segunda-feira, 16 de setembro de 2019


16 DE SETEMBRO DE 2019
ARÁBIA SAUDITA

Duelo de ditaduras

O ataque com drones a refinarias sauditas traz embutida uma mudança de patamar nos conflitos internacionais, na qual equipamentos baratos podem causar danos altíssimos. Os aparelhos acrescentaram um toque de pós-modernidade à guerra assimétrica - aquela na qual parafernálias do nosso dia a dia são usadas como armas, capazes de provocar prejuízos contundentes ao inimigo: eram assim as ações dos vietcongues nos túneis de Cu Chi, foram assim os atentados de 11 de setembro de 2001, com aviões comerciais utilizados como mísseis, e é assim com lobos solitários que lançam caminhões contra pedestres na Europa.

A ação muda de patamar também a guerra por procuração travada entre o Irã (apoiado pela Rússia e que financia os houthis) e a Arábia Saudita (que recebe armas dos EUA). O pano de fundo é a nova velha Guerra Fria, em que o pobre Iêmen virou campo de tiro livre para as duas potências regionais - Arábia Saudita e Irã -, marionetes nas mãos das megapotências globais.

Até agora os houthis haviam se limitado a ataques de pouco impacto: bombardeios localizados, o mais ousado contra um aeroporto saudita. Agora, não. O alvo foi o coração da economia do país, governado por uma tirania religiosa apoiada pelos americanos que tem no truculento príncipe Mohammed bin Salman sua figura mais conhecida.

MBS, como é conhecido, é suspeito de estar por trás do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, do The Washington Post, na embaixada saudita em Istambul. É a figura mais ocidentalizada do reino: aparece na tribuna de jogos de futebol na Europa, permite que mulheres dirijam no país, em busca de construir uma imagem liberalizante, mas que, na verdade, domina com mão de ferro a mais cruel ditadura árabe, que viola direitos humanos no país e no Iêmen.

O Irã, que apoia os houthis, não fica atrás em termos de crueldade. Os persas usam os rebeldes xiitas no Iêmen para projetar poder sobre a região no momento em que são pressionados pelos EUA em razão da ambição nuclear.

O ataque complica ainda mais o xadrez do Oriente Médio porque ocorre às vésperas da eleição israelense, prevista para amanhã. Uma vitória de Benjamin Netanyahu, na visão dos fundamentalistas islâmicos, pode significar, a médio prazo, o fim do regime iraniano.

RODRIGO LOPES

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