19 DE SETEMBRO DE 2019
OPERAÇÃO NA BOLSA
Preço trava venda de ações do Banrisul
Governo do Estado comunicou mudança no cronograma de oferta. Para especialistas, há dificuldade em alcançar expectativas de arrecadação
As mudanças no plano do governo do Estado de venda de ações ordinárias (com direito a voto) do Banrisul indicam dificuldades para alcançar as expectativas do governador Eduardo Leite com a operação. Em fato relevante divulgado na madrugada de ontem, o banco confirmou a alteração no cronograma do processo e reduziu o número de papéis ofertados. Para especialistas, a dificuldade em atingir o preço esperado é o principal motivo por trás das modificações.
O Palácio Piratini informou que a liquidação das ações foi adiada para segunda-feira. Inicialmente, a indicação era de que o processo terminaria amanhã.
- A leitura é de que a oferta não está atraindo tantos interessados. Isso também frustraria as expectativas de preços. O governo está com a corda no pescoço e precisa pagar suas contas - comenta Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, que defende a privatização do Banrisul.
No dia 9, o governo comunicou a intenção de vender 96,3 milhões de ações ordinárias, mantendo o caráter público do banco. Levando-se em conta o valor aproximado de R$ 23 por papel (nível na ocasião), o Piratini projetava arrecadar cerca de R$ 2,2 bilhões. Ontem, comunicou a redução no número de ações ofertadas para 71,3 milhões, mas deixou aberta a possibilidade de elevar o volume até o limite inicialmente previsto. Agora, as projeções indicam receita entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,5 bilhão.
Estratégia
O Piratini não se manifestou sobre o que motivou o adiamento. Analista da agência de classificação de risco Austin Rating, Luis Miguel Santacreu lembra que o mercado financeiro viveu, nos últimos dias, momentos de turbulência.
- O governo precisa de recursos, não dispõe de muito tempo. A questão é que o mercado viveu certa turbulência, com debate sobre o nível do juro no Exterior, guerra comercial entre Estados Unidos e China - diz.
A decisão de levar o negócio adiante é criticada pelo ex-presidente do banco Mateus Bandeira, adversário de Leite no pleito de 2018, e por um grupo de deputados de diferentes partidos. Hoje, esses parlamentares planejam lançar um manifesto contra a negociação.
A decisão de vender ações do Banrisul não é nova, mas o formato escolhido e os recentes desdobramentos indicam mudanças em relação a ofertas anteriores. A razão disso - embora o Piratini não se manifeste - é viabilizar dinheiro o mais rápido possível para desafogar o caixa, quitar salários e criar condições para o envio de projetos indigestos à Assembleia.
Entre as propostas, estão mudanças nos planos de carreira dos servidores, cortes de benefícios funcionais e alterações previdenciárias. Nos bastidores, a avaliação é de que não há clima para aprovar tais medidas se os contracheques do Executivo seguirem parcelados. Além disso, Leite se comprometeu, nas eleições, a regularizar os pagamentos até o fim de 2019.
Em 9 de setembro, quando anunciou a intenção de vender ações, o governador optou por restringir a proposta a investidores profissionais, diferentemente do que fez José Ivo Sartori.
Isso significa que pessoas físicas que não atuem como gestores autorizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou que não tenham R$ 10 milhões em ativos estavam impedidas de participar. A opção reflete a urgência do governo por recursos.
- A oferta restrita acaba facilitando o processo, porque há menos exigências regulatórias. É uma maneira de chegar mais rápido ao recurso - explica o analista-chefe da Geral Asset, Carlos Müller.
Ainda assim, Leite mantinha ontem a operação, ao contrário do que fez Sartori, quando desistiu em 2017, por "condições desfavoráveis".
- Não lembro de outra ocasião em que uma oferta desse tipo tenha sido postergada - diz Müller.
JULIANA BUBLITZ E LEONARDO VIECELI
Nenhum comentário:
Postar um comentário