segunda-feira, 9 de setembro de 2019


09 DE SETEMBRO DE 2019
CÍNTIA MOSCOVICH

Uma biografia do Mal


Livro daqueles que param em pé, com suas 634 páginas bravamente traduzidas para o português por Berilo Vargas, O Imperador de Todos os Males: Uma Biografia do Câncer (Companhia das Letras) foi sucesso de vendas mundial em 2011 e rendeu a seu autor, o oncologista indiano-americano Siddhartha Mukherjee, o Prêmio Pulitzer.

Quem teve o privilégio de assistir Mukherjee no ano passado em sua conferência no Fronteiras do Pensamento aqui em Porto Alegre entende bastante bem os motivos do sucesso: o médico tem a capacidade de tornar inteligível, e até atraente, um assunto muito complicado e, por definição, desagradável. Lê-se o livro como um thriller de suspense, um romance de aventura e, em muitos casos, uma história de terror.

Trabalhando como professor assistente na Universidade de Columbia, em Nova York, o autor consegue escrever uma biografia - chamemos assim - da doença, percorrendo quatro mil anos de ciladas e ardis, baseando sua narrativa em farta pesquisa e em relatos de casos - o volume abre com a história de uma paciente de leucemia, talvez o mais clássico de todos os tipos de câncer e o primeiro tipo que se tentou vencer.

Contada desde o ponto de vista de um médico que trabalha em um país em que a pesquisa científica e o combate à doença puderam se desenvolver de forma extraordinária pelo menos nos últimos 70 anos - é simplesmente inimaginável que o mesmo pudesse ocorrer no Brasil -, a luta contra o câncer, mais do que se limitar aos laboratórios e hospitais, foi também uma luta que se travou (e que se trava) na mídia, no ativismo político e nos salões da chamada elite. Em uma sociedade organizada aos detalhes e na qual a contribuição de empresários para a comunidade é sempre bem-vinda e incentivada, a filantropia revelou-se essencial aliada não só para o financiamento das pesquisas mas também para o difícil trabalho de conscientização e de prevenção.

Falando em filantropia: a partir de R$ 25, todos podem ajudar a pesquisa contra o câncer na América Latina. O projeto Cura, vinculado ao Latin American Cooperative Oncology Group, faz um lindo trabalho. A doença é terrível, mas todos juntos somos muito mais.

CÍNTIA MOSCOVICH

Nenhum comentário: