre estrago o clima com a sobriedade da partida.
Quem já não sofreu esse constrangimento num jantar na casa de um colega? Ser o primeiro a ir embora é como uma censura para a loucura dos outros. Gera um mal-estar. As conversas altas encontram um desconfortável vácuo. O anfitrião tenta abafar a cena com o "ainda é cedo", mas não adianta nada.
Quando um parte, a maioria se sente na obrigação educada de partir. Ativa-se a contagem regressiva para o fim do encontro.
Para não influenciar os convidados, nem aceno quando é hora de sair. Apenas saio à francesa.
A mesma mentalidade e etiqueta mantenho na web. Nunca avisarei um autor que vinha seguindo que me desligarei de sua página por alguma discordância. Não usarei chantagens em comentários, não farei birra pública de descurtida, não demonstrarei o meu descontentamento com ofensas.
Quem faz isso quer criar uma corrente, quer companhia para a sua evasão, quer produzir atritos e desconforto. É uma liderança do mal, um agente da fofoca. Parte da ideia equivocada de que é um cliente e não teve as suas expectativas atendidas.
Redes sociais são amizades, não serviços. Assim como um artista ou personalidade não é propriedade de seus fãs. Qualquer usuário tem o direito de emitir a sua opinião, entendo perfeitamente o democrático espaço de pluralidade. Escolhi estar ali, não fui obrigado a entrar, nem deve existir prestação de contas no desenlace.
Não usarei a minha saída como protesto, como se ele tivesse a obrigação de me contentar e pensar igual. Sigo silenciosamente e deixo de seguir, e volto quando desejo também sem alarde. Cada um sabe de si e da duração de seu prazer.
CARPINEJAR
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